O fernandopolense João Gimenez Barciela Marques, 65,assumirá a partir de janeiro o cargo de coordenador nacional do Movimento do Cursilho da Cristandade. Ele foi eleito no dia 1º, para um mandato de três anos. Contador de profissão, casado com Marisa Aparecida Carareto Marques, pai do engenheiro Alessander, do jornalista Fabrício (editor do jornal Diário da Região, de Rio Preto) e de Andressa, formada em odontologia e atualmente estudante de medicina, e avô de Fabrício, Pedro, Lorena e Rafael, Barciela é um incansável militante do movimento católico – desde a década de 1970, quando ele e Marisa passaram a integrar o trabalho da igreja. Sereno e bem informado, Barciela é desses “leigos” que valem por uma ONG. O fato de sua posse transformar Fernandópolis, pelo menos por três anos, numa espécie de “capital” do Movimento do Cursilho da Cristandade não o envaidece: ao contrário, essa é a menor de suas preocupações. Nesta entrevista, Barciela fala de seus temas prediletos: catolicismo, fé, família e crescimento pessoal.
CIDADÃO: Qual foi o cargo que você assumiu no movimento de Cursilho no Brasil?
BARCIELA: Fui eleito coordenador nacional em 1º de dezembro, durante o congresso do Movimento de Cursilho (quando se celebrou 50 anos do movimento no Brasil). Esse é o cargo maior do Cursilho, que no Brasil tem três níveis: nacional, regional (conforme a divisão da CNBB, são 21 regionais) e o nível diocesano, que hoje são 160. Esse é o cargo maior no Brasil. Em nível mundial, estamos em 60 países. Em novembro do próximo ano, haverá um encontro mundial na Austrália. Há quatro grandes grupos no mundo: o europeu, o latino-americano, o americano e caribenho e a Ásia e Pacífico.
CIDADÃO: Conceitualmente, o que é esse movimento?
BARCIELA: Trata-se de um movimento da Igreja Católica, que se iniciou na Espanha na década de 40. Com a grave situação mundial por conta da guerra, ele ficou um pouco “apagado” durante algum tempo, mas em 1948 ele ressurgiu no grupo Juventude da Ação Católica, durante uma peregrinação de 80 mil jovens a Santiago de Compostela. Esses jovens tiveram que passar por uma preparação, e quando voltaram, entusiasmados pela experiência vivida, tiveram a preocupação de dar continuidade àquilo. Motivado por isso, Dom Ervaz, da Ilha de Mallorca, assumiu esse compromisso e reiniciou o Cursilho, que em espanhol significa pequeno curso. Era uma preparação para a romaria, para a reflexão. O Cursilho foi se firmar mesmo como movimento de igreja a partir de 1952. Aí, em 1962, um grupo de espanhóis se deslocou da Espanha até o Brasil e, na Semana Santa daquele ano, na cidade paulista de Valinhos, aconteceu o primeiro Cursilho no Brasil, destinado apenas a espanhóis aqui residentes. O Segundo foi em Moji, e assim por diante – até que em 1973 chegou à nossa Diocese. Destaque-se que esse é um movimento que começou com jovens.
CIDADÃO: Cursilho significa “um cursinho de pequena duração” – só que você está no movimento há várias décadas...
BARCIELA: Na verdade, o movimento, por ser de igreja, tem três fases: preparação ao Cursilho, o Cursilho em si, que durava três dias, mas, devido às dificuldades das pessoas de se dedicarem exclusivamente ao encontro por três dias seguidos, passou para dois dias; e tem o pós, que a gente chama de “quarto dia” – esse não termina jamais. Opequeno curso são os três dias reativos, quando os participantes se retiram, recolhendo-se dentro de uma metodologia, a um esquema responsável por dar o primeiro anúncio. O Cursilho tem um método próprio, chamado querigmáticovivencial. É o primeiro anúncio, e busca batizados afastados e líderes na comunidade. Quantos católicos que foram batizados e vão à Igreja esporadicamente? O objetivo é buscar esses batizados afastados, levando-os a um retiro, onde se reforça a proposta de reaproximação da igreja. É um chamamento. Ir atrás de quem já está próximo da Igreja é como pescar num aquário. Temos que pescar em águas mais profundas. Hoje impera a teologia da prosperidade...
CIDADÃO: Individualismo e hedonismo...
BARCIELA: Pois é. O objetivo do movimento é esse – resgatar valores adormecidos em católicos afastados. E também se volta para os jovens.
CIDADÃO: Parece que o fato de você, um fernandopolense, assumir o cargo de coordenador nacional do movimento, transforma Fernandópolis em capital ou sede do Movimento Cursilhista, não é?
BARCIELA: Na verdade, isso não me preocupa, até porque nunca passou pela minha cabeça chegar um dia a esse cargo. Já exerci a coordenação na Diocese – neste sábado (hoje) vou entregar a coordenação regional depois de seis anos. Poucas pessoas sabem que ainda estou coordenador. O regional coordena oito dioceses – Jales, Rio Preto, Catanduva, Barretos, Ribeirão Preto, Jaboticabal, Franca e São João da Boa Vista. Entregarei o cargo para assumir a coordenação nacional em janeiro. Sempre procurei fazer esse trabalho com humildade, coerência e dando testemunho de vida. Nosso nome surgiu no ano passado, numa assembleia em Campo Grande. Minha vice é de Itabuna (BA), e o nosso assessor eclesiástico, escolhido numa lista tríplice pela CNBB, é o Padre Chico, de Santa Maria (RS). A estrutura é bem ampla, com 21 regionais. Só em três estados o movimento não está implantado. Mas, não deixa de ser um destaque para Fernandópolis e para o nosso regional, que é o Regional Sul, da Arquidiocese de Ribeirão Preto, à qual pertencemos. É um cargo de extrema responsabilidade, e isso nos preocupa muito. As realidades num país tão grande são contrastantes, inclusive no sentido religioso. Sabemos dos desafios que a Igreja Católica enfrenta hoje, só que não estamos tão preocupados com os católicos que deixam a religião, e sim com aqueles que estão aqui. Estes esperam uma palavra, uma acolhida.
CIDADÃO: Com tantos anos de militância no movimento católico, fazendo um trabalho também de reflexo social, como isso refletiu na sua família e na criação e formação de seus filhos? Valeu a pena?
BARCIELA: Sem dúvida. Meus filhos, na realidade, já nasceram quando eu estava iniciando no movimento, e sempre caminharam conosco. Sempre tive o apoio de minha esposa, e agora, nora, genro, netos, todos apoiaram essa decisão. A par da minha vida profissional, vivo a igreja intensamente desde o início da década de 70, e dou graças a Deus por esse movimento. É uma caminhada que vale a pena, e isso me ajudou muito na educação dos filhos, com serenidade e respeito, que é uma coisa que falta no dia de hoje. Foi uma escola na qual continuo, e afirmo que levo menos do que trago dos nossos encontros e reflexões. É como uma viagem ao exterior, quando a bagagem volta mais cheia do que foi, por causa dos presentinhos para a família. Trazemos desses encontros vários presentes, na forma de crescimento pessoal.