Rudigol: o capitão-artilheiro volta em 2013

20 de Agosto de 2025

Compartilhe -

Rudigol: o capitão-artilheiro volta em 2013
O novo presidente do Fernandópolis Futebol Clube, Cleiton Martins Ferraz, apostou no carisma do atacante RudimarPrunzelHorlle para comandar dentro de campo o time que disputará o campeonato da 2ª Divisão em 2013. Rudimar terá que fazer tratamento de uma inflamação na região pubiana e por isso já retornou a Fernandópolis, depois de dois meses no Rio Grande do Sul, onde vive sua família. O gaúcho de São Pedro do Sul – “alemão de pai e mãe”, como diz – tem na verdade o temperamento latino dos italianos. Apaixonado pela torcida do Fefecê e pela cidade, Rudimar recebe o troco com juros e correção monetária – é adorado pela torcida, que o chama de “Rudigol”, e respeitado por dirigentes e colegas de profissão. Para seu ex-técnico Roberto Assis, só falta a Rudimar “ser ambicioso” para jogar num time grande: “Futebol ele tem”, garante o treinador.  

 

CIDADÃO: Você já se situa entre os grandes ídolos do Fernandópolis Futebol Clube, como Tato e Soares, sendo respeitado tanto pela torcida quanto pelas diretorias que passaram pelo clube. O que isso representa para você?

RUDIMAR: Tudo aquilo que você faz começando pelo caminho certo, acaba terminando certo. Outro lema que respeito é: faça as coisas corretas fora de campo que tudo vai dar certo dentro de campo. Jogador de futebol tem que entender que é uma pessoa comum, que deve respeito à hierarquia e que tem que respeitar os limites. Muita gente acha que, por jogar futebol, que é uma paixão do brasileiro, pode fazer o que quiser. A torcida do Fefecê tem muitos torcedores de 70, 80 anos de idade. Temos que respeitar esse torcedor, e a melhor forma de fazer isso é agindo com profissionalismo. Esses torcedores tiveram o privilégio de ver o Fefecê num nível bem mais alto, e também já sofreram ao ver o time em situação de quase fechar as portas. De um jeito ou de outro, eles nunca deixaram de apoiar, de comparecer aos jogos e treinos e de torcer com devoção. Eu já tenho uma relação de quatro anos com essa torcida, e graças a Deus e aos meus pais, que me deram boa educação – sempre agradeço por tudo o que fizeram por mim – consigo manter um bom relacionamento com a nossa torcida. Quando vamos jogar fora de casa, somos vaiados, xingados. Mesmo assim, nunca fiz um gesto ofensivo qualquer para essas torcidas. A conduta do atleta tem que ser correta primeiramente fora de campo. Só assim esse atleta, no dia em que não está bem na partida, enfim, que não está inspirado, continuará merecendo o respeito do torcedor. Acho que é essa atitude que sempre me garantiu um bom relacionamento e o respeito dos fernandopolenses. Muitas vezes, o salário não é o mais importante. Fernandópolis é uma cidade da qual gosto muito, eu sempre disse isso. Meu sonho é sair do Fernandópolis e ir para um time grande, para depois voltar e encerrar a carreira no Fefecê. Não sei se isso será possível, mas vou lutar para realizar esse sonho, sempre respeitando todo mundo.

CIDADÃO: Você terminou o campeonato deste ano na base do sacrifício, já que estava com uma contusão séria. Mesmo assim, fez gols decisivos, nos 60 ou 70 minutos que aguentava ficar em campo. Como você está hoje, clinicamente?

RUDIMAR: Como disse ao presidente Cleiton (Ferraz), fiquei estes dois meses fazendo fisioterapia. Só que se trata de um tratamento não para quem pratica esporte, e sim para pessoas de vida normal. Isso dificulta a recuperação de quem pratica um esporte de alta competição como é o futebol de hoje. Então, o Cleiton prometeu bancar o tratamento. Cheguei terça-feira, dia 27, e no dia seguinte já fiz uma ressonância magnética para que o médico possa avaliar o quadro. Quero agradecer a força que o Cleiton está me dando, e torço para que ele consiga sucesso na presidência do clube e possa contar com o apoio da comunidade.

CIDADÃO: Uma coisa marcante do campeonato deste ano foi a sua atitude diante do gesto de um torcedor idoso, homem simples, que havia prometido R$ 100 pelo gol que você marcou numa partida decisiva contra o Olímpia. Ele mora na zona rural e só pôde ir entregar o prêmio na partida seguinte, contra o Novorizontino, jogo que o Fefecê perdeu. Você não quis receber o dinheiro, porque estava arrasado pela derrota e achava que não merecia. Gestos de carinho como o desse torcedor pesaram na sua decisão de voltar?

RUDIMAR: Bem, o respeito nós temos que ter com todos os torcedores. O que aconteceu aquele dia foi incrível: mesmo com a derrota, ele se aproximou do alambrado para me dar o dinheiro, provando sua honestidade e que é um homem de palavra. Só quem estava ali, naquele momento, pôde sentir a dimensão do gesto. Eu me recusei a receber e ele começou a chorar. Aquilo me emocionou muito. Veja, tive proposta para jogar no Votuporanguense, só que minha vontade era mesmo defender o Fefecê, ainda que na 2ª Divisão, porque minha maior tristeza em 2012 foi não conseguir o acesso. Sabia que tínhamos condição. Nosso time era um pouco fraco, mas dava pra subir, porque o nível do campeonato permitia isso. Teve jogos, como o de Novo Horizonte, em que eles nos “engoliram” em campo e venceram por 2x1; aqui, porém, nós é que os “engolimos”, mas perdemos por 1x0. Atribuo isso a falhas ocorridas fora de campo. Um dos fatores da minha volta, sem dúvida, é esse amor por Fernandópolis. Fui criticado no Capivari por sair de um clube que iria disputar a A-2 para jogar num clube da antiga Série B. Só que fiz uma escolha. Se Deus quiser, ainda vou jogar num time grande e voltar ao Fefecê para encerrar a carreira.

CIDADÃO: Como foi a negociação com o Votuporanguense?

RUDIMAR: Eu conheço bem a situação do Fefecê. Tanto que, mesmo sabendo que, ao final do campeonato, o clube tinha a obrigação de me proporcionar tratamento médico, eu pedi para assinar a rescisão, porque sabia que o Soares não teria condições, naquele momento, de arcar com as despesas do tratamento. Aí, fui procurado pelo CAV, e a primeira coisa que disseram foi que bancariam esse tratamento. Queira ou não queira, a gente tem que aceitar certas situações na vida. Por isso, o Votuporanguense merece o meu respeito. Antes de falar em salários, eles se ofereceram para me curar. Eu lhes disse: “Se meu empresário não interferir em nada, eu acerto numa boa”. Tenho compromisso com o empresário até julho. Até que um dia esse empresário disse que não queria que eu fosse para o CAV. Soube que alguns dirigentes de lá me criticaram, mas eu não vou retrucar. Respeito o CAV. Bem, aí, o Cleiton me ligou convidando para disputar o próximo campeonato, e também me ofereceu o tratamento médico. Não pensei duas vezes, porque voltaria para o lugar de que gosto e ainda ganharia a cura. Meu acerto provavelmente foi o negócio mais fácil que o Cleiton fez na vida! (risos). Quando a gente está trabalhando onde gosta, a situação é outra. Mesmo assim, reafirmo meu respeito pelo Votuporanguense.

CIDADÃO: O que o levou a propor aos jogadores a compra de cestas básicas para o Orfanato de Fernandópolis, com o dinheiro da “caixinha”?

RUDIMAR: Quem joga no Fernandópolis sabe que não vai ficar rico, porque ganha um salário igual ao de uma pessoa que trabalhe numa loja, por exemplo. Só que é muito provável que uma criança que está abrigada num orfanato não tenha tido na vida nem mesmo carinho. Assim, concluímos que poderíamos, nem que fosse só por um dia, ajudar aquelas crianças, levando as cestas e também o nosso carinho. Repito: faça as coisas certas fora do campo, que dentro dele tudo vai dar certo. E Deus nos abençoou em muitos momentos. Cada atraso de um minuto dava multa para a caixinha. Ora, decidimos usar esse minuto de atraso para ajudar alguém lá fora. Já propus ao Cleiton criar algum projeto para ajudar crianças carentes neste Natal. Terei tempo para organizar isso, porque ficarei apenas fazendo tratamento nas próximas semanas. Quero unir os torcedores para levar alegria às crianças neste Natal.

CIDADÃO: Se dependesse da sua vontade, você jogaria em 2013 como centroavante ou segundo atacante?

RUDIMAR: Para mim, o que o treinador achar melhor eu acatarei. No Taubaté, joguei de centroavante; este ano, no Capivariano, joguei como atacante do lado. Até prefiro jogar de segundo atacante. Na véspera do jogo do Fefecêcontra o Grêmio Prudente, conversei com o técnico Roberto Assis e disse que a bola não estava chegando. Sugeri que escalasse o Izac e que eu fosse o atacante pelo lado. Fizemos uma grande partida, ganhamos de 3x0. Marquei dois gols. Infelizmente, logo em seguida o Izac cometeu aquela indisciplina e foi afastado com o Augusto. Não deu mais para eu mudar de posição.

CIDADÃO: Afinal, qual foi a lesão que você sofreu? É inflamação no púbis?

RUDIMAR: O médico disse que era um estiramento no reto-abdominal, que poderia levar a uma inflamação no púbis se eu seguisse forçando; e estava também com um estiramento no adutor longo. Acabei jogando cinco ou seis jogos nessas condições. Agora, a ressonância que fiz esta semana é que vai mostrar qual é o problema.