A história de infância e adolescência de muitos fernandopolenses está sendo enterrada em meio aos entulhos no Tênis Clube. Na manhã de quinta-feira, 25, o som das máquinas demolindo as dependências do clube que por anos fez a alegria de centenas de fernandopolenses, acordou os vizinhos do local que foi esquecido pela atual administração.
Promessas e mais promessas, mas de concreto, apenas a pedra fundamental do UPA – Unidade de Pronto Atendimento – lançada em 2010 pela atual administração (aliás, coberta de mato) saiu do papel. Essa pedra também será demolida, como todo o resto.
O imóvel passou a pertencer ao município em 2008, com o projeto de construção de um Centro de Excelência em esporte, mas o projeto não foi levado à frente pela atual administração e o Tênis Clube ficou abandonado, servindo apenas de criadouro de insetos, ponto de venda e uso de drogas e até de prostituição.
Agora, após ser leiloado pelo prefeito Luiz Vilar de Siqueira, o imóvel, um patrimônio histórico do município, pertence a um grupo formado por Sérgio Luis Rola, Adriana Andrade Macedo, Ricardo Alexandre Barbieri Leão e a Ciacor Distribuidora de Tintas, que foi representada por Edvaldo Messias Vilas Boas.
O leilão foi realizado na modalidade de maior preço por lote, com lance inicial mínimo de R$ 3,9 milhões, e arrematado por R$ 4, 015 milhões pelo grupo, que deverá efetuar o pagamento em quatro parcelas de R$ 1.003.750,00.
A HISTÓRIA PERDIDA
O Uirapuru Tênis Clube nasceu da fusão da ADF - Associação Desportiva de Fernandópolis - com o Uirapuru Clube de Campo e o Tênis Clube. Durante décadas, o clube foi uma grande referência social e esportiva da comunidade de Fernandópolis.
Quem é que não se lembra dos áureos tempos do Uirapuru Tênis Clube? Quadras lotadas, trampolim, bocha, da piscina “chambinho”, do atencioso senhor Bizelli... O riso das crianças, as famílias reunidas... dava até para ver do muro do clube a tradicional “paquera na avenida”.
O cheiro do “corinthiano” saindo quentinho do forno, as filas para usar as mesas de ping-pong e de pimbolim... O parquinho, as brincadeiras, as gincanas, as competições aquáticas. E os tradicionais bailes de carnaval? Tudo agora está perdido em meio a escombros.
FALÊNCIA DO CLUBE
A decadência do clube começou nos anos 90, depois de sucessivos equívocos administrativos. Por conta de diversas ações trabalhistas a associação teve sua sede campestre praceada em hasta pública e em 1999 as atividades foram encerradas. A sede ficou abandonada, sem funcionários para manutenção.
PROMESSAS E MAIS PROMESSAS
Em 2009, quando ao atual prefeito assumiu, a prefeitura lançou em seu site a notícia de que “o Ministério do Esporte, através do deputado federal José Aníbal, liberou recursos de R$ 150 mil para o início da reforma da antiga sede esportiva do Tênis, que hoje pertence à prefeitura... o recurso será empregado no projeto que visa a adaptar o local para uso de escolinhas de futebol e demais modalidades, de forma que receba crianças e adolescentes para práticas esportivas em parceria com o Governo Federal. O espaço também será adequado para atender à demanda da terceira idade, garantindo melhor aproveitamento do espaço o ano todo”, mas o projeto foi abandonado.
Depois disso, a atual administração lançou em seu site a seguinte matéria: “A Prefeitura de Fernandópolis homologou nessa quinta-feira... o termo de contratação da empresa “Sparton Construções e Incorporações Imobiliárias Ltda.”, que vai construir a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Fernandópolis. A UPA será implantada na Avenida Raul Gonçalves, na antiga sede esportiva do Tênis Clube. O serviço começa a ser executado nas próximas semanas”.
Essas “próximas semanas”, não chegaram até hoje e agora nunca chegarão.
ANULAÇÃO DA VENDA
Os vereadores José Carlos Zambon, Cândida de Jesus Nogueira e Rogério Chamel estão pedindo a nulidade da venda do imóvel por conta de uma irregularidade ocorrida no dia em que a Câmara (pelos mesmos 7 a 3 de sempre) aprovou o projeto 91/2012 que autorizava a venda do Tênis Clube.
O projeto foi aprovado numa sessão extraordinária no dia 5 de julho, mas segundo os vereadores, a ordem do dia foi passada pela presidente da Câmara Creusa Maria de Castilho Nossa no dia 4 de julho com o projeto e o substitutivo, sem o parecer da comissão de constituição e justiça da Câmara, que foi dado apenas no dia seguinte, o que impediria que o projeto entrasse na ordem do dia 5.
Com isso, os vereadores pretendem a decretação de nulidade da autorização da venda do imóvel, pois a presidente da Câmara teria colocado o projeto em pauta por deliberação própria, sem os pareceres competentes.