Com a não-reeleição de Candinha, quem perde é a ética

20 de Agosto de 2025

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Com a não-reeleição de Candinha, quem perde é a ética

Em meio à alegria da vitória, era unânime um sentimento, entre os partidários de Ana Bim e Zambon: a tristeza pela não-reeleição da vereadora Cândida de Jesus Silva Nogueira, a Candinha. Essa mulher corajosa, que há anos luta contra um câncer – e que fez das fraquezas forças para ajudar a criar a AVCC em Fernandópolis – assumiu uma vaga na Câmara em 2008, pautada pela conduta ética e pela luta em favor dos doentes e carentes. Apesar de bem votada, Candinha não conseguiu a reeleição, mas deixou marcas importantes na sua passagem pelo Legislativo, como a Casa de Apoio Amigos de Fernandópolis, em Barretos. Mostrou denodo nos trabalhos de duas comissões processantes instauradas no ano passado, sofreu retaliações, como a exoneração de seu marido, de 64 anos, de um cargo na prefeitura. Nada disso desanimou a magérrima vereadora, porque Candinha parece tangida pela fé em algo superior. Uma coisa que, no Brasil de hoje, se torna cada vez mais abstrata: a ética. Do ponto de vista do marketing político, pode ser que, ao apoiar sua campanha eleitoral nessa palavra, Candinha tenha errado. Mas, no acerto de contas “lá em cima”, é provável que Deus a mande furar a fila, em respeito à sua atuação terrena. Perda de tempo: Candinha vai aguardar a sua vez, quietinha, respeitando o próximo, como é de sua natureza.

CIDADÃO: Passados doze dias das eleições, como é que você está se sentindo?

CANDINHA: Ainda cansada da maratona, que foi muito desgastante. Porém, estou muito feliz, porque a vitória de Ana Bim e Zambon foi a vitória do nosso povo, a população de Fernandópolis deu a si mesma um presente de Natal antecipado.

CIDADÃO: Mas você não conseguiu a reeleição, apesar de sua atuação destacada na Câmara. Assim, pergunto como você está, do ponto de vista pessoal.

CANDINHA: Veja: em 2008, obtive 944 votos. Agora, foram 614. Considero as duas votações muito expressivas, não é pouca gente.

CIDADÃO: Você acha que os problemas que a AVCC viveu nos últimos tempos acabaram por prejudicar a sua votação?

CANDINHA: Não creio que eu tenha sido prejudicada na questão de votos. Quem ficou prejudicado com as questões que envolveram a AVCC foram os doentes, que precisavam da instituição e viram o hospital da AVCC fechar as portas. A questão de votos é outra coisa. Como estava dizendo, 614 é muito voto, fui a mais votada do PSD, e todos que votaram em mim, pode ter certeza, o fizeram pela confiança na minha pessoa. Não ter atingido os 900 votos, certamente aconteceu porque muitos amigos nossos disputaram as eleições deste ano. Entrou muita gente nova, Nós percorríamos a cidade juntos, pedindo votos. Assim, a população dividiu os votos. Teve família que falou para nós que os dividiria, por causa da amizade comum com vários candidatos. Mesmo assim, quando a gente tem sonhos de viver numa cidade melhor, a felicidade veio, pela eleição da Ana e do Zambon. É um sentimento meio difícil de explicar, claro que eu gostaria de estar na Câmara, ajudando a prefeita, mas a verdade é que estou muito feliz. E tem o Chamel, não é? Ele volta à Câmara, para mim isso também é motivo de alegria.

CIDADÃO: Vamos falar do seu trabalho nesses 46 meses. Qual é o balanço possível do exercício da vereança nesse período?

CANDINHA: É muito difícil ser vereador. Quando fui eleita, achava que enfrentaria uma missão quase impossível, porque não me contento com fazer pouco, se as possibilidades estão à minha frente. Além disso, era oposição, chegava à Câmara sem o conhecimento necessário das atribuições do cargo. Aprendi que todo político eleito deveria passar por algum tipo de curso ou treinamento antes de assumir, fica a sugestão. Enfiei na cabeça que deveria lutar por Fernandópolis, e não gostava de ser considerada oposição, exatamente por isso. O senhor prefeito, em seus discursos, falava assim: “Tenho oito vereadores na Câmara!” Um dia, encontrei um amigo que é muito ligado a ele, e mandei o recado: “Diga ao senhor prefeito que na Câmara ele tem dez vereadores!” Queria dizer que não estava ali para fazer oposição sistemática, e que tudo que ele mandasse ao Legislativo que eu considerasse bom para o município, eu aprovaria – sem perder a independência política. Tivemos um relacionamento bom, mas a verdade é que, se você é considerado de oposição, não tem seus pedidos e indicações atendidos como se fosse um vereador situacionista.

CIDADÃO: Muita gente vê a exoneração do Jesus, seu marido, como uma retaliação da administração à sua atuação como vereadora.

CANDINHA: Eu me senti realmente perseguida. Gostaria de saber quais foram realmente as razões da dispensa do Jesus. Quando ele foi à prefeitura assinar a carta, estava escrito, como motivo: “falta de fidelidade”. Fidelidade com quem? O Jesus cumpria com suas obrigações, levantava cedo, ia trabalhar. Mas era cargo em comissão. O que revolta é que o Jesus tinha acabado de passar por uma cirurgia, estava de licença médica, e foi mandado embora. Estranhei muito, fiquei muito triste.

CIDADÃO: Nas suas andanças em busca do voto, o que você sentiu do povo de Fernandópolis, quanto à pessoa que sentaria na cadeira de chefe do Executivo?

CANDINHA: Você sabe que tenho problemas de saúde, mas Deus me deu forças e tivea felicidade de, ao lado do meu primo Valdir, que foi um grande companheiro na campanha, passar em todos os bairros de Fernandópolis. E, em todos os bairros, especialmente da periferia, sentíamos que dois terços queriam Ana Bim e Zambon. Em alguns lugares, as pessoas diziam que estavam esperando o prefeito aparecer para lhe entregar na mão dentaduras que não tinham condições de usar, coisas assim! Vi também muita pobreza, no sentido administrativo. Talvez seja melhor dizer carência: carência de asfalto, de saneamento. Tem lugares que você só chega a pé – isso, dentro do perímetro urbano! Você precisava ver a Ana Bim em campanha, ela tem um “pique” fantástico. Acho que depois da eleição o Zambon teve que descansar bastante (risos). Toda a turma emagreceu. A Ana tinha um grupo maravilhoso, e ela deve essa vitória também aos 76 candidatos que estavam ao seu lado. Só alguns não a acompanharam diretamente. A campanha na rua foi emocionante. Teve lugares em que todo mundo chorou de emoção. Senhoras idosas, que a abraçavam e pediam: “Dona Ana, ganhe a eleição e volte para consertar nossa rua!”. Ela simbolizava uma luz de esperança, naqueles instantes.

CIDADÃO: E qual é a expectativa da cidadã Candinha em relação à gestão da Ana Bim?

CANDINHA: Tenho certeza de que ela fará uma ótima gestão, porque, no pouco tempo que teve quando sucedeu o Rui Okuma, ela já deu mostras disso. Minha expectativa é de que ela melhore as condições de vida das pessoas carentes – não só com asfalto, coisas assim, mas também e principalmente em serviços importantes como atendimento médico, que está precário. Hoje, uma ressonância magnética chega a ser marcada para dali a dois anos. O AME, embora os vereadores não tenham obtido a informação de quantas especialidades estão sendo atendidas, não atua com capacidade máxima, ao contrário. Então, a Ana Bim terá muito trabalho pela frente, e muitas dificuldades, porque a dívida é enorme, ela vai ter que resolver isso. Espero também que o Zambon esteja sempre do lado dela, com sua experiência de homem público e seu conhecimento. O Zambon é muito ético, vai ser fundamental. Tenho certeza de que os dois agirão com muita honestidade e transparência. O povo quer isso.