O garoto Leonardo Pinheiro Batista tem apenas 17 anos e um bocado de histórias para contar. Um belo dia, quando estava na 7ª Série, um amigo o levou a conhecer o projeto “Os Sonhadores”. Logo Leonardo faria parte do grupo, onde aprendeu a tocar violino. Mais tarde, suas notas na escola – as melhores de todo o grupo – o transformaram de estudante da rede pública em aluno do Colégio Coopere, onde está atualmente no 3º Colegial. Filho de Edmilson Batista e de Cristiane de Fátima Pinheiro Batista, ele estará em São Carlos no dia 6 de outubro representando Fernandópolis – cidade em que nasceu – na Olimpíada Brasileira de Física. Leonardo estuda inglês, já deu aula particular de matemática e física, torce para o São Paulo, tem namorada e enfrentará no final do ano os vestibulares do ITA, POLI, Unesp, Unicamp, Unifesp. Um belo currículo para um jovem que ainda consegue ser simpático, educado e, imaginem só, humilde e cauteloso.
CIDADÃO: Você foi classificado na Olimpíada Brasileira de Física. O que representa isso?
LEONARDO: A Olímpiada Brasileira de Física é feita em três etapas. A primeira etapa é feita em cada cidade, e todos podem participar. O nível é bem “puxado”. A diferença é que para o pessoal da oitava série, por exemplo, caem matérias do ensino médio de Física, enquanto que para o 3º ano colegial também entra a física moderna. Há uma nota mínima. Quem ficar abaixo disso já está desclassificado. A segunda etapa, para a nossa região, acontece em São José do Rio Preto. É composta por oito questões, valendo dez pontos cada uma. A segunda fase é corrigida pelos professos do Instituto de Física da USP (São Carlos) e os resultados são publicados no site da Sociedade Brasileira de Física (SBF). Ali saem as notas dos candidatos e os nomes dos classificados para a terceira fase. Uma vez classificado, você faz prova no dia 6 de outubro no Instituto de Física de São Carlos. Essa terceira fase é muito difícil, porque o nível é muito, muito alto. Na verdade, desde que olhei a prova da primeira chave percebi que era bem difícil. Consegui passar para a segunda fase, que também era bem difícil. Superei tudo isso e vou para a terceira fase.
CIDADÃO: Até a sétima série, você era aluno da rede pública, estudava na Escola “Armelindo Ferrari”. Depois, você foi estudar no Coopere, que é particular. Como foi essa transição?
LEONARDO: Acho que Deus colocou a mão em mim e me abençoou. Tive oportunidade de participar do Projeto “Sonhadores”. Um colega me falou desse projeto e perguntou ao Marcos Vilela se eu poderia participar. Vou ser bem sincero: no começo, eu ia lá era para jogar futebol, porque era nos finais de semana. Depois, vi que era um projeto muito sério, com vários ramos de atividades voltados à cultura. Tanto que participei três anos tocando violino. O Marcos Vilela e o Dr. Evandro Pelarin conseguiram uma bolsa para mim no Colégio Coopere. No começo, eu nem estava acreditando! Eles diziam: “Quem, entre todos os participantes do projeto, tiver as melhores notas, vai poder estudar no Coopere”. Apesar de gostar de jogar bola, sempre fui bom aluno e tive boas notas. Quando pisei de verdade no Coopere, pensei: “Nossa! Eu tenho 100% de bolsa para estudar aqui!”. Isso foi há quatro anos e meio.
CIDADÃO: Como você analisa o trabalho do Marcos Vilela e do Dr. Pelarin em relação ao “Sonhadores” e a atuação do magistrado como juiz da Vara da Infância e Juventude?
LEONARDO: Acho que o Dr. Pelarin tem coragem e ousadia. A partir do momento em que os pais não têm forças ou condições de manter seus filhos dentro de casa, depois das 23h – me desculpe, mas o que esse jovem está fazendo na rua nesse horário? Não deve ser coisa boa. Não são todos, claro. Sou totalmente a favor do Toque de Acolher e fiquei muito triste quando foi extinto. Acho que o Marcos Vilela e o Dr. Pelarin fazem um grande projeto cultural, tirando muitas vezes a criança da rua e colocando num projeto ligado à música, ao esporte, e inserindo a pessoa na sociedade. O projeto é altamente inclusivo, acolhedor. Só tenho a agradecer ao Marcos Vilela e ao Dr. Pelarin por essa oportunidade. Dr. Evandro me chama de “Pinheirinho”. Essa ideia de “acolher” é muito legal.
CIDADÃO: Você sabia que os Sonhadores fizeram as primeiras reuniões debaixo de uma árvore?
LEONARDO: Sim, me contaram isso. Comecei dois anos depois que o projeto iniciou. Sei toda a história do Vilela, do seu filho. Eles iam a pé ao Ginásio Beira-Rio, fazer as atividades, e pediam doações de pão e mortadela para ajudar os meninos. Eu, que ia ao projeto apenas para jogar bola, acabei encontrando chances e novas perspectivas para a minha vida.
CIDADÃO: Do ponto de vista educacional, o que essa mudança para o Coopere representou na sua vida de estudante?
LEONARDO: Desde criancinha gostava de matemática e das ciências exatas em geral. A Coopere proporcionou um aprofundamento no meu conhecimento pré-existente. Na Coopere, as aulas são muito puxadas, há uma bateria diária de exercícios a serem feitos, e as aulas são de um nível muito bom. Isso me permitiu aprofundar meus conhecimentos, embora ainda não tenha chegado a lugar algum – ainda não passei no vestibular...(risos).
CIDADÃO: Vamos falar de suas características pessoais. Torce para qual time?
LEONARDO: Sou são-paulino, mas, por favor, sem piadinhas! Tenho um irmão pequeno, que é muito grudado em mim. Minha família me apoia muito. Meu pai, quando entrei no Sonhadores, comprou um violino para mim. Eles me apoiam muito em todos os setores.
CIDADÃO: Você está naquela idade – 17 anos – em que o jovem enfrenta o fantasma da escolha da profissão. Já decidiu o curso que quer fazer?
LEONARDO: Vou prestar engenharia.
CIDADÃO: Qual é a faculdade dos seus sonhos?
LEONARDO: Meu sonho é o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). Mas é difícil, né? Penso também na POLI, na Unesp, na Unicamp, Unifesp. Não vou prestar nenhuma faculdade particular.
CIDADÃO: Você tem namorada?
LEONARDO: Tenho. E antes que você me pergunte, namorada não atrapalha os estudos. Só tem que saber dosar. Tenho método de estudo, que procuro respeitar. Sou disciplinado. Chego da escola pouco depois das 13h, almoço, assisto TV até 14h e depois vou estudar, até 22h, 23h. Não vejo novela, nem nada. De duas em duas horas, dou uma parada no estudo, converso com meu irmão, tomo água. Quando eu traço um plano de estudos – “hoje vou ver isso, isso e isso” – não paro enquanto não concluir a meta. Só assim a gente consegue êxito.
CIDADÃO: As suas aulas começam em que horário?
LEONARDO: Às sete horas.
CIDADÃO: E a que horas você acorda?
LEONARDO: Ali pelas cinco.
CIDADÃO: Por quê???
LEONARDO: (rindo) Para estudar. Mas agora já estou mais maneiro.
CIDADÃO: Você nunca morou fora de casa. Não tem medo da experiência de viver longe da família?
LEONARDO: Meu pai já me ensinou a fazer arroz (risos). Mas acho que vai ser meio difícil, porque minha mãe é muito acolhedora, me protege demais. Bom, se eu passar, vou ter que me virar, não tem outro jeito.