O oficial de Justiça Antônio Leal da Silva, de 53 anos, surpreendeu-se com o factoide plantado na imprensa oficial do município na última quinta-feira, 2: uma reunião no gabinete do prefeito Luiz Vilar de Siqueira, da qual participou também a presidente da Câmara, Creusa Nossa, ocasião em que os integrantes da Associação dos Amigos do Município de Fernandópolis levou ao prefeito um projeto de reivindicação de uma FATEC - Faculdade de Tecnologia – para Fernandópolis. Detalhe: desde 2006, Leal e companheiros do Movimento Popular lutam pela conquista de uma instituição dessa natureza, havendo inclusive projeto de lei tramitando na Assembleia Legislativa do Estado. Ainda recentemente, em 19 de maio deste ano, Leal entregou ofício ao Secretário Estadual da Gestão Pública, Davi Zaia, quando este esteve na cidade para participar de encontro do PPS. No documento, Leal pedia a Zaia que apoiasse a reivindicação junto ao governo estadual. “É estranho que os ‘Amigos’ ignorem tudo isso”, lamentou Leal, que é natural de Fernandópolis, casado com a fisioterapeuta Silvia Raquel da Silva, pai da psicóloga Rosiane Cristina, da farmacêutica Simei Rosane, bacharel em Direito, oficial de Justiça há 33 anos, pós-graduado em Direito Processual Civil e Direito Civil pela Unicastelo e “doente” por Fernandópolis.
CIDADÃO: Como você recebeu a notícia de que a Associação de Amigos do Município de Fernandópolis entregou na quarta-feira ao prefeito em exercício um projeto para a implantação de uma FATEC em Fernandópolis?
LEAL: Até fico contente que a Associação queira se envolver nesse projeto, mas ela veio tarde, porque esse projeto da FATEC, quem iniciou, nos idos de 2006, 2007, foi o Movimento Popular. Redigimos um projeto de lei que enviamos ao deputado Campos Machado; ele, por sua vez, protocolizou o projeto na Assembléia Legislativa, que passou pelas comissões competentes – inclusive, está na Ordem do Dia até hoje. Porém, há uns três anos atrás, fomos informados pelo presidente da Assembléia Legislativa de São Paulo que o caminho não seria esse. A criação de uma FATEC não se dá por projeto de lei, e sim através de decreto do governador do Estado. Foi quando nós começamos um abaixo-assinado ele teve início no Fast Show, realizado na Galeria Treeller. Coletamos assinaturas para que pudéssemos pedir isso diretamente às autoridades competentes. Lembro-me, inclusive, que os empresários Paulinho Okuma e Luisinho Arakaki assinaram o abaixo-assinado. Esse trabalho, que foi feito por nós juntamente com um grupo de pessoas, recebeu uma moção de aplausos do vereador Rogério Chamel. Agora, leio essa notícia no jornal oficial segundo a qual “a associação entrega projeto para a FATEC”. Não tive acesso a esse projeto, não sei se eles querem pegar o mesmo caminho que nós pegamos, se vão tentar protocolizar um projeto de lei. O certo é que esse é um trabalho Movimento Popular, que já vem há mais ou menos sete anos.
CIDADÃO: Vocês fizeram um estudo de viabilidade? Apresentaram números, dados concretos para a consecução desse projeto?
LEAL: Sim, porque a informação é de que a FATEC já está instalada em Votuporanga e Jales, e que seria inviável a instalação dela em Fernandópolis porque nós estamos muito próximos a essas cidades. Só que fizemos um levantamento da nossa microrregião, que tem 13 municípios, e através do censo demográfico de 2010 soubemos que temos um total de 110.626 habitantes; então, não temos necessidade de contar com Votuporanga e Jales para termos nossa FATEC. Nós temos habitantes suficientes para reivindicarmos uma FATEC para Fernandópolis. Outra coisa: não queremos extensão – de Jales, de Votuporanga – e sim a nossa FATEC. O que se ouve por aí é que estão trabalhando para conseguir uma extensão da FATEC, uma salinha para iniciar a FATEC. Nós postulamos é ter a nossa própria faculdade de tecnologia.
CIDADÃO: Em maio deste ano, você fez um pedido fundamentado ao Secretário Estadual da Gestão Pública, deputado Davi Zaia. Isso aconteceu durante um encontro regional do PPS, e a imprensa divulgou o fato, saíram até fotos suas entregando o dossiê ao secretário. Em vista disso, não parece que houve um “chega pra lá” no projeto do Movimento Popular?
LEAL: Não tenho muita proximidade com a Associação de Amigos de Fernandópolis, e não sei se é um trabalho conjunto com o chefe do Poder Executivo local, até porque pertenço a outra facção política do município, mas até parece. É muito estranho que simplesmente ignorem nosso trabalho.
CIDADÃO: Pode estar havendo uso político desse projeto? Por que ele só foi apresentado pela AAMF agora, em agosto, em plena campanha eleitoral?
LEAL: No início de 2008, só para que se tenha uma ideia, nós coletamos 15400 assinaturas pela instalação da UTI Neonatal na Santa Casa de Fernandópolis, e entregamos ao diretor regional da Saúde de São José do Rio Preto. Meses depois, época de campanha eleitoral municipal daquele ano, foi noticiado que um deputado e o secretário estadual iriam enviar R$ 1 milhão para instalar a UTI Neonatal. Houve uma movimentação muito grande, que incluía o então candidato a prefeito e atual chefe do Poder Executivo, muito ser falou, e a verdade é que estamos aguardando até hoje. Não passaram de promessas essas providências. Peguei uma cópia das assinaturas e enviei ao Promotor de Justiça que é responsável pela Criança e Adolescente. Ele entrou com ação civil pública e o juiz deferiu a tutela antecipada para que fosse instalada a UTI neonatal em 90 dias. Estamos agora aguardando a instalação – mas por força de sentença judicial, e não por aquela promessa de quatro anos atrás, que ficou nisso: na promessa. Agora, a coisa é bem parecida: próximo à eleição, ingerência num trabalho do Movimento Popular...é igual, mesmo.
CIDADÃO: Quais os argumentos que você usou naquele projeto que foi apresentado ao secretário Davi Zaia?
LEAL: Nós fomos completados pelo governo federal com a autorização da instalação de uma Zona de Processamento de Exportação, a ZPE. Com isso, nós temos que aperfeiçoar a mão de obra qualificada da cidade, com cursos públicos tecnológicos de nível superior em várias áreas. Por isso – ou seja, a perspectiva do advento da ZPE – ficava a interrogação: como é que podemos dispensar uma Faculdade de tecnologia? Esse foi um dos nossos argumentos pela instalação da FATEC.
CIDADÃO: Mesmo sem o advento da Zona de Processamento de Exportação, a faculdade de tecnologia ainda seria benéfica para a microrregião? Por que?
LEAL: Sim, porque nós temos hoje essas usinas de álcool, e sabemos que têm empresas que estudam a possibilidade de se instalar em Fernandópolis – por exemplo, essas empresas que vendem implementos industriais, fornecedoras das usinas da região, como a de Ouroeste, a de Santo Antonio do Viradouro, de Fernandópolis – temos várias usinas na microrregião – e o que acontece é que, quando se fala na instalação dessas empresas em Fernandópolis, uma das primeiras perguntas que os empresários fazem é se tem faculdade de tecnologia na microrregião. Por quê? Porque não adianta elas se estabelecerem por aqui e não existir mão de obra qualificada para trabalhar com esses equipamentos. Essa carência inviabiliza as vendas. Então, depois de ouvir de vários empresários esse questionamento, levamos a reivindicação às autoridades. Portanto, em resposta à pergunta, digo que é muito benéfico ter a FATEC, ainda que sem a ZPE.
CIDADÃO: Como oficial de Justiça que é, você percorre toda a cidade e mesmo a zona rural. Qual é o anseio que você observa no povo, relativamente à formação de mão de obra? As mães que tem filhos em idade de entrar para o mercado de trabalho, por exemplo: elas recebem bem a ideia de uma faculdade de tecnologia?
LEAL: Sim. Inclusive, esse nosso trabalho é baseado no clamor dessas pessoas mais carentes, que não podem pagar uma faculdade. Nós sabemos que a faculdade de tecnologia é gratuita. Então, essa é uma reivindicação das mães, dos jovens, e nós temos estado com eles em vários eventos. Nessas ocasiões, eles sempre pedem uma FATEC e também um Instituto de Educação Federal, que existe na cidade de Votuporanga e não existe aqui.
CIDADÃO: Fernandópolis está ficando para trás também no tocante à formação de mão de obra qualificada?
LEAL: Muito! Nem sei quantificar esse atraso. Algumas outras cidades, bem menores que a nossa, estão mais avançadas nesse setor.