A onça caminheira do Cláudio Villas Boas

20 de Agosto de 2025

Compartilhe -

A onça caminheira do Cláudio Villas Boas

 A partir de 1943, por ordem do presidente Getúlio Vargas, teve início a Operação Brasil Central, cujo objetivo era colonizar o país que se esparramava à margem esquerda do Rio Araguaia. A expedição era comandada pelos irmãos Orlando, Cláudio e Leonardo Villas Boas. Os três já faleceram.

 No início dos anos 70, o fotógrafo Pedro Martinelli (naquele tempo, com apenas 22 anos) acompanhou por um longo período o trabalho dos Villas Boas. À noite, no acampamento, o Pedrão sempre ia à tenda do Cláudio, para ouvir histórias.

 Uma delas, a da onça que acompanhou Cláudio pela trilha na mata, é sempre relatada pelo renomado fotógrafo. Pedrão narra o causo assim, em seu blog:

  - Os Villas Boas estavam fazendo a picada do Brasil Central e os trabalhadores que Claudio chefiava resolveram fazer um levante e não seguir mais viagem com ele. Claudio deixou os trabalhadores e voltou a pé para montar uma nova expedição.

No segundo dia de caminhada, logo pela manhã, uma onça pintada começou a acompanhar os passos do Claudio a 15 metros dele, paralela à picada. Claudio tinha na cinta um Schmidt & Weston calibre 38, cromado, cabo de madrepérola, uma joia. Logo que ela apareceu, ele chegou a levar a mão à coronha.

Andou um bom pedaço com o antebraço apoiado na cartucheira, foi afrouxando e cada vez mais prestava atenção na beleza do bicho. Ele me descreveu a luz que entrava pelas frestas da capoeira e faziam o pelo da onça pintada brilhar. Claudio descrevia o passo cadenciado, a beleza das mãos e me disse que os olhos dela faiscavam quando os olhos deles se cruzavam.

A região era plana, uma mata de transição, um cerradão meio limpo por baixo onde ele podia ter um bom controle do bicho. Uma bela hora resolveu dar uma parada para acender um cigarro. A onça parou e sentou.

Trocaram mais olhares e a onça lambia os bigodes com uma língua enorme, tranquila. Claudio resolveu brincar, deu mais uns dez passos e parou de novo. Ela levantou com muita calma andou mais um pouco e sentou novamente, continuou olhando para o Claudio, lambendo os bigodes. Claudio achou divertida a brincadeira com o bicho e retomou a caminhada, ela sempre ao lado dele.

Um pouco antes de escurecer Claudio montou um jirau e armou sua rede em dois paus finos a dois metros do chão. Não sentiu medo. Adormeceu e sonhou com a beleza dos movimentos da pele brilhante da onça pintada, sua companheira de caminhada.