As contas da Prefeitura Municipal de Fernandópolis assustam os especialistas, especialmente em relação ao que dispõe o art. 42 da Lei de Responsabilidade Fiscal (impossibilidade de contrair dívidas que não possam ser pagas nos dois últimos quadrimestres do mandato).
Os números indicam que sequer a alienação de bens imóveis do município, como quer o prefeito Luiz Vilar, sanaria a combalida condição financeira da Prefeitura. E há ainda um novo fenômeno, este de natureza política, acontecendo em Fernandópolis: os vereadores começam a rechaçar os projetos de Vilar para a venda de bens do município.
Ainda esta semana, a Câmara rejeitou por 6 votos a 3 o Projeto 48/2012, de autoria do prefeito. Só Creusa Nossa, Maiza Rio e Etore Baroni disseram “sim”.
Segundo dados obtidos através de peças contábeis fornecidas pela própria prefeitura à STN – Secretaria do Tesouro Nacional, referentes ao 1º quadrimestre de 2012, a dívida atual do município já ultrapassa R$ 7,4 milhões e pode chegar a R$ 28 milhões até o fim do mandato de Vilar.
Chega-se ao resultado da dívida atual de mais de R$ 7,4 milhões através da comparação entre a arrecadação do município e as despesas por ele assumidas. Como é possível ver na tabela abaixo, a dívida assumida pelo município ultrapassa a sua disponibilidade financeira, causando um déficit de R$ 7.436.308,72.
ARRECADAÇÃO
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SALDO FINANCEIRO EM 31/12/2011 |
11.095.643,24 |
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VALOR ARRECADADO EM 2012 |
39.826.987,27 |
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TOTAL DA DISPONIBILIDADE FINANCEIRA (A) |
50.922.630,51 |
DESPESAS
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DESPESA LIQUIDADA EM 2012 |
40.912.696,68 |
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DESPESAS DE 2010 E 2011 A PAGAR |
16.279.575,88 |
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REPASSES FINANCEIROS PARA CÂMARA |
1.166.666,67 |
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TOTAL DE DESPESAS (B) |
58.358.939,23 |
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RESULTADO DIFICITÁRIO APURADO = (A) – (B) (Considerando a despesa liquidada) |
-7.436.308,72 |
Isso só com os valores liquidados, ou seja, o que já foi pago ou já teve nota fiscal emitida e deve ser pago. Quando se faz a projeção das despesas empenhadas (montante da despesa referente a contratos já firmados pela municipalidade), esse valor quadruplica, criando um déficit de R$ 28.885.003,26, conforme tabela abaixo.
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TOTAL DA DISPONIBILIDADE FINANCEIRA (30/04/2012) (+) |
50.922.630,51 |
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TOTAL DA DESPESA JÁ LIQUIDADA (incluindo RP) (-) |
58.358.939,23 |
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TOTAL DA DESPESA EMPENHADA NÃO LIQUIDADA (-) / (ref. a contratos já firmados pela administração municipal) |
21.448.694,54 |
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DÉFICIT APURADO (considerando a despesa já empenhada) |
-28.885.003,26 |
ESTIMATIVA DE ARRECADAÇÃO OTIMISTA DEMAIS
A administração pública municipal prevê arrecadar mais R$ 70.704.512,73 até o final do exercício de 2012, porém essa previsão demonstra-se superestimada conforme a análise na tabela em anexo:
Como se pode ver a arrecadação referente ao 3º Quadrimestre de 2009 e 2011 demonstrou-se excepcionalmente maior que a arrecadação dos dois primeiros quadrimestres dos respectivos exercícios devido ao "REFIS" realizado pela Administração Municipal.
Na previsão de arrecadação para os meses de maio a dezembro de 2012, foi considerada a média apurada referente aos mesmos períodos dos três últimos exercícios.
Verifica-se, portanto, que a arrecadação não deve ultrapassar a cifra de R$ 59,4 milhões durante o período de maio a dezembro de 2012.
Mesmo que a arrecadação atinja o valor estimado pela administração municipal, ainda não seria suficiente para cobrir o total da despesa já empenhada no exercício (R$ 21.448.694,54), o déficit já acumulado no 1º quadrimestre (R$ 7.436.308,72) e as despesas correntes da Prefeitura, como:
- Folha de pagamento referente ao período de maio a dezembro (incluindo 13º salário) estimada em R$ 43 milhões (conforme média apurada no 1º Quadrimestre 2012 STN);
- Pagamento da organização social que administra os serviços de saúde num valor estimado de R$ 9 milhões (conforme a planilha apresentada ao Conselho Municipal de Saúde onde consta que no primeiro trimestre as despesas atingiram cerca de R$ 3 milhões)
- As tarifas com consumo de água/energia elétrica/serviços de telefonia estimadas em R$ 3, 880 milhões (média apurada sobre os valores divulgados no site do TCE);
- As transferências referentes às próximas parcelas do duodécimo para Câmara Municipal no valor de R$ 2, 333 milhões, entre outras muitas despesas necessárias à manutenção das atividades do Poder Executivo.
Com tudo isso, fica difícil entender como serão pagas as contrapartidas que o Executivo vem solicitando através de diversos projetos de lei referentes à abertura de créditos adicionais que estão sendo enviados ao Poder Legislativo.