Diego pede “dias melhores” em sessão solene

20 de Agosto de 2025

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Diego pede “dias melhores” em sessão solene

Dias melhores. Duas simples palavras que, dependendo da maneira como são ditas, podem conter imensa gama de significados e que, pronunciadas de forma simples e despretensiosa são capazes de provocar a reflexão em pessoas das mais diferentes classes sociais, grupos ou etnias. Dias melhores: foi isso que um jovem fernandopolense de apenas 22 anos pediu na sessão solene realizada no aniversário da cidade para a entrega da “Medalha 22 de Maio”, na última terça-feira. Por instantes, o inusitado da frase causou perplexidade nos dez vereadores, várias autoridades e outras dezenas de pessoas que acompanhavam a homenagem. No fim, a atitude causou aplausos na plateia. Diego de Souza Lima é o nome do rapaz que, em menos de cinco minutos, conseguiu unir dezenas de pessoas em uma única reflexão: Dias melhores. Cantor e professor de música, ele foi convidado pela vereadora Cândida de Jesus Nogueira para reforçar a homenagem feita pela vereadora a Maria Altair Brazzolim Bim, uma amiga e fonte de inspiração de Diego. A homenagem transcorreu normalmente. Diego cantou a música que estava programada para homenagear Maria Altair, mas um pedido da mesa pegou o jovem de surpresa. Como a orquestra que faria o encerramento da sessão estava exausta por ter tocado o dia inteiro, a presidente da Câmara, Creusa Nossa pediu a ele que fizesse o encerramento com uma canção e foi então que, de improviso, o jovem surpreendeu a todos com seu discurso: “Pediram para que tocasse mais uma, então pensei numa música que reflete o anseio de todos que aqui estão para com a nossa cidade. Tanto eu quanto os vereadores e todos aqui presentes esperamos dias melhores para nossa cidade e para todo nosso país. Eu tenho vivido em minha família algumas dificuldades e tenho visto o quanto é importante a presença da administração pública na vida daquelas pessoas que não têm uma vida financeira tão boa. Eu tenho familiares que precisam constantemente da ajuda pública e é nessas horas que eu vejo o quanto é importante homenagear pessoas como essas que estão aqui recebendo a medalha, pois são elas que preenchem o buraco que a corrupção deixa na vida dessas pessoas. Então eu vou tocar “Dias Melhores” do Jota Quest, uma canção simples que fala de muitas coisas. Dias melhores é isso que eu espero para mim, para você, na saúde, na cultura na educação, dias melhores para quem está na favela, dias melhores para quem não tem emprego. Enfim, para todos”. A coragem e a força de expressão do jovem músico inspiraram o CIDADÃO a procurá-lo para tentar desvendar os motivos que o levaram a escolher essa música e a fonte inspiradora de seu discurso. (Franclin Duarte)

CIDADÃO: De onde surgiu a inspiração para a escolha da música e a formulação do seu breve discurso?

DIEGO: Eu não esperava que fosse tocar a música de encerramento, mas quando me pediram eu aceitei e fiquei pensando qual música poderia simbolizar o momento e a cidade, um lugar que assim como todo o Brasil é cheio de falhas, prioriza coisas menos importantes do que o bem-estar da população, mas eu queria dizer isso sem ofender ninguém, sem dar lado para qualquer outro tipo de interpretação, então decidi tocar “Dias Melhores” do J’Quest.

 CIDADÃO: Você se referiu no discurso que por conta do sofrimento de familiares pôde perceber o quanto é importante a presença da administração pública, do Estado na vida das pessoas menos favorecidas. A que você se referia?

DIEGO: Na hora eu não fiz menção, mas quando disse dos familiares falava da minha avó. Ela precisa muito dos serviços essenciais do Estado, e quando digo Estado falo da administração pública, e então pude perceber o quanto os serviços essenciais como saúde, educação e cultura, por exemplo, são falhos e não só em Fernandópolis, mas no país inteiro. Aqui por exemplo, eu levo minha filha à Clínica da Criança e quem a examina primeiro é um universitário. Não que isso seja ruim, os universitários precisam dessa vivência e isso ajuda a agilizar o atendimento, mas se você parar para analisar os universitários estão em praticamente todos os postos de saúde da cidade, e onde não estão o atendimento é péssimo. Então temos que parar para pensar: até quando a saúde pública da cidade vai depender de uma universidade particular?

CIDADÃO: Você citou que os homenageados preenchiam os buracos que a corrupção deixa na vida das pessoas que dependem da administração pública. O que você quis dizer com isso?

DIEGO: A corrupção é a palavra-chave da má administração pública. Um cidadão paga cerca de 30% de tudo que ganha em impostos e o que mais se vê são os políticos que estão à frente da administração pública defendendo apenas interesses particulares, enquanto pessoas como a Maria Altair, o Luis Fernando Paina e a grande maioria dos homenageados tampando esses buracos com ações sociais, trabalhos voluntários e esse não é o dever deles, por isso merecem ser homenageados. Só que o país tem uma estrutura de poderes constituídos, não pode nem deve ser governado por ONGs ou pela boa vontade das ações isoladas dos cidadãos.

CIDADÃO: Você conseguiu calar por instantes dezenas de pessoas, incluindo alguns políticos. Você imaginava isso?

DIEGO: Eu simplesmente falei o que eu queria falar. Eu não tenho rabo preso com ninguém, não sou de um lado nem de outro, falei apenas como músico, como cidadão, como pai e principalmente como neto que vê sua avó passando por dificuldades e sofrendo para conseguir ser atendida pelos serviços essenciais da administração pública. Enfim, eu falei como cidadão que quer e precisa de dias melhores. Ninguém ali na platéia me conhecia, e mesmo assim me aplaudiram porque também querem e precisam de dias melhores. Hoje pode ser que apenas dois entre dez se lembrem das minhas palavras, mas naquele momento todos prestaram atenção e pensaram: “E aí, dias melhores virão ou não?”, o corrupto pensou, o que não é corrupto também pensou, todos pensaram. Todos nós precisamos de dias melhores.    

CIDADÃO: Como cidadão fernandopolense, o que você acha que a cidade precisa para ter esses dias melhores?   

DIEGO: Eu sou fernandopolense de coração. Vim para cá quando tinha apenas dois anos, aqui cresci e aqui aprendi a amar a cidade. E conhecendo Fernandópolis do jeito que conheço, acredito que a cidade precisa abrir os olhos para alcançar os tão sonhados dias melhores. Para isso os 65 mil habitantes precisam entender qual é o seu papel como cidadãos. As eleições estão chegando, se não têm nenhum candidato que te agrade é melhor não votar em ninguém. É melhor votar em branco do que votar por causa de uma cesta básica ou por dinheiro. Eu não estou querendo incentivar ninguém a votar em branco, mas sim a abrir os olhos e votar com consciência. Nós não podemos ficar criando ilusões, não é um candidato que vai mudar a atual realidade, mas se for uma pessoa compromissada ela vai começar a procurar os melhores caminhos.