Até procurei no Google para ver se havia alguma imagem dessa engenhoca, mas, como se trata de um estratagema de pesca predatória, ele não consta ali. Queria mostrar pras novas gerações o que é isso. Tentarei, pois, descrever a “cama”.
Trata-se de uma barragem que se faz em pequenos cursos d’água, com dois ou três metros de largura no máximo – como a que conheci, no Córrego Jagora, de que mais à frente falarei. Fincam-se troncos finos de árvore no sentido de um barranco a outro. No meio, deixa-se um vão livre de uns 60 cm.
No lado de baixo desse vão livre, arma-se uma espécie de caixote de ripas, no sentido horizontal, com um vão de um ou dois centímetros entre as ripas, para que a água passe por ali.
O que acontece é o seguinte: os peixes só podem passar pelo vão central. Porém, acabam caindo no caixote e ficam praticamente no seco. Aí, basta ao pescador recolhê-los.
Por volta de 1964 ou 1965, fui com meu tio João Pau Véio à sua fazenda no município de São João das Duas Pontes. Depois que tratou dos assuntos de rotina, ele me disse: “Vamos buscar uns peixes na ‘cama’ do Jagora!”. Nada entendi, mas a simples menção da palavra “peixe” já me fez topar a proposta. Era um moleque fanático por pescaria.
Quando chegamos, a “cama” estava desarmada, a ripa central do caixote era retirada para esse fim. O Pau Véio rearmou-a e logo os peixes começaram a cair no caixote: piaus, piaparas, curimbatás, grandes tambiús (os pequenos escapavam pelos vãos das tábuas), até dourado pegamos!
Em poucos minutos, tínhamos peixes suficientes para umas oito famílias. Meu tio abriu novamente o caixote, para que peixes não morressem ali aprisionados, e fomos embora. Já em Fernandópolis, fizemos a distribuição dos peixes entre parentes e amigos.
Hoje, pensando nisso, vejo que não existia a menor consciência ecológica naqueles tempos. Aliás, eu só viria a conhecer essa palavra um ou dois anos depois, lendo os livros de Francisco de Barros Junior. Mas que havia fartura de peixes, ah, isso havia!