Certos casos de amor não têm (ou não precisam de) explicação. O empresário Nelson Rodela, de 65 anos de idade, passou quinze deles na boleia de um caminhão “cegonheiro”, entregando veículos OK às concessionárias espalhadas pelo Brasil. Depois que virou um próspero empresário do ramo de combustíveis, ele fez questão de adquirir um posto em Fernandópolis – no caso, o Petrominas, um dos mais tradicionais da cidade. Mudou-se para cá e não tem planos de sair. “Gostei da cidade, acho-a bonita e agradável”, justifica. Na entrevista, você conhecerá um pouco do pensamento desse paulista de Gastão Vidigal, pai de Ed Nelson, Elaine e Elisangela, e com muita história de vida na bagagem.
CIDADÃO: Como o sr. se tornou empresário?
NELSON: Na verdade, acho que ninguém começa a vida profissional como proprietário de um posto de gasolina, não é? (risos). Os postos de combustíveis foram um desdobramento de tudo o que aconteceu na minha vida profissional. Sou filho de fazendeiro, da região de Gastão Vidigal. Meu avô tinha uma fazenda muito boa lá. Só que a fazenda ficou pequena para tantos netos, e acabei indo embora para São Paulo. Lá, trabalhei com carteira registrada em algumas fábricas, e depois descobri que isso não era um bom negócio. Virei autônomo: primeiro como motorista de táxi e depois entrei no comércio. Só que nessa época eu não estava preparado para essa atividade, e acabei virando caminhoneiro. Fiquei 15 anos nessa profissão, rodando o Brasil inteiro. Costumo dizer que só visitei as boas cidades do Brasil, porque, por muitos anos, fui “cegonheiro”, que é aquele que transporta carros zero quilômetro. Ora, você só entra mesmo em cidades médias ou maiores do que isso, porque é onde tem agências autorizadas, as concessionárias, das fábricas de automóveis. Como disse, fiquei por 15 anos nessa atividade. Desse segmento foi que nasceu minha ligação com postos de combustíveis. Tinha um cunhado que possuía postos em Nhandeara, Gastão Vidigal, Poloni, Araçatuba, Pereira Barreto, Santa Fé do Sul, Birigui. Aí comecei a investir dinheiro nele. Todo o excedente daquilo que eu ganhava no transporte, investia nele. Quando fomos fazer o acerto, acabei pegando um posto em Pereira Barreto. Na verdade, minha família já estava no segmento, são 40 anos nessa atividade; mas eu, especificamente, estou nisso há 12 anos.
CIDADÃO: E de que maneira Fernandópolis entrou na sua vida?
NELSON: As pessoas podem até não acreditar, mas foi por simpatia pela cidade. Como viajante que fui, sempre percorri a região toda, e sempre achei Fernandópolis uma cidade promissora. Assim, vim para cá para tentar participar desta economia. Estou em Fernandópolis desde 2011. Este posto, o Petrominas, era do Gusson, pessoa muito conhecida na cidade. O Gusson acabou fazendo negócio com o Valmir, da rede Gramadão. Eu sou amigo do Valmir, e, por tabela, acabei chegando a Fernandópolis.
CIDADÃO: Nesses meses de experiência de vida em Fernandópolis, como o Sr. a avalia em termos de desenvolvimento?
NELSON: Como já disse no início da conversa, Fernandópolis, além de ser uma cidade bonita e agradável de se morar, ela promete. Acho que é um pólo de desenvolvimento, e eu sempre procuro ficar onde está o desenvolvimento. Acho que a cidade vai bem.
CIDADÃO: O Sr. ouviu falar da ZPE?
NELSON: Sim, mas só depois que eu já estava aqui. Portanto, a perspectiva do advento da ZPE não influenciou na minha decisão de morar em Fernandópolis. Claro que é uma coincidência agradável: eu já via Fernandópolis numa linha de desenvolvimento, e com a chegada da ZPE, claro que essa possibilidade de crescimento aumenta muito.
CIDADÃO: Atualmente, o Sr. tem negócios em quais cidades?
NELSON: Em Belo Horizonte, Pereira Barreto e aqui. Mas, como disse, moro aqui, já virei fernandopolense.
CIDADÃO: Eu o conheci durante um lanche oferecido pelo Sr. aos meninos carentes que são assistidos pela instituição Maria João de Deus. O que o leva a desenvolver atividades filantrópicas?
NELSON: Acho que o trabalho desenvolvido por aquela instituição é importante e necessário. Além disso, a gente se sente, como cidadão, praticamente “obrigado” a participar disso. Sou um empresário novo na cidade e faço coisas assim para ver se motivo os colegas empresários a também ajudarem.
CIDADÃO: O Sr. participa de alguma entidade assistencial?
NELSON: Não, sou um free-lancer que, esporadicamente, ajuda “quem está com as calças na mão”. Quando as coisas apertam, a gente corre lá e dá uma forcinha.
CIDADÃO: Já que o Sr. é praticamente novato na cidade, vamos ajudar o leitor a conhecê-lo melhor. Sua origem é italiana?
NELSON: Sim, sou descendente de italianos. As próprias logomarcas que você pode ver no nosso posto já dizem tudo. Sou da família Rodella, o cartorário “roubou” um “l” do meu nome. Na verdade, se formos à origem da família, o sobrenome é Rodelli. Mas aí, talvez os erros de pronúncia da caboclada do começo do século passado o tenham transformado em Rodella.
CIDADÃO: Deve-se presumir, então, que o Sr. seja palmeirense?
NELSON: Não, sou, não. Na verdade, não sou muito afeito ao futebol, mas tenho simpatia pelo time do Santos, porque lá nascem sempre grandes craques.
CIDADÃO: Existe algum plano de expansão para os seus negócios?
NELSON: Olhe, considerando que estou com 65 anos, este é um bom motivo para puxar o freio, não vou expandir mais os meus negócios. Vou buscar qualidade de vida, a partir de agora. E vivendo aqui, em Fernandópolis. Eu escolhi esta cidade. Transportava as marcas Volks e Chevrolet e gostava do que via por aqui, quando trazia os carros.
CIDADÃO: Nessas viagens todas, o Sr. chegou a se interessar por outra região, na qual pensou em investir?
NELSON: Eu andei muito. Fora a nossa região, e todo o sudeste do Brasil, pensei muito em Fortaleza. Considero aquela capital do nordeste um marco na história do Brasil. Foi a primeira capital do nordeste a sair da linha da pobreza e se destacar com o turismo.
CIDADÃO: E o chamado “Brasil Novo” – o norte do Mato Grosso, cidades como Sinop, Lucas do Rio Verde...Essa região nunca o atraiu?
NELSON: É uma região muito boa, eu iria para lá se tivesse 40 anos. É hoje o Eldorado brasileiro, o dinheiro está lá. Aqui, está a sobrevivência com qualidade de vida. Mas o conforto já chegou também por lá, há grandes grupos investindo na região da soja.
CIDADÃO: O Sr. não acha que a “vida útil” do homem é meio curta?
NELSON: Se você olhar a Bíblia, verá que os personagens bíblicos viviam muito mais do que nós vivemos hoje. Hoje, o brasileiro tem uma expectativa de vida maior, por causa das melhores condições de vida que o país oferece na atualidade. Há mais acesso à medicina, ao alimento. Nosso sistema de Saúde ainda é precário, mas já melhorou muito. Particularmente, não quero uma sobrevida. Sou de descendência italiana, e esse povo, por si só, já vive mais de 80! Então, eu me considero satisfeito.