Para revolta dos comerciantes, até o Mercado Municipal está na lista do prefeito
Depois de três anos de poucas obras (grande parte delas paralisadas), o ano eleitoral despertou no prefeito Luis Vilar de Siqueira (DEM) uma insuspeitada vontade de trazer desenvolvimento à cidade.
Só que, como é de conhecimento de grande parte da população e como o próprio Vilar assume, a Prefeitura não está com dinheiro em caixa para subsidiar a quantidade de obras que o prefeito deseja fazer no ano político.
Para dar essa notícia à população, uma coletiva de imprensa foi convocada na quarta-feira, 25, onde Vilar gastou pouco mais de uma hora para descrever um “pacote de obras” e assinar algumas Ordens de Serviços junto a alguns vereadores e aos empreiteiros que venceram as licitações das respectivas obras.
No pacote anunciado, a principal obra indicada por Vilar é a Estação das Artes, uma promessa antiga do prefeito. Segundo um texto publicado pela própria assessoria de comunicação da atual administração no site da prefeitura no dia 4 de janeiro de 2011, o convênio com o Governo Federal viabilizado pelo deputado federal Dimas Ramalho já estava assinado desde o início de 2011.
No texto de quinze meses atrás, a assessoria afirma que “Fernandópolis vai ganhar um novo espaço cultural e de lazer em 2011 com a implantação da “Estação das Artes”. O convênio no valor de R$ 875 mil já foi assinado pelo prefeito Luiz Vilar. O recurso foi viabilizado pelo deputado federal Devanir Ribeiro”. Mas por “coincidência”, a obra só será iniciada em ano político.
Outra ordem de serviço assinada pelo prefeito é referente às obras de galeria e asfalto no Jardim Paraíso, bairro esquecido durante todo o mandato de Vilar.
Dois Postos de Saúde também estão nesse pacote. Segundo o prefeito, serão reformados, os PSFs Dr. Paulo Sano, no bairro Albino Mininelli, com recurso de R$ 149.069,62, e Antônio Modesto da Silva, no Jardim Uirapuru, que receberá investimento de R$ 149.140,00.
Já na área da Educação foi assinada a ordem de serviço de R$ 65 mil para a compra de três playgrounds nas escolas municipais Ângelo Finoto (Pôr do Sol), Maria Tereza Garcia dos Santos Nicoleti (Jardim Independente) e Wilson Alves Ferraz (Jardim Araguaia).
VENDA DOS BENS MUNICIPAIS
Enquanto o prefeito apenas anunciava as obras tudo corria bem, mas para surpresa de muitos, Vilar anunciou na mesma reunião que para realizar tais obras e algumas outras que pretende fazer, precisaria vender alguns bens do município, entre eles o Mercado Municipal.
Para justificar a venda desses bens, Vilar disse que essa é uma atitude “perfeitamente legal” e que outras cidades fazem o mesmo.
“Não podemos fabricar dinheiro no fundo do quintal, então teremos de nos desfazer de alguns patrimônios do município para ter condição de aplicar dinheiro nessas obras. Isso é perfeitamente legal. Votuporanga fez isso, São José do Rio Preto também. Votuporanga chegou a vender o estádio municipal para aplicar o dinheiro em obras, então não estamos fazendo nada diferente de outros municípios”, destacou Vilar durante seu discurso.
Ainda durante seu discurso, Vilar anunciou a venda do Mercado Municipal, sob a alegação de que os empresários que ocupam os boxes “não pagam aluguel nem impostos ao município”.
“Na gestão do ex-prefeito Armando Farinazzo, foi paga uma precatória pela prefeitura aos antigos proprietários no valor aproximado de R$ 1,6 milhão e desde então ele está sendo utilizado por uns 50 lojistas que não pagam aluguel e nem impostos ao município - e isso é ilegal. Conforme já disse, iremos nos desfazer de alguns patrimônios que não dão nenhum rendimento ao município, são áreas como essas que serão vendidas”, disse Vilar.
DEFESA DA ASSOCIAÇÃO DOS LOJISTAS
Revoltado com a declaração do prefeito, o representante da associação dos lojistas do Mercado Municipal Osvalter Bassan saiu em defesa da classe.
“Da forma como a situação está sendo colocada pelo prefeito, dá a impressão de que nós invadimos e nos apossamos de um bem municipal, e isso não é verdade. Nós estamos aqui amparados pela Câmara Municipal, que aprovou por unanimidade nossa permanência aqui até novembro de 2013”, explicou Bassan.
Ainda segundo ele, quando assumiram as lojas na gestão do ex-prefeito Armando Farinazzo, havia apenas três lojistas no local e a prefeitura não tinha como subsidiar o prédio.
“Foi-nos proposto que, se criássemos uma associação auto-sustentável para manter a manutenção do prédio que na época não passava de um ‘elefante branco’ que só dava gastos ao município, seria o suficiente. Então, formamos a associação, hoje somos 19 lojistas e geramos cerca de 200 empregos”, disse o comerciante. Agora, segundo Bassan, o prefeito quer vender um patrimônio que eles “levantaram”.
“O Mercado Municipal era um prédio muito sucateado quando assumimos aqui muitos nos chamaram de loucos por montar um comércio na segunda ZBM – Zona de Baixo Meretrício – de Fernandópolis, e agora que investimos nossas vidas e levantamos o nome desse lugar, o prefeito quer vender e tirar de nós tudo que conquistamos com o suor de nosso trabalho. Isso é revoltante”, esbravejou Bassan.
De acordo com o comerciante, a associação nunca se omitiu nas negociações como afirmou Vilar durante seu discurso. Segundo ele, as propostas do executivo é que são infundadas.
“Nós nunca quisemos ficar na ilegalidade. Sempre estivemos dispostos a negociar, desde que tudo seja feito de forma justa. Estamos e sempre estivemos dispostos a pagar por nossos pontos, desde que seja cobrado preço real do metro quadrado na área central da cidade. O que o meu vizinho aqui da frente pagar por metro quadrado é o que devemos pagar e nada mais”, explicou.
PROMESSAS POLÍTICAS
Segundo Bassan, quando Vilar estava em campanha, ele prometeu “mundos e fundos” à associação e hoje além de não cumprir as promessas quer colocá-los para fora de seu lugar de trabalho.
“Durante a campanha, o Vilar veio aqui e prometeu melhorar o Mercado Municipal, cobrir a parte onde é feita a feira livre, disse que colocaria à nossa disposição o CTMO – Centro de Treinamento de Mão de Obra - para reforma aqui do prédio, que iria dar todo o apoio necessário para o nosso crescimento e agora, em vez de cumprir o prometido, quer nos colocar para fora”, esbravejou.