André Pessuto: “devo a cura a Deus e a Fernandópolis”

20 de Agosto de 2025

Compartilhe -

André Pessuto: “devo a cura a Deus e a Fernandópolis”
  Há alguns componentes na vida de André Giovani Pessuto Cândido que bem poderiam servir de trama para uma novela. Aos dez anos, ele teve os primeiros sintomas de uma doença herdada geneticamente – a Contratura de Dupuytrem, que provoca nódulos ou cordões endurecidos nas mãos e pés, fazendo com que os dedos se contraiam e os nervos enrijeçam. A doença vinha se agravando nos últimos tempos, até que seu irmão Thiago descobriu em Barcelona, na Espanha, um novo e revolucionário tratamento. O périplo de André e o resultado do tratamento você conhecerá ao cabo desta entrevista. Não consta do texto, porque isso foi dito ao amigo e não ao jornalista, uma pequena confissão de André. Mas não custa – diante das circunstâncias – cometer uma inconfidência e revelar que ele, hoje, se acha “um novo homem, muito mais humanista, muito mais espiritualista”. Um belo enredo que envolve ciência, misticismo, solidariedade e amor.   

CIDADÃO: Durante a sessão da Câmara de terça-feira, você fez vários agradecimentos e disse que agora sua missão é trazer esse tratamento para o Brasil. É isso mesmo?

ANDRÉ: Com certeza. Essa graça, essa verdadeira bênção que recebi, creio que houve um conjunto de acontecimentos quepossibilitaram isso. Só para que você tenha uma idéia: no dia em que recebi a primeira injeção – dia 20 de março, precisamente às 17h – nesse mesmo dia e nessa mesma hora, o sol estava alinhado com a terra de uma forma que acontece raramente, não sei de quantos em quantos anos ou séculos. Aquele era um instante de extrema energia. Eu nem sabia disso, quem me contou foi meu irmão Thiago: “É um momento cósmico fantástico”. Digo isso para mostrar a energia de pessoas e fatores que houve em torno disso, de pessoas que me ajudaram, torceram e rezaram por mim, grandes seres humanos – tenho certeza que, assim como a minha mãe, a sua mãe (N.R.: Wandalice Franco Renesto) se ajoelhou para rezar por mim, pedindo uma solução. E esta foi a tal injeção de Xiapex. O meu caso foi o mais sério que o médico espanhol já viu, ele relatou isso num documentário sobre o meu problema. Esse documentário, eu e meu irmão anexaremos ao relatório que faremos à Anvisa pedindo a autorização da entrada do medicamento no Brasil. O médico disse que trata dessa doença desde que começou sua carreira, e nunca viu um caso tão grave. E ele só começou a usar o Xiapex em setembro de 2011. Ele disse que é rara essa doença em jovens – normalmente, ocorre em gente com mais de 60 aos. Depois, pelo fato de eu ter a síndrome nas mãos e nos pés.

CIDADÃO: Mas ele assumiu o desafio, não?

ANDRÉ: É, e mesmo assim eu consegui a benção de abrir minha mão inteira. Fiquei tão alegre, tão feliz que ao sair do consultório, depois que ele abriu minha mão, meu irmão disse que eu estava com uma cara estranha. Respondi que tinha vontade de dar um grito de felicidade, deixar transbordar uma coisa que vinha me sufocando. Fomos para a praia – Barcelona é à beira-mar – e lá eu gritei, agradeci a todo mundo. Parece tão bobo isso, mas só quem tem uma limitação dessas sabe a falta que a mão faz. Aí surgiu a vontade de que não só aquele grito atravessasse o Mediterrâneo e chegasse ao nosso povo, mas também que aquele tratamento pudesse estar à disposição dos brasileiros. Eu fui o primeiro brasileiro a se submeter a essas injeções. Minha dedicação a essa missão, agora, deverá ser até mais intensa do que aquela que dedico a Fernandópolis como homem público. Vou fazer o que for preciso para cumprir esse compromisso.

CIDADÃO: Agora você é o missionário do Xiapex (risos). Mas, se nós pensarmos em toda essa aventura sob uma ótica mística, os fatos são mesmo surpreendentes. Quem descobriu o tratamento foi seu irmão Thiago, que entre tantos países do mundo está morando justamente na Espanha, que é onde existe esse tratamento. E é o país do Caminho de San Thiago de Compostela...

ANDRÉ: É incrível, mesmo. Bem, voltando a falar do que pretendo fazer para difundir o tratamento: já conversei com os médicos Humberto Faleiros e Ricardo Sano, antes mesmo de ir para a Europa. Nós fotografamos minhas mãos de todos os ângulos, dedo a dedo. Depois que eu voltar a Barcelona em junho, para cuidar da mão esquerda, vou fazer a divulgação dos resultados. Já na próxima segunda-feira voltarei ao consultório do Beto (Faleiros) para medir a extensão da mão direita, fotografá-la. A comprovação final será o resultado na mão esquerda. Tenho certeza de que também dará certo. Esse medicamento é fantástico! É uma enzima viva que é aplicada na mão e “come” a doença. No outro dia, o médico abre a sua mão.

CIDADÃO: Mas é tão rápido assim?

ANDRÉ: Sim, é algo impressionante! Eu só tive que ficar mais dias lá porque, como o meu caso era muito grave, quando ele abriu a minha mão estourou muito a pele. Por isso, permaneci um pouco mais. Também por essa razão não pude operar a mão esquerda. Tenho que me recuperar da mão direita, antes. Além do mais, é uma enzima viva cujas aplicações têm que ser de forma lenta, para evitar que o organismo crie anticorpos à injeção. Assim, vou ter que voltar à Europa em junho. Agora, em casos menos graves do que o meu, o paciente vai lá, recebe a injeção, no dia seguinte retorna ao médico, abre a mão e vai embora para casa – sem incisão, sem cortes.

CIDADÃO: Qual será sua estratégia para notificar os órgãos de saúde brasileiros?

ANDRÉ: A primeira pessoa que vou procurar será a Analice (Fernandes, deputada estadual) que é ligada à área da Saúde. Veremos se ela nos indica algum caminho. Vou procurar o Julio (Semeghini), o Devanir (Ribeiro).

CIDADÃO: Você tem idéia do número de brasileiros que sofrem dessa doença?

ANDRÉ: Não. A idéia que eu tenho é que a nossa região tem números altíssimos. Em Fernandópolis, conheço muitas vítimas desse mal. É uma doença étnica, do norte europeu, uma herança genética dos vikings. Geralmente acomete pessoas mais velhas. Hoje sei que ela veio tão forte em mim porque meu pai é portador e minha mãe também tem essa carga genética, então é herança paterna e materna. É uma doença muito confundida, na velhice, com artrose. Na verdade, não é. Tenho certeza de que, quando conseguirmos a liberação do medicamento no Brasil, muita gente será beneficiada.

CIDADÃO: Você revelou que uma grande personalidade brasileira – o cantor e compositor Chico Buarque de Hollanda – sofre da Contratura de Dupuytrem. Você pretende entrar em contato com ele?

ANDRÉ: Mandei-lhe uma mensagem pela Internet e estou aguardando resposta. Contei todos os fatos: quem eu sou, minha idade, as cirurgias que fiz e principalmente a novidade desse tratamento na Espanha. Estou esperando resposta, quem sabe eu possa ajudar esse grande ídolo brasileiro. Ele é alguém de expressão nacional, com bom trânsito junto ao governo federal, e poderia ser o embaixador dessa luta para trazer o tratamento para nosso país. Vou aguardar.

CIDADÃO: Como foi seu reencontro com a família no dia 31?

ANDRÉ: Minha filha Amanda e minha irmã Henriana foram as primeiras pessoas que revi, elas me esperaram no aeroporto de Guarulhos. Para que você tenha uma idéia da emoção que vivemos, minha filha beijou a minha mão! (André respira fundo). Fazia tanto tempo que eu não lhe fazia um carinho com a mão aberta...

CIDADÃO: Se você está devendo agradecimentos a alguém, para quem seria?

ANDRÉ: Vou lhe contar a história e ali estão os personagens a quem sou devedor. Um dia, cheguei à minha casa e minha mãe disse que o Thiago precisava falar urgente comigo pela Sky. Padre Zezinho estava lá e presenciou a conversa. Localizei o Thiago e ele me contou desse tratamento que ele descobrira em Barcelona. “Você precisa vir para cá, meu irmão!” Respondi: “Eu vou!”. Minha mãe começou a chorar, o padre Zezinho a consolava. Falei que venderia minha casa – o carro eu não posso vender, é financiado. Tinha que dar um jeito. Saí de lá para uma reunião na prefeitura. Ao chegar, com a cabeça quente, pensando na questão, cruzei com o João Garcia e o Baiano e acho que nem os cumprimentei. Eles disseram: “Pô, não cumprimenta os amigos?” Voltei, pedi desculpas e expliquei que havia recebido uma notícia tão boa, mas ao mesmo tempo tão difícil de concretizar. Ao contar os detalhes, me emocionei – sabe lá o que é morrer de sede em frente ao mar? – e comecei a chorar. O João Garcia me abraçou e falou: “Você vai para a Espanha!” Nisso, chegou a Creusa Nossa (presidente da Câmara), e o João a chamou de lado e conversou. Bem, a reunião que eu tinha era com ela com o prefeito Vilar e com o Gutinho Sisto, para tratar da Expô. Entrei no gabinete, e quando terminou a reunião, a Creusa falou: “Agora temos que resolver outro problema: o do André. Ela contou a história, o Gutinho bateu na mesa e disse: “Pode marcar a data porque você vai para Barcelona!”. O prefeito e a Creusa também ofereceram apoio. Ponderei que era um tratamento caro – cada injeção custa 1.500 euros – mas o movimento cresceu tanto que fiquei tranqüilo. O Rotary 22 de Maio também me ajudou, minha família idem. Foi tão incrível que vou poder voltar à Espanha para a segunda bateria de injeções. Resumo da ópera: já no dia seguinte, pude ligar para o Thiago e mandar marcar a consulta. Por isso, digo que devo tudo isso a Deus e a Fernandópolis.