Diguinho, o homem-chave da APAB

20 de Agosto de 2025

Compartilhe -

Diguinho, o homem-chave da APAB

 A fala mansa e o baixo tom de voz podem enganar a princípio, mas que ninguém duvide: Diguinho é um obstinado na defesa de seus projetos e suas ideias. Nascido Rodrigo Antonio Garcia, há 37 anos, aqui mesmo em Fernandópolis, Diguinho se formou em Educação Física pela Funec de Santa Fé do Sul e atualmente é funcionário da Secretaria Municipal de Esportes, designado para desenvolver atividades na Associação de Pais e Amigos do Basquetebol – APAB – como técnico de basquete. Vice-presidente do PSD em Fernandópolis, casado com Lidiane Teruel Garcia e pai de Matheus e Luiza, nesta entrevista Diguinho fala do trabalho que vem sendo desenvolvido na APAB, que ele considera de grande relevância social.

CIDADÃO: Quando e como surgiu a APAB?

DIGUINHO: A APAB nasceu por iniciativa do “Mão”, o Edivaldo de Assunção, que foi o fundador. Ele já trabalhava com basquete em Fernandópolis, dentro da prefeitura. Aí, com o crescimento da modalidade na cidade, surgiu a ideia da criação da APAB, que nada mais é do que uma associação de pais e amigos do basquetebol. Isso foi em 1986. Os pais apoiaram e hoje a associação, com mais de duas décadas de existência – só teve um período em que as atividades ficaram interrompidas, por exclusiva falta de pessoas instrumentalizadas para fazer seguir o projeto. Em 1997, depois que terminei a faculdade, reativei a associação. Passei a trabalhar com o basquetebol. Busquei os pais de volta, porque sem eles não faria sentido.

CIDADÃO: Qual era o objetivo principal do “Mão”, ao criar a APAB?

DIGUINHO: Creio que, além da divulgação e do fortalecimento do basquete em Fernandópolis, a parte competitiva (disputar torneios mais importantes) e obter recursos para a disputa desses torneios, o grande objetivo era a parte social. A ideia era obter uma integração através do basquete com as crianças do município e da região, tirando-as das ruas e lhes proporcionando entretenimento e lazer através do esporte.

CIDADÃO: Você manteve essa filosofia de valorizar o aspecto da inclusão social?

DIGUINHO: Isso. Quando reativei a associação e o basquetebol, contei com a parceria e os conselhos do “Mão”. Embora nessa época ele já tivesse se mudado para Ribeirão Preto, o “Mão” participou de todas as nossas ações. É importante também lembrar a iniciativa do Sebastião Besteti, que desde a fundação até hoje é da diretoria, e alguns pais a quem eu levei a idéia de resgatar a APAB, dando ênfase à questão social e à parte competitiva. Minha visão sempre foi englobar essas duas coisas, porque você tira a criança da rua e dá oportunidade de se destacar através do esporte. Nós já revelamos muitos atletas para equipes da região e mesmo de outras regiões.

CIDADÃO: Onde é desenvolvido o trabalho da APAB?

DIGUINHO: Com a consolidação de uma parceria, hoje estamos no núcleo do Centro do Professorado Paulista (CPP), isso desde 1997. O CPP nos cede suas instalações – quadra, vestiário, infra-estrutura – e a APAB entra com o material humano para o desenvolvimento do trabalho.

CIDADÃO: Se um pai quiser procurar a APAB para inscrever seu filho no projeto, o que ele deve fazer?

DIGUINHO: Basta que ele nos procure na quadra do CPP, de segunda a sexta-feira, no horário de 17h até as 20h30. O garoto não precisa saber jogar basquete ou ter experiência anterior, passado por escolinhas ou aperfeiçoamentos da modalidade. No nosso projeto, fazemos tudo isso, da iniciação até a parte de treinamentos e competições.

CIDADÃO: Num país como o Brasil, onde a paixão pelo futebol é predominante, o basquete tem público, nesses jogos e torneios que vocês disputam? 

DIGUINHO: Como você disse o futebol é o esporte número um do mundo, não dá nem para discutir isso. Mas eu sempre digo que para todas as modalidades, todos os tipos de esportes, há um público específico. Com o basquete não acontece diferente. Embora seja um esporte muito pouco visto em canais abertos de televisão, por opção do próprio comando desse esporte – e essa é uma velha discussão que nós, como afiliados da Federação Paulista de Basquete, sempre procuramos trazer à tona: por que é que a federação fecha as portas para os canais abertos e abre as portas para os canais fechados? Em 2008 e 2009, quando estávamos disputando o campeonato paulista da 2ª Divisão, na categoria adulto, chegamos a ter uma média de público no Ginásio Beira Rio entre 2 e 3 mil pessoas. Então, é uma coisa que foi conquistada aos poucos. Hoje, com nosso trabalho nas categorias de base, as crianças acabam levando pai, mãe, avô, tios, o que redunda num público considerável.

CIDADÃO: Como amante do basquete que você é – sei que você não viu Amaury, Vlamir e Rosa Branca, mas viu Carioquinha, Oscar, Marcel, Marquinhos, Gerson – sabe que o Brasil teve grandes seleções de basquete, especialmente nas décadas de 60 até 1987, 1988. Por que a qualidade do basquetebol brasileiro caiu nos últimos tempos?

DIGUINHO: Creio que em parte foi por causa do problema do planejamento. Acho que boa parcela de culpa deve ser atribuída à CBB e à Federação Paulista de Basquete. Houve alguns atritos entre elas e por causa disso, não havia planejamento adequado. Abriam para os atletas a escolha do treinador! Como resultado, ocorriam desentendimentos, boicotes, etc. Agora, aparentemente a federação abriu os olhos e passou a seguir um planejamento vitorioso como é o do voleibol. O sucesso deste esporte se deve ao bom planejamento, desde as categorias de base. Agora o basquete está entrando nesse ritmo, já há centros de treinamentos das categorias de base. Com isso, o basquete está se alavancando no cenário esportivo, outra vez.

CIDADÃO: É possível fazer no basquete alguma coisa parecida com o que foi feito em Araçatuba, no projeto “Vôlei Futuro”?            

DIGUINHO: É possível, sim. Acompanhei de longe o desenvolvimento do projeto Vôlei Futuro e notei que é algo parecido com o que temos aqui na APAB. O pessoal da Faculdade Toledo decidiu começar um projeto social, em parceria com a prefeitura, levando o voleibol para os bairros da cidade. Isso foi crescendo, aumentando, criou-se então uma parceria com a (empresa) Reunidas e aí começou o trabalho de marketing. Os recursos vêm da isenção fiscal. Eles souberam se adequar na parte administrativa e houve o envolvimento da cidade, da comunidade. Hoje, o Vôlei Futuro é um espelho maravilhoso para a região.

CIDADÃO: Dá para abrir mão do apoio oficial para tocar projetos de esporte como o basquete?

DIGUINHO: Não. Creio que isso é impossível. A gente realmente precisa do apoio do poder público e da iniciativa privada. Temos hoje esse apoio, através de uma subvenção social, no valor de R$ 25 mil, que são repassados em dez parcelas de R$ 2,5 mil, utilizados na administração da parte social, além do apoio que temos na utilização da praça esportiva. Estive dos dois lados da moeda – já fui diretor municipal de esportes – e sei que muita gente pensa que o apoio só interessa no aspecto financeiro. Não é assim: o apoio, como a concessão de espaços físicos, de transporte, de alimentação e coisas assim, são fundamentais para o sucesso desses projetos. É preciso que haja vontade política e união. O esporte é muito importante, é o melhor meio para tirar a criança das ruas e afastá-la do perigo das drogas. Nosso objetivo não é formar profissionais do esporte. É formar bons cidadãos.