Madrugada de cartas marcadas

20 de Agosto de 2025

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Madrugada de cartas marcadas
 Não se pode acusar a oposição de omissão. Nem a situação de desorganizada. O que se viu no julgamento da Comissão Processante do “Caso DDM”, na noite desta segunda-feira e madrugada da terça, foram estratégias bem orquestradas de parte a parte.
 Na primeira CP, em dezembro, os vilaristas dominaram o Palácio 22 de Maio, com sorrisos de superioridade e escárnio pela diminuta torcida adversária.
 Desta vez foi diferente. De camiseta vermelha, os adversários do prefeito ocuparam toda a ala esquerda da galeria. À direita, ficaram os situacionistas – a maioria funcionários dos escalões mais altos da prefeitura.
 Aos poucos, algumas personalidades da política local foram engrossando as fileiras pró-denúncia: a ex-prefeita Ana Bim e o marido, o médico Avenor Bim; o vice-prefeito Paulo Biroli, hoje inimigo político de Vilar; a cúpula do PT, com Rober Caetano, Sérgio Teixeira e outros militantes; Chico Arouca, do PRB, e presidentes de vários partidos, num total de 13.
 A grande novidade da noite era o esperado discurso de Fausto Pinato, que não pôde falar na CP de dezembro. Autorizado pelos vereadores em sessão ordinária da semana anterior, ele prometia usar integralmente as duas horas de tempo concedido.
 Após a maçante leitura do processo, feita pelo 1º secretário José Carlos Zambon e na maior parte do tempo pela 2ª secretária Maiza Rio, a palavra foi sendo usada pelos inscritos.
 O primeiro foi o oposicionista Rogério Chamel (PSC), que afirmou que aqueles que acreditam em obra feita de graça por empreiteira “devem acreditar também em Papai Noel”. Em seguida, Maiza Rio, do PMDB, saltou em defesa do prefeito, num discurso pré-escrito e lido alguns decibéis acima do permitido pela Lei do Silêncio naquele horário.
 André Pessuto foi o mais contundente dos situacionistas. Num tom inflamado, falou em progresso, em união e isentou o prefeito de culpa. Zambon (PP) disse que acreditava existirem provas suficientes para a condenação.
 À 1h17, Fausto Pinato subiu à tribuna. O silêncio era total. O advogado enveredou por detalhes de sua vida, desde seu nascimento na Santa Casa, passando pelos bancos escolares e culminando na política.
 Criticou a vereadora Maiza Rio pela proposta de sigilo nas comissões, afirmou que Fernandópolis “tem que ser passada a limpo”, que a situação atual “é uma vergonha, como diria Boris Casoy” e alertou os vereadores: “Quem se curva demais diante dos poderosos mostra o traseiro aos oprimidos”.
 Fausto exibiu recortes de jornal com notícias sobre a polêmica participação do empreiteiro ‘Dodó’ em serviços públicos através dos tempos. Lembrou da paralisação de obras na UBS “Antonio Santilio”, cuja empresa responsável é uma das controladas por Dodó. E pediu a condenação de Vilar, depois de várias citações épicas, cedendo o microfone ao advogado Marlon Santana, encarregado da parte técnica do processo.
 Chegava a vez da defesa. Como de hábito, o veterano Sérgio Guimarães se mostrava tranqüilo, sorridente. Gastou muita paz, muita união e muito exemplo de Votuporanga para justificar sua conclamação à harmonia política em Fernandópolis. Defendeu os termos do Decreto 201/67, atacado por Pinato.
 Sabedor de que as coisas estavam sob controle, Guimarães sequer pediu a absolvição. Chegou até a criar um incidente com o ex-vereador Francisco Arouca, fazendo alusão à panfletagem ocorrida na cidade na madrugada anterior (panfletos apócrifos propunham que o eleitorado “se livrasse dos vereadores em outubro”). O advogado mencionou as insinuações de que Arouca seria o responsável pela panfletagem.
 Chico Arouca, que estava na plateia, se irritou e passou a discutir com o advogado. “Nunca faria isso. Se alguém provar que sou o responsável por isso, mudo de Fernandópolis com minha família amanhã mesmo!” Creusa Nossa pediu que o ex-vereador fosse retirado das galerias. Guimarães pediu desculpas, disse que havia “brincado” com o comerciante, seu amigo de longa data. No final, a situação foi contornada.    
 Por derradeiro, falou Luiz Vilar. Previamente orientado, o prefeito evitou polemizar, preferindo citar suas obras em Fernandópolis.
 Teve início a votação e tudo marchou conforme todo mundo já sabia: Maiza Rio, André Pessuto, Etore José Baroni, Julio Cesar Zarola, Neide Garcia, Dorival Pântano e Creusa Nossa votaram pela absolvição. Rogério Chamel, Candinha Nogueira e José Carlos Zambon opinaram pela cassação. Resultado final de 7x3.
 Às 3h30, tudo estava encerrado. Na sala de imprensa, alguém levantou uma questão intrigante: por que as emissoras de televisão (Record e TV Tem), que normalmente cobrem o noticiário de Fernandópolis – e recebem régias importâncias pela divulgação de propagandas institucionais do município – nem deram sinal de vida no Palácio 22 de Maio?