Ninguém precisa chamá-lo de baixinho: ele próprio assim se autodenomina, com contagiante bom humor. O juiz aposentado Pedro Manoel Callado Moraes, professor de Direito Civil da Universidade Camilo Castelo Branco, e que atualmente inicia a experiência de advogar (em Fernandópolis), é dessas pessoas que adoram a vida e a profissão que exercem. Otimista incorrigível, ele é capaz de elevar o astral de classes inteiras – não é por acaso que é idolatrado pelos alunos. Callado demora mais de 40 minutos para atravessar o pátio da Unicastelo, já que invariavelmente é cercado pelos estudantes em busca de orientação e conselho. Nascido em Itapeva (SP), casado com Lúcia, pai dos advogados Carlos Eduardo e Pedro Henrique e da médica Ana Carolina, avô de Maria Luísa, palmeirense praticante, o ex-juiz dá a Fernandópolis o orgulho de tê-lo em seu seio, como professor e advogado. Um fato que a Câmara de Vereadores já reconheceu anos atrás, conferindo-lhe a maior honraria do município.
CIDADÃO: Como o sr. analisa os índices apresentados recentemente pela Ordem dos Advogados do Brasil, relativamente ao último exame de Ordem, principalmente no que se refere ao noroeste paulista?
CALLADO: Vejo da seguinte forma: ainda é preciso melhorar, sim. Não alcançamos um patamar ideal. Mas, também, não podemos ignorar que o curso de Direito da Unicastelo de Fernandópolis lidera em aprovação na região noroeste paulista, ou seja, de São José do Rio Preto a Rubinéia e na região de Araçatuba. Ninguém aprovou mais na região do que a nossa Unicastelo. Isso mostra que estamos no caminho certo em termos de qualidade de ensino – os professores exigindo da instituição, os alunos exigindo dos professores, e assim por diante.
CIDADÃO: É verdade que a Unicastelo foi a única faculdade de Direito da região que superou a média nacional do exame da Ordem?
CALLADO: Sim. Nesse território que mencionei, nenhuma faculdade superou a média nacional de 24,50% de aprovação, que é a média nacional, com exceção da Unicastelo, que apresentou índice de 25% de aprovação.
CIDADÃO: O que significa isso em termos pedagógicos?
CALLADO: A voz corrente diz que ‘santo de casa não faz milagre’. Percebemos que, em virtude dos boatos recorrentes de que a Unicastelo vai fechar, não vai fechar – assim como surgem boatos de que o Shopping vai fechar, e coisas assim – ora, o Shopping está lá, firme, atraindo gente da região, nós, da Unicastelo, passamos a acreditar que pudesse ser verdade, ou que a nossa instituição não teria o valor que imaginávamos. A mentira, repetida várias vezes, acaba por se tornar verdade. Só que os fatos estão mostrando o contrário. Temos que considerar que o próprio MEC avaliou o campus de Fernandópolis, e a faculdade de Direito, numa escala de 0 a 5, recebeu nota 3. Antes, essa nota era 2, estávamos sob o regime de supervisão. Hoje, não estamos mais sob essa supervisão do MEC, no sentido de acompanhar durante todo o ano o curso, a qualificação dos professores, o número de alunos. Existem cursos por aí que nem sala de aula tem. Nós temos uma boa estrutura, uma biblioteca bem montada. É um dado positivo essa avaliação do MEC, assim como a resposta dada pelos alunos no último exame de ordem, com 25% de aprovação. Isso melhora a auto-estima dos alunos, dos professores e até mesmo da cidade, que sabe que não é só o Direito, mas também cursos como o de Odontologia, que tirou nota 5, a máxima; a Medicina, que vem se destacando cada vez mais, prestando serviços na região, atendendo gratuitamente muitas pessoas nos postos de saúde; a Engenharia, que cresceu assustadoramente, a ponto de levar o curso de Direito para as salas do Shopping Center. Isso mostra que há qualidade de ensino na região, não precisamos mandar os filhos para longe.
CIDADÃO: O que poderia explicar esse complexo de inferioridade?
CALLADO: Nelson Rodrigues dizia que o brasileiro tem “complexo de vira-lata”. Nós não sabíamos o valor que tínhamos, então aceitávamos a pecha de que não tínhamos valor algum. Isso acontecia pouco antes da vitória na Copa do Mundo de 1958, quando achávamos que tudo que vinha dos EUA ou da Europa era melhor. Nem notávamos que o Brasil estava crescendo desbragadamente nos anos JK. Então, é possível fazer essa analogia com Fernandópolis, que hoje é a sede regional da educação. Se já não é, Fernandópolis está a caminho de ser a capital regional cultural do noroeste paulista. Veja o ritmo da construção civil, em projetos voltados para os universitários! Eu me lembro de anos atrás, quando conversava com o seu Waldomiro e a dona Wandalice (Renesto) e fizemos um cálculo – até contei isso numa sessão solene da Câmara de Vereadores: se Fernandópolis chegasse a 5 mil universitários, entre a FEF e a Unicastelo, e desses, 500 viessem de fora para morar em Fernandópolis, alugando imóveis, consumindo na cidade, gastando cada um mil reais por mês, seriam R$ 500 mil injetados mensalmente na economia do município. Ora, hoje há muito mais de 500 estudantes de fora morando na cidade! Veja a importância da FEF e da Unicastelo na economia do município. O estudante gera empregos, e onde tem emprego tem renda, onde tem renda tem consumo. Tudo isso é igual a dignidade. Então, há que se respeitar a Unicastelo, por sua contribuição no contexto. Penso que o ideal é que a região toda cresça, evolua, e que Fernandópolis colabore especialmente na parte educacional, assim como Votuporanga dá sua contribuição na parte industrial, Jales com a agro-indústria, Santa Fé do Sul com o lazer e turismo...
CIDADÃO: Para o Sr., então, nossa vocação é mesmo voltada para o ensino superior?
CALLADO: Olha, sempre fico meio preocupado de falar muito, podem dizer: “Esse cara tá chegando agora e já quer sentar na janelinha!” (risos). Mas me parece que sim. É só olhar os prédios que estão sendo construídos. Você não vê isso em Jales, por exemplo. Há um direcionamento mercadológico nessas obras. Claro que a economia do país está num momento favorável, mas a verdade é que alguma coisa está mudando em nível local. E estudante não polui, não tem chaminés, traz vida e alegria. É lindo conviver com os estudantes, uma experiência maravilhosa.
CIDADÃO: O Sr. ainda tem a mesma motivação de quando entrou como professor na instituição?
CALLADO: Nossa! Estou na Unicastelo desde 1999 e posso dizer que a cada dia parece que renasço. Vou à escola, vejo os alunos, olho para seus rostos e me revigoro. Hoje, posso dizer sem receio que no passado havia coisas que eu tinha vergonha de dizer para não parecer demagogo: que acreditava em Deus, na família e que via nos alunos os projetos de vida dos meus filhos. Hoje, aos 58 anos, aposentado, avô de uma neta, vejo o mundo de forma diferente, e, nos alunos, vejo a cada dia um novo desafio. Então, não há nada de rotina. Pelo contrário. São projetos de vida dos quais você acaba participando, é algo que nos deixa feliz. Tenho alegria de entrar na Unicastelo, é como se fosse a extensão da minha casa.
CIDADÃO: O Sr. chegou a ficar temeroso quando “pendurou a toga”?
CALLADO: Fiquei, sim. Trabalhei durante 43 anos em Fórum. Comecei como office boy de cartório extrajudicial, fiz pequena carreira lá, depois me formei em Direito em São Bernardo do Campo, onde trabalhava. Estava sempre no Fórum, conversando com muita gente. De repente, resolvi me aposentar. Naquele instante, percebi que não encontrava mais aquelas pessoas – os ex-colegas juízes, os promotores, os advogados, os funcionários, as testemunhas. Notei que isso, eu não tinha mais, e realmente sinto falta desse contato. Esse baque, eu senti. No escritório de advocacia, o contato com pessoas é bastante restrito em termos numéricos.
CIDADÃO: Agora que está advogando em Fernandópolis, já pôde formar opinião sobre a experiência de estar “do outro lado”?
CALLADO: Olhe, dentre todos que trabalham na distribuição da Justiça, o advogado é a pessoa mais aberta ao diálogo, para aceitar as opiniões divergentes. O juiz fica muito isolado, decide na solidão do gabinete. Idem para o promotor. O advogado não: ele tem um trabalho nobre que é defender direitos individuais. Só quem nunca teve um direito individual lesado não sabe o quanto é importante ter alguém que lute por esses direitos. “O direito não é aquilo que o outro tem que lhe atender, mas sim aquele que ninguém consegue lhe tirar”. E quem faz isso por você? O advogado. Entendo que, dos personagens que trabalham na Justiça, o advogado é o mais humilde, porque tem que convencer outras pessoas: o julgador, o promotor, os jurados. Isso exige humildade. O bom advogado é o “sábio prudente” de quem a Bíblia fala. Pela natureza de sua função, ele precisa convencer o outro. É algo delicado e que exige sensibilidade. Agora exercendo a advocacia, tentarei concretizar aquilo que pensava na teoria. De todo modo, aceito o desafio. Só vejo sentido numa vida com desafios. E nossos filhos esperam os nossos exemplos.