Concursos do AME e do Lucy Montoro são anulados por suspeita de fraude

20 de Agosto de 2025

Compartilhe -

Concursos do AME e do Lucy Montoro são anulados por suspeita de fraude

Os concursos do AME – Ambulatório Médico de Especialidades – e do Centro de Reabilitação Lucy Montoro, que visavam ao preenchimento de vagas de trabalho nas unidades instaladas em Fernandópolis, foram cancelados por suspeita de fraude e favorecimento. 

 A decisão foi publicada no site oficial do concurso, após recomendação do promotor de Justiça Daniel Azadinho Palmezan Calderaro, pedindo a imediata suspensão da execução e tramitação do processo seletivo que foi organizado pela Irmandade da Santa Casa. 

 Azadinho fez a recomendação após várias denúncias de favorecimento no processo seletivo que visava ao recrutamento de profissionais de nível fundamental, médio e superior de escolaridade, em diferentes setores. 

 Os concursos ofereciam cargos de técnico administrativo, técnico em enfermagem, assistente social, recepcionista, fisioterapeuta, nutricionista, psicólogo, entre outras atribuições publicadas no edital do concurso.

 As denúncias de fraude partiram de alunos que se sentiram prejudicados. Segundo eles, “o concurso já tinha cartas marcadas”, sendo que foi permitido responder as provas a lápis. “Onde já se viu um concurso publico feito a lápis? Isso é uma fraude para colocar só quem eles querem lá dentro”, afirmou a candidata T.L.A., 21.

“Passei em quinto lugar na prova escrita após estudar muito e quando cheguei para fazer o teste psicológico encontrei pessoas que sequer tinham acertado metade das questões e por “coincidência”, essas pessoas foram aprovadas e eu não. Agora eles falam que não precisam de concurso para contratar, então para que fizeram isso? Só para pegar dinheiro da gente e nos fazer perder tempo estudando que nem uns bobos. Se era para colocar quem eles queriam para que fizeram esse concurso ou processo seletivo que nem eles falam”, desabafou uma das candidatas que não quis se identificar.

 Com a recomendação ficou determinada a anulação, em todos os seus termos, dos Processos Seletivos nº 001/2011 (AME) e nº 002/2011 (Lucy Montoro) e a devolução integral do valor pago a título de taxa de inscrição. Para receber o dinheiro de volta o candidato deverá apresentar um requerimento à Direção Administrativa da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Fernandópolis.

 Agora, a seleção será feita através da análise de currículos e não mais por processo seletivo.

 

O OUTRO LADO

 De acordo com a responsável da Irmandade Santa Casa pela implantação do AME e Lucy Montoro, Lucimeira Marques Domingues, foi usado como método de seleção o processo seletivo, para ampliar as fronteiras e oferecer os cargos a mais pessoas.

 “Tínhamos vários currículos aqui, mas a maioria era para as vagas técnicas, para os quadros administrativos tínhamos muito pouco e por esse motivo decidimos fazer o processo seletivo”, destacou a responsável.

 Ainda segundo ela, para a aplicação desse processo, foi contratada uma empresa de São José do Rio Preto (Grupo Bérgamo), que aplicou todo o processo de seleção para os candidatos do AME e apenas a escrita para o do Lucy Montoro, uma vez que houve uma interferência da Secretaria da deficiência Física de São Paulo, que queria que a parte técnica do processo do Lucy Montoro fosse aplicada pelos profissionais da Secretaria.

 Segundo Lucimeire, no edital estava clara a informação de que seriam três fases, uma delas de conhecimento especifico, que teria peso de 60%, outra de avaliação psicológica e a última a entrevista, que dividiria os outros 40%.

 “Um dos questionamentos que tivemos e que estou vendo na mídia é com relação a denúncias sem provas e infundadas. Várias pessoas disseram que a prova foi feita a lápis, isso não é verdade. Apenas o teste psicológico foi feito a lápis e isso porque num determinado teste, os traços feitos a lápis significam algo a mais para os psicólogos e esse teste não pode ser feito a caneta”, afirmou Lucimeire.

 Segundo ela, a Irmandade procurou fazer “um processo limpo, honesto e verdadeiro, mas, infelizmente, as pessoas que não conseguiram passar atulharam o Ministério Público com denúncias infundadas”.  

 “Devido a esse melindre que foi criado, o promotor pediu para a gente cancelar o processo e devolver a taxa, que é exatamente o que está sendo feito. Para nós o conhecimento específico é muito importante, mas o perfil psicológico do profissional tem um peso maior ainda, porque nós vamos lidar com pessoas, então nós procuramos através da avaliação psicológica contratar pessoas que pela avaliação do psicólogo, terão mais habilidade para cuidar de um deficiente físico, o que muitos não tinham”, disse.

EMPRESA CONTRATADA

 Em contato com a empresa contratada pela Santa Casa de Fernandópolis para a aplicação das provas, o gerente do Grupo Bérgamo, Fulvio Trevizan, confirmou que foi contratado apenas para aplicar processo integral do AME, e parte do processo do Lucy Montoro.

Indagado sobre as denúncias de fraude e favorecimento, Fulvio é categórico em dizer que não houve nenhuma espécie de favorecimento.

 “Posso afirmar com toda segurança que não houve favorecimento, a começar pela equipe que é de São José do Rio Preto, nenhum membro da equipe aplicadora foi reconhecido por participantes do processo. A equipe não conhecia absolutamente ninguém que estava fazendo as provas. Se houve algum tipo de favorecimento, foi em função do desempenho daqueles que realmente passaram nas fases estabelecidas, estudadas e planejadas do processo. Com relação a isso, o Grupo Bérgamo, de acordo com o código de ética e da resolução que permite a aplicação de testes em processos, todos os candidatos tinham direito à devolutiva dos testes realizados. Seria então explicado o porquê de determinado perfil não ter sido considerado indicado ao cargo”, destacou o responsável.

 Sobre as denúncias de que as provas teriam sido assinadas e feitas a lápis, Fulvio afirma que todas as listas de presenças foram assinadas à caneta azul ou preta e que dos gabaritos da primeira fase do processo (Conhecimentos Gerais), só foram considerados válidos aqueles que foram entregues à caneta.

 “Não tivemos problemas, pois todos os gabaritos da primeira fase estavam preenchidos à caneta. Já na etapa de testes psicológicos, é procedente a informação de que foram efetuados a lápis, e essa informação pode ser justificada teórica e tecnicamente. Os testes psicológicos aplicados estão autorizados pelo Conselho Federal de Psicologia, bem como a obrigação da realização desses instrumentos a lápis”, disse.

 Nesse aspecto, a resolução CFP N.º 01/2002, regulamenta a Avaliação Psicológica em Concurso Público e processos seletivos e restringe ao psicólogo o uso de métodos e técnicas psicológicas que necessitam da utilização do lápis.

Já com relação às denúncias de que o uso de celulares na hora da prova não foi coibido pelos aplicadores, Fulvio afirma que não foi encontrada nenhuma queixa ou reclamação nesse sentido nas folhas de ocorrências.

 “Todos os fiscais que trabalharam durante o processo foram orientados a desclassificar o candidato responsável por qualquer manifestação sonora eletrônica de qualquer natureza, e registrar o caso nas Folhas de Ocorrências que os fiscais recebiam. Os casos seriam repassados para a Comissão Organizadora e a pessoa era eliminada imediatamente do processo. Todas as lousas, no dia de avaliação, traziam a informação da eliminação do candidato caso houvesse essa manifestação. E em muitos casos era possível observar que alguns retiravam a bateria do celular. Olhando as folhas de ocorrências novamente, não foram encontradas reclamações ou outras queixas que poderiam justificar a denúncia”, concluiu.