Há muito tempo não passo por São Lourenço de Fátima, uma cidadezinha do Mato Grosso, distante uns 60 km de Rondonópolis.
Durante a década de 90, eu e meus companheiros de pesca passamos várias vezes por lá. Sempre dávamos uma meia-trava no empório do Gordo (“e bonito!”, ele dizia; assim, o Capitão Silva passou a chamá-lo de Gordo Bonito).
O lugarejo era pequeno, praticamente só o arruado principal, com algumas travessas. Um posto telefônico, açougue, poucos botecos e o empório do Gordo. Parecia cenário de faroeste.
Só que a vila simples esconde belezas insuspeitadas na zona rural. Há lindas cachoeiras, como a do Bispo, e cavernas e rochedos com pinturas rupestres ainda pouco estudadas. No caminho do Rio São Lourenço, onde nós pescávamos (20 km depois da cidadezinha) eu nunca me cansei de observar a beleza rude das grotas, onde, de repente, em meio a uma fenda, despontava uma bela orquídea.
Bem, o que eu queria contar é que toda vez que passávamos pela vila, acontecia algum fato pitoresco, como o dia em que pedimos mortadela na venda do Gordo e um companheiro sugeriu: “Pega mortadela Marba!”. O Gordo retrucou: “Só se for a mar-barata”, explicando que ali só havia mortadela de soja.
Ou então, quando conhecemos no empório um velhinho papudo como ele só, que contou vantagens durante vinte minutos. Para rebater, o Silva apontou o Deda (contador de formação) e disse: “Meu senhor, este amigo aqui é um dos mais conceituados médicos de São Paulo!”.
O velhote arregalou os olhos e perguntou: “É mesmo? E qual é sua especialidade, doutor?” O Deda engoliu um gole de cerveja e respondeu, displicentemente: “Neurocirurgião plástico!”...