Empreiteiro confirma “direcionamento” nas obras da DDM

20 de Agosto de 2025

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Empreiteiro confirma “direcionamento” nas obras da DDM

 O empreiteiro S.M.C., diretor da empresa construtora T . – a identidade dele e o nome da empresa são mantidos em sigilo por razões comerciais e de segurança – confirmou na última quarta-feira, 1º, as afirmações que fez durante conversa com o advogado Fausto Ruy Pinato, no dia 11 de dezembro do ano passado.

 A conversa, no escritório de Pinato, foi gravada, sem que S.M.C. tivesse conhecimento. Nela, o empresário afirma que participou da licitação para a conclusão das obras da Delegacia da Mulher de Fernandópolis, a DDM, quando chegou a fazer o atestado de visita técnica.

 Na ocasião, revelou o empresário, um engenheiro ligado ao prefeito Luiz Vilar de Siqueira lhe afirmou que “essa obra já está praticamente pronta, e o vencedor da licitação já está definido”.

CONFIRMAÇÃO

 Mesmo aborrecido por causa da gravação, S.M.C. confirmou o inteiro teor da conversa. Contou que sua empresa, cuja sede fica em Fernandópolis, atua num raio de 300 km do município.

 Ele garantiu que manobras desse tipo se constituem numa prática comum na administração de Fernandópolis: “O que ocorre é que fazem a obra, depois licitam. Se faltar algo, eles fazem um aditivo da licitação”, explicou. “Na prefeitura de Fernandópolis, às vezes sequer se consegue entrar para protocolar um envelope”, critica.

 No ano passado, Fausto Pinato denunciou as suspeitadas irregularidades na obra ao Poder Legislativo, que instalou uma comissão processante cuja presidente é a vereadora Maiza Rio (PMDB). A relatora é Candinha Nogueira (PSD) e membro o vereador André Pessuto (DEM).

 Pinato juntou a gravação da conversa com S.M.C. aos autos da Comissão Processante. Para ele, “a CP não pode ignorar tamanha evidência. Os vereadores têm que julgar de acordo com as provas dos autos, e não ao sabor de suas preferências políticas”, considerou.

 As obras da Delegacia da Mulher tiveram um aditivo de R$ 70 mil. Segundo a denúncia, essa obra teria sido repassada irregularmente às empresas controladas pelo empreiteiro conhecido como “Dodó”, que o advogado diz ser ligado ao prefeito Luiz Vilar. 

 A seguir, as declarações do empresário S.M.C. à reportagem de CIDADÃO:

O senhor ouviu agora a gravação de sua conversa com o advogado Fausto Pinato sobre as obras da Delegacia da Mulher de Fernandópolis. O senhor confirma o que está na gravação?

Sim, confirmo. Realmente, fui eu que falei aquilo. Estou até chateado com o Doutor Fausto, porque não deveria ter feito isso comigo. Mas, o que falei lá é verdade. Minha formação religiosa não me permite mentir, ou dizer que eu não disse o que está na gravação. Eu não queria me envolver nisso, porque sou amigo dos empreiteiros – tenho até pena deles, porque praticamente todos passam dificuldades junto à prefeitura de Fernandópolis, e não queria aparecer na mídia. Não gosto disso, o meu nome nunca apareceu na imprensa. Meu trabalho é honesto, é sério. Realmente, fui só eu que participei dessa visita técnica, e ainda “sobrou um pouco”de problemas pra mim.

Quando fez a visita técnica às obras da DDM, o que o senhor constatou?

Boa parte – quase 100% do que estava sendo licitado – já estava pronto. Resumindo, é isso que aconteceu. Quase tudo estava pronto, a obra estava direcionada e a prefeitura só me forneceu o atestado de visita técnica mediante muita insistência. Realmente, eles não queriam me fornecer, tive até algum impedimento para participar dessa licitação. Mas, realmente, estava quase tudo pronto, direcionado. Consegui pegar o atestado, como empresa que participou, fez a visita. Foi isso que aconteceu.    

     Caso pode entrar na pauta de julgamento ainda este mês

 A Comissão Processante que analisa o caso da denúncia formulada pelo advogado Fausto Pinato contra o prefeito Luiz Vilar de Siqueira - de irregularidades na licitação das obras de construção do prédio da Delegacia da Mulher - deverá entregar o relatório final nos próximos dias.

 Com isso, a sessão de julgamento do caso poderá ser marcada ainda para fevereiro. Nessa sessão, o plenário da Câmara de Vereadores decidirá se cassa ou não o prefeito Luiz Vilar de Siqueira (DEM).

 De acordo com a relatora da Comissão Processante, Candinha Nogueira (PSD), está concluída a fase de oitiva de testemunhas e seu relatório já está pronto.

 A presidente da CP, Maiza Rio, confirmou o final das oitivas, mas disse que ainda quer “tirar algumas dúvidas” com o advogado Guilherme Soncini da Costa, que foi contratado para dar assessoria jurídica à comissão.