Nesta semana em que se comemora o 458º aniversário da cidade de São Paulo, assim como a maioria dos colunistas...paulistanos, resolvi também abordar o tema aqui. Oito anos atrás, por ocasião do 450º, também já fora solicitado a dar minhas impressões como imigrante desta cidade. Por ter sido a primeira vez, empolgado, as lembranças fluíram naturalmente. Dessa vez, por minha iniciativa, vamos ver no que vai dar.
Para dar um empurrãozinho, coloquei diante de mim, uma foto da saída de nossa família de Fernandópolis, minha cidade natal, para a Capital, em 1961! Nela, família, primos e amigos, mais de 50 pessoas, estamos, todos, postados na plataforma da estação, antes da chegada do trem. Tinha apenas dez anos, mas me recordo de ter ficado impressionado com o fotógrafo que teve de ficar sobre os trilhos para tirá-la. Caramba, que coragem!, devo ter pensado.
Recordo-me também que vim um pouco assustado porque um senhor que adorava quando criança, “seu” Narciso, deu-me uma série de advertências em relação à “cidade grande”. A maior foi para que tomasse cuidado ao atravessar as ruas devido à quantidade de carros na Capital! O pior é que essa vale até hoje, mesmo 50 anos depois! Mas não mais apenas por isso!
Se bem que, com o tempo, fui percebendo e aprendendo que havia males piores, muito piores... só que não para ocupar este espaço na semana de seu aniversário. Daí, da reflexão ao tema, cheguei à conclusão de que ”seu” Narciso tinha pintado a Capital, para mim, bem pior do que era... na época.
Senão, vejamos: na semana que chegamos, com irmãos e um primo, fui, a pé, até o aeroporto de Congonhas para ver aviões, nos perdemos na volta...mas retornamos em segurança; ia de bonde aberto à escola e não me recordo de ver passageiros correndo por não terem pago a passagem; assisti a regatas no Rio Tietê; voltava para casa de madrugada, vindo dos bailes – e em segurança; cheguei a acordar algumas vezes no ponto final do ônibus que tomava na volta do namoro; assisti a jogos do meu Corinthians contra rivais tradicionais, ao lado de torcedores de ambos os lados; apenas para lembrar alguns itens perfeitamente recuperáveis...já que, ainda hoje, vemos isso em outros países.
A propósito, a razão de minha iniciativa ao tema foi ouvir do arcebispo Dom Odilo Scherer que a intervenção da PM na Cracolândia foi como um presente à cidade, no que estou de pleno acordo, gostem uns não gostem outros, porque o objetivo principal foi o de eliminar o trânsito livre dos causadores, dos traficantes. Seus moradores já demonstram esperança em ver recuperada parte de sua qualidade de vida.
Até achei que, por isso, ouvi um pequeno estalo daquela chama que citei no artigo passado. Mas foi um presente pontual, pequeno demais para essa metrópole sempre tão acolhedora e, por isso, sujeita a essas ameaças. São Paulo merece muito mais... ao menos, ter de volta as condições dos itens citados no parágrafo anterior. Sabemos que, sim, depende muito de vontade política, mas também de movimentações de baixo para cima. Né, não?