Medida provoca polêmica em vários setores da sociedade
Os supermercados de todo o estado de São Paulo aboliram na quarta-feira, 25, o uso das sacolas plásticas. Por enquanto, os estabelecimentos que não vetarem o uso das sacolas não poderão ser multados, mas um termo de cooperação assinado entre o governo paulista e representantes da Apas - Associação Paulista de Supermercados – marcou a data do aniversário de São Paulo como o dia de iniciar a campanha “Vamos tirar o planeta do sufoco”.
Com o fim das sacolas, os supermercados deixaram de fornecer as sacolas à base de petróleo e começaram a vender as reutilizáveis por R$ 3,99 e as oxi-biodegradáveis, por R$ 0,19 cada.
O objetivo é estimular o consumidor a substituir as sacolas plásticas descartáveis pelas reutilizáveis. Segundo a associação, se os 95 municípios da região – entre eles Fernandópolis - adotarem a campanha, 1,1 bilhão de sacolas deixarão de ser jogadas no lixo por ano.
Para o secretário de Meio Ambiente de Fernandópolis e coordenador do curso de engenharia ambiental da FEF Angelo Veiga, essa é uma atitude que já deveria ter sido tomada há muito tempo.
“No ano passado fui visitar a Alemanha para ver como o país tratava seus resíduos sólidos e pude perceber que eles estão muito adiantados em relação ao Brasil. Lá, todo mundo utiliza sacolas de tecidos e os supermercados vendem as sacolas plásticas para de certa forma forçar os clientes a levarem sacolas de casa. Isso já deveria estar funcionando no Brasil há muito tempo”, disse Veiga
Ainda segundo ele, infelizmente a população só aprende quando se começa a mexer no bolso.
“Vamos utilizar o exemplo do cinto de segurança. Todos já sabiam da importância do uso de cinto de segurança, mas ninguém usava. No inicio foram feitas diversas campanhas de conscientização, mas a população só começou a respeitar quando foi implantada a multa para quem não usasse o cinto de segurança. Depois disso, hoje a gente já entra no carro e coloca o cinto”, destacou o secretário.
De acordo com a Secretaria do Estado de Meio Ambiente, a sacolinha descartável à base de petróleo leva de 100 a 300 anos para se decompor. Já a sacola biodegradável é feita de material renovável (amido de milho, mandioca, batata) e se desfaz em até 180 dias em usina de compostagem e em dois anos em aterro. As embalagens oxibiodegradáveis, por sua vez, se degradam em cerca de 18 meses com a ação de micro-organismos e agentes naturais.
A suspensão da distribuição de sacolas descartáveis é uma medida voluntária dos supermercados em prol do meio ambiente. “Acreditamos que dessa forma, em parceria com diversos setores da sociedade e o poder público, visando à conscientização do consumidor, teremos uma adesão concreta a esta iniciativa”, afirma o Diretor Regional APAS Renato Gaspar Martins.
CONTROVÉRSIAS
Apesar dos supostos ganhos ambientais, uma discussão que começou através da declaração de porta-vozes de algumas indústrias de sacolas, pôs em dúvida se a atitude vai ajudar de fato o planeta. A questão é a reutilização das sacolas. É costume dos brasileiros re-utilizar as sacolas dos supermercados para colocar o lixo doméstico.
O que gerou a discussão foi o fato de que, sem as sacolas plásticas, a população teria de comprar sacos de lixo, que são feitos do mesmo material - e assim, todo esse “sacrifício” seria em vão, pois a mesma quantidade de embalagens plásticas continuaria sendo disposta no meio ambiente.
Há também quem diga que essa “é uma forma de o governo tirar dinheiro do bolso do consumidor e não uma medida de educação ambiental”. É o que pensa o aposentado Leonil Gonçalves de Souza, morador do bairro Vila Aparecida.
“Quem re-utiliza as sacolinhas plásticas para colocar lixo agora precisa comprar sacos pretos de lixo. O que o planeta vai ganhar com isso? Isso é só mais um jeito do governo e dos mercados arrancarem dinheiro da gente”, disse o aposentado.
DEMISSÕES
Além de toda discussão, outro fator também preocupa. Em todo Estado, os fabricantes de sacolas plásticas já sentiram os primeiros efeitos do acordo entre as entidades que representam os supermercados e o governo, com o objetivo de restringir a distribuição gratuita do produto no varejo local.
Desde dezembro, informam representantes da cadeia plástica, grandes redes varejistas interromperam as encomendas. Em resposta à queda das vendas, algumas fabricantes do produto já anunciaram as primeiras demissões, situação que também deve atingir o setor de máquinas utilizadas no segmento.
O consumo de sacolas plásticas no Estado de São Paulo movimenta aproximadamente R$ 200 milhões por ano, segundo estimativas de especialistas do setor. São utilizadas cerca de 6 bilhões de sacolas no Estado, o equivalente a quase 40% do mercado nacional. Por isso, o fim da distribuição gratuita nos supermercados de São Paulo pode atingir um grande número de pessoas.
Estimativas, indicam que o mercado de sacolas plásticas responde por aproximadamente 30 mil empregos diretos e outros 80 mil indiretos no País. A restrição à distribuição também pode atingir os trabalhadores responsáveis pelo empacotamento de mercadorias nos supermercados.
Agora, os fabricantes de sacolas aguardam a análise de uma ação civil pública proposta pela classe de trabalhadores da indústria química que questiona o acordo entre varejistas e o governo do Estado.