A notícia correu como rastilho de pólvora pela cidade, na última quinta-feira: durante encontro com Henrique Prata, presidente da Fundação Pio XII de Barretos, os diretores da Associação de Voluntários no Combate ao Câncer (AVCC) de Fernandópolis acertaram os termos finais da parceria que entregará o comando da instituição fernandopolense ao Hospital do Câncer de Barretos, transformando-se numa unidade similar á de Jales. A diretoria não duvida de que essa foi a melhor saída para a AVCC, que estava em séria crise financeira e com as atividades ambulatoriais paralisadas. Na entrevista, o farmacêutico-bioquímico Carlos Alberto Rodrigues de Lima, que participou das negociações, conta detalhes do desfecho e confirma: havia gente de olho no patrimônio da associação.
CIDADÃO: Qual foi o fato importante para Fernandópolis, ocorrido na manhã de 19 de janeiro de 2012?
LIMA: Um acontecimento histórico para a cidade e toda a região: a finalização das negociações e a definição dos termos da parceria da AVCC com a Fundação Pio XII, de Barretos. Fechamos uma parceria que vinha sendo discutida ao longo dos últimos meses, e na quinta-feira certamente entramos para a história e também solucionamos uma dúvida que ficara no passado, quando a Fundação Pio XII instalou sua unidade em Jales.
CIDADÃO: No que consiste esse acordo com o Henrique Prata, presidente da Pio XII, e o que isso representará para Fernandópolis?
LIMA: Para a cidade e região, esse acordo é muito importante. O Henrique Prata teve uma ideia brilhante, que foi criar núcleos de excelência e prevenção, e com isso dar uma contribuição muito grande não só para Fernandópolis e região, mas também para outras regiões. Isso dá uma contribuição muito grande porque se cria um novo modelo no combate ao câncer. Deixa-se de “correr atrás do prejuízo”, que é a detecção tardia, para investir na detecção primária, que atinge alto índice de cura. Quer dizer: nós vamos entrar numa era do combate à doença, que é a sua detecção desde o início, propiciando chances ao paciente de alcançar a cura, coisa que é bem mais difícil quando o diagnóstico é tardio. Essa unidade de Fernandópolis será de prevenção tanto para o sexo feminino, com a detecção de câncer de mama e do colo uterino, quanto para o sexo masculino, detectando o câncer de próstata e outros. Teremos, assim, na mesma unidade hospitalar, duas seções. É um fato extremamente importante, com uma ótica moderna e voltada para a estrutura de lógica hospitalar bastante avançada. O hospital não terá cara de hospital, e sim será comparável a um centro de excelência, para que as pessoas tenham interesse e criem a consciência de investir na prevenção. A AVCC passa a ter a importância que sempre teve: será o braço direito da Fundação Pio XII, trabalhando na captação de recursos, ampliações e investimentos necessários.
CIDADÃO: E como fica a unidade de Jales nessa história? Como serão divididos os trabalhos na região noroeste paulista?
LIMA: Barretos cria unidades de excelência, que não competem entre si, mas que se somam, cada uma com as suas características. A região noroeste de São Paulo passa a ter uma importância significativa, não só no contexto regional, mas até mesmo no contexto nacional. Isso porque se trouxe uma nova proposta: transformar o que a carreta do Hospital de Câncer fazia de forma itinerante, numa unidade fixa que facilite às pessoas que compareçam às unidades e façam exames preventivos. O foco é uma unidade de referência com excelência em diagnóstico.
CIDADÃO: Qual é a área de abrangência dessa unidade de Fernandópolis?
LIMA: Na realidade, será uma área de abrangência praticamente delimitada pelos rios mais importantes da região: o Rio Grande, o Rio Paraná e o Rio Tietê. Teremos praticamente toda a região noroeste dentro de um círculo, cuja população gira em torno de 500 mil habitantes, e o foco será a prevenção e detecção precoce de células cancerosas.
CIDADÃO: Sei que vocês conversaram com o Henrique Prata há poucas horas (NR: a entrevista foi feita na quinta-feira), mas a diretoria já tem em mente aquilo que dirá ao voluntariado sobre o acerto com Barretos? Além disso, como será a transição da administração do hospital?
LIMA: Com relação ao voluntariado, estamos conversando quase que em tempo real com o pessoal. As notícias, inclusive apedido do presidente Adenilton, estão sendo passadas durante todo o tempo à imprensa, para que ela mantenha nossos voluntários informados. Afinal, trata-se de um fato importante. Teremos alguns dias, agora, para reunir os voluntários e esclarecer todos os termos da negociação. Mas não haverá problemas, porque os termos dessa parceria já haviam sido submetidos à assembléia da AVCC, que concordou com eles. Barretos está assumindo de fato a unidade de Fernandópolis, e a AVCC vai continuar com o trabalho que vinha fazendo, só que sem gerenciar a unidade hospitalar. A AVCC será o braço direito, o apoio para atender às necessidades de crescimento, de ampliação de atendimento para a unidade de Fernandópolis. A AVCC continua tendo a importância de sempre, só que agora de uma maneira mais sistemática – ela passa a responder por um trabalho praticamente regionalizado. De tudo o que se vê em termos de voluntariado, é possível afirmar que a AVCC é bem organizada por excelência. Entendo que essa parceria acaba sendo um prêmio à luta dos nossos voluntários, e uma nova realidade, com melhores perspectivas para os pacientes. A parceria permitirá que muito mais gente tenha a chance de alcançar a cura. Entendo que Fernandópolis, agora, vai participar de um processo essencial. Foi desgastante, mas valeu a pena porque nosso foco é o futuro. O presente só tem essa visão de futuro, que reside exatamente na prevenção, nos investimentos em conhecimento e na transferência desses conhecimentos para a sociedade. E, nesse processo, a imprensa tem importância capital. Estamos falando de criar a possibilidade de cura, de dar chance à vida.
CIDADÃO: É correto dizer que, a partir de agora, os voluntários não terão mais a angústia de “correr atrás de dinheiro”, de fazer campanhas desesperadas para evitar que a entidade feche as portas?
LIMA: Sem dúvida. Acho que os voluntários, agora, estarão motivados num outro sentido, que é exatamente a essência da AVCC: a vontade de ajudar. Os voluntários são pessoas do bem lutando por uma causa santa. Esse é o modelo que o país deveria seguir. O voluntariado é um exemplo para toda a sociedade. O patamar a que os voluntários da AVCC chegaram agora é uma espécie de coroamento, porque a partir de agora seremos parceiros de uma instituição de excelência como é a Fundação Pio XII. O Henrique Prata, um dia, também sonhou um sonho como nós sonhamos quando a AVCC foi criada. Os louros são dos voluntários, do presidente Adenilton, que lutou para que chegássemos a essa condição. Particularmente, me sinto gratificado por ter sido convidado para ajudar nessa transição bem-sucedida. Agradeço também ao Henrique Prata, inclusive pela criação desse modelo revolucionário de parceria. Barretos faz o que o governo deveria fazer: pregar a prevenção como a principal estratégia no combate ao câncer. As estatísticas de crescimento do câncer são assustadoras, a saúde pública deveria rever tudo.
CIDADÃO: Você acha que, no futuro, a decisão tomada agora – a de fazer a parceria com Barretos - será considerada como a mais correta?
LIMA: Não tenho dúvidas. Havia outros caminhos a seguir, mas acredito que tomamos o melhor rumo.
CIDADÃO: Esse acordo põe fim a certos interesses inconfessáveis que rondavam a AVCC?
LIMA: Com certeza. Eu disse ao presidente Adenilton que esse acordo que hoje fizemos deverá ficar em nossa memória para sempre, para contarmos aos nossos filhos e netos tudo aquilo que não deveria ter sido feito. Nós não fizemos, não fomos por essa trilha, nem permitimos que alguns se servissem da AVCC, porque nossa filosofia é lutar pelo futuro podendo olhar o passado sem medo. Quanto mais trabalharmos pensando no futuro, melhor este será. O foco está no futuro.