Demorou quatro meses, mas finalmente o Reizinho resolveu contar um segredo guardado a sete chaves da viagem realizada no ano passado pelo Rio Paraguai (com saída de Porto Murtinho) na chalana Xaraíés.
Diz o Reizinho que, certo dia, ele e o Zé da Gráfica saíram para pescar com um piloteiro. Pegaram vários pacus, todos fora de medida, que foram devidamente soltos.
Por volta das 10h, o sol estava muito quente, e eles descobriram uma espécie de ilhota, com terra firme e até uma pequena praia, coisa rara no Pantanal. Decidiram desembarcar e esticar as pernas à sombra das árvores que ali existiam.
Reizinho sentou-se em sua caixa de tralhas, sacou uma latinha de cerveja do isopor e espreguiçou-se, enquanto o piloteiro verificava algum detalhe mecânico do motor e o Zé da Gráfica explorava as redondezas.
De repente, o Zé volta correndo, perseguido por uma enorme sucuri! A cobra passou a centímetros dos pés do Reizinho e nem deu bola, parecia totalmente concentrada na caçada ao Zé.
O pescador correu de lado a lado da prainha, subiu e desceu do barco, com a cobra sempre na sua captura. Reizinho fixou a vista e percebeu que a cobra tentava enfiar a cabeça no bolso da calça do Zé.
Sem tempo para meditar sobre o detalhe, Reizinho passou a mão num remo e bateu-o com toda força na cauda do bicho, que vacilou, mas logo em seguida continuou em sua tentativa de enfiar a cabeça no bolso do Zé.
Finalmente, o piloteiro juntou-se ao Reizinho no combate e, cada um desferindo pancadas na cobra com seu respectivo remo, os dois conseguiram afugentar a sucuri.
Quase sem fôlego, o Zé se sentou na mesma caixa onde estivera o Reizinho, que, de pé diante dele, cobrou uma explicação: “Quero ver o que você tem no bolso direito da calça!”, exigiu.
Meio sem graça, o Zé retirou da algibeira um grosso maço de notas de R$ 100. “Foi aí que eu achei a explicação”, disse o securitário. “Cobras gostam de comer peixe. E nas notas de R$ 100, a estampa é de uma garoupa...”