O ateísmo é um fenômeno da modernidade. A distinção entre fé e ciência aconteceu a partir do iluminismo. O movimento que surgiu na França do século XVII, defendendo a primazia da razão sobre a visão teocêntrica – Deus como centro -, que prevalecia na Europa desde a Idade Média. Os defensores dessas ideias advogavam que o pensamento racional deveria substituir as crenças religiosas e o misticismo, obstáculos para a evolução do ser humano.
O homem deveria ser o centro e buscar respostas para questões, que até aquele momento, eram dadas somente pela fé. Os burgueses foram os mais interessados nessa filosofia, porque detinham o poder econômico, dinheiro, mas não o poder nas questões políticas. Essa mudança de enfoque resultou no surgimento dos campos secular e religioso. Para explicar o universo e organizar a vida da sociedade através da normatização a modernidade excluiu a existência Deus sequer como hipótese.
A religião tem como referência para explicar o mundo as afirmações metafísicas, mediadas pela fé. A modernidade secularizada usa o método científico, empirista, para demonstrar os fatos. O que não pode ser comprovado empiricamente, o que a ciência não pode provar não pode ser aceito como modelo para a vida social. É a exclusão do objeto de fé, da religião da vida social, relegada à esfera individual e privada. No mundo da física o processo de desmonte das explicações teológicas foi desencadeado por Nicolau Copérnico e Galileu.
Karl Marx definiu a religião como ópio do povo e meio de alienação social. Segundo o filósofo Friedrich Nietzsche a fé em Deus era um obstáculo para a assunção de uma humanidade autêntica. Freud via na busca de Deus uma recusa à maturidade, optar pela infantilidade, buscar os cuidados de um Deus semelhante a um pai super-protetor. Ponto comum a esses pensadores era o objetivo de libertar o ser humano da ignorância científica, da opressão social, do medo existencial e imaturidade psicológica. O ateísmo moderno pode ser entendido como a afirmação do ser humano desembocando na negação do divino.
A afirmação exacerbada do ser humano, proclamada na “morte de Deus” se voltou contra ele mesmo, esvaziando a pessoa, o mundo de sentido, direção e significado. A consequência é o surgimento da pós-modernidade líquida, com a perda de referência do ser humano, dos valores, a fluidez, ausência de estabilidade, inconsistência e mutabilidade. O homem não basta a si mesmo, a insuficiência da ciência e da técnica nas respostas fundamentais relativas à existência, as ideologias não fornecem subsistência à alma e a razão não consegue responder ao desafio da totalidade. Esse é o resultado dessa mudança de enfoque.
A oportunidade do resgate do cristianismo do que ele tem de novidade está colocada na pós-modernidade, a relação entre fé e transcendência, superando a ditadura da razão, optando pelo saudável diálogo entre fé e razão, o desenvolvimento pleno do ser humano acontece. O cristianismo prega o surgimento do homem novo conformado a Jesus Cristo. Santo Irineu, Bispo de Lion, no século segundo, já havia constatado: “Gloria Dei vivens homo, vita autem hominis visio Dei”- A glória de Deus é o homem vivente, a vida do homem é a visão de Deus. Estar em relação profunda com Ele, uma visão face a face (Contra os Hereges, IV, 20,7).