Em Fernandópolis ainda não tem Metrô. Eu disse: ainda!... e nem precisará desse meio de transporte coletivo por muitos anos pela frente. Ainda bem. E quando chegar a hora, quem sabe, já haverá os teletransportadores de matéria. Ih! Tô sonhando! Voltemos à realidade. Isto é, à realidade metropolitana deste estado que muitos conterrâneos conhecem quando vêm para a Capital e deparam com o nosso trânsito caótico e que, por isso, entenderão facilmente minha abordagem.
Algumas semanas atrás, quando uma linha do Metrô teve as obras paralisadas devido a problemas ligados à licitação para sua realização, remeti-me à utilidade desse transporte coletivo que testemunhei durante muitos anos no Japão e a uma crônica afim que escrevi anos atrás.
Razões tive para escrevê-la naquela época, as mesmas que tenho agora, já que o trânsito em nossa cidade continua infernal! Daí porque ainda achar que o Metrô seja a solução para a locomoção em qualquer metrópole - desde que com linhas suficientes, devidamente integradas com transportes de superfície e programas de esclarecimentos para seu uso como prática normal a qualquer classe social.
Até acho que a personalidade tão conhecida dos paulistanos, de "pavio curto", por exemplo, seja também conseqüência da convivência diária com essa situação selvagem do nosso trânsito e que só tende a aumentar o "stress" dos nossos cidadãos. Sei que não é fácil, para muitos, fazerem uso de nossa rede de transportes coletivos porque além de insuficiente, é precária.
Lembro-me de uma secretária, em uma empresa que trabalhei na Giovanni Gronchi (Morumbi), que morava em Mauá. Era casada e tinha uma filha. O cotidiano dela era acordar às quatro da manhã para poder estar na empresa às oito, e ao fim de mais um dia de trabalho, só chegava de volta ao lar às 22h. Entre preparar o jantar e as coisas da filha para o dia seguinte, dificilmente dormia antes da meia-noite. Assim como ela, milhares de trabalhadores participam dessa maratona de maneira semelhante. É o retrato de um povo sofrido.
Razão pela qual ter me deslumbrado com o que vi, certo dia, ao me utilizar do metrô. Até levanto uma bandeira: "o povo brasileiro não tem o hábito de ler porque não temos linhas de Metrô suficiente!!" Sim, porque vi nos vagões do Metrô, inúmeras pessoas lendo alguma coisa, um livro, uma revista, um jornal, um gibi. Talvez apenas para ocupar o tempo. Que seja! Mas é assim que se pega o gosto pela leitura.
Alguns dormiam. Mas, daí, pensei que bem faria àquela secretária, se também tivesse essa mesma oportunidade, em algum trecho de seu percurso. Né, não? Até porque, em nossa cidade de geografia acidentada, buracos e péssimos motoristas, é impossível ler algo ou mesmo dormir em ônibus.
Assim, logo fiz uma assocação ao japonês que lê muito. “Vai ver que é devido ao deslizar suave de todos os veículos de transportes coletivos daquele país”, pensei.
Foi quando, de repente, fui interrompido em meu devaneio, por um um rapaz que estava no mesmo vagão, que sacou um cavaquinho e começou a tocar o "Brasileirinho". Daí, não tive mais dúvidas quanto à minha opinião sobre mais linhas de Metrô.