Ilson Ferro luta pela recuperação da AVCC

20 de Agosto de 2025

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Ilson Ferro luta pela recuperação da AVCC
  Para o contador Ilson Ferro, 2011 foi um péssimo ano. No mês passado, ele perdeu a mulher, Shiroko Mishimura Ferro. Antes disso, os voluntários tiveram o dissabor de ver a entidade ter que paralisar as atividades por falta de recursos. Há uma verba municipal anual, aprovada pela Câmara, destinada à entidade que ajudaria a fazer frente às despesas, mas o atual alcaide (nunca usei esta palavra, mas agora ela me parece adequada) só paga quando, quanto e da forma que bem entende. Os planos de pagamento dos encargos trabalhistas e outros, traçados pelo contador, vão por água abaixo. Nascido em Valparaíso há quase 62 anos, Ilson se mudou para Fernandópolis em 1962. Na entrevista, ele conta alguns fatos tocantes de sua vida, que em muitos períodos não foi nada fácil. Mas ele não desanima: Quer ver a AVCC novamente de pé, cumprindo sua sublime missão de combater o câncer.  
CIDADÃO: No dia 28, aconteceu a eleição da diretoria da AVCC. Como foi o resultado?
ILSON: Senti que houve pouca participação do voluntariado. A AVCC, depois da paralisação do atendimento, sofreu aparentemente uma desmotivação de boa parte dos nossos voluntários. Mas houve participação de tanta gente como sempre aconteceu, mas tivemos quorum, a eleição se realizou e o Adenilton Fernandes continuará na presidência. O Dr. Geraldo de Carvalho é o vice, o Fábio Zaneli é o tesoureiro, a Dra. Noêmia Sano é a segunda tesoureira, a secretária é a dona Odete Fernandes, o segundo secretário é Olavo Sgotti, o conselho fiscal é composto por Anderson Sartoreto, Gilmar Biazi e Jesus Nogueira.
CIDADÃO: Diante de todas as dificuldades que a AVCC enfrentou nos últimos tempos, quais são as perspectivas da diretoria? Como vocês reerguerão a entidade?
ILSON: Temos que reabrir a entidade para cuidar dos clientes do home care. Depois da paralisação, eles ficaram totalmente abandonados. Então, independentemente de acerto com o Hospital do Câncer de Barretos, ou mesmo alguma outra opção, nós vamos reabrir.
CIDADÃO: O serviço denominado home care atendia a quantos pacientes?
ILSON: Quando estávamos em fase de atendimento, eram cerca de 60 pessoas por mês. Algumas têm atendimento diário, outras mais de uma vez por dia, e outra uma vez a cada três dias.
CIDADÃO: A população de Fernandópolis vive se perguntando como vão as negociações com Barretos. Em que pé está a negociação?  
ILSON: O problema é o seguinte: já levei ao cartório todos os documentos e pedi uma minuta da escritura. Só que esse impasse do acerto com os médicos – que só existe em virtude de não termos recebido da prefeitura, inclusive fizemos uma reunião com a participação do prefeito, do doutor Evandro Pelarin, do Adenilton, do Carlos Lima, da Candinha, Etore Baroni – uma série de pessoas que viram o prefeito prometer pagar em três parcelas os R$ 140 mil restantes. No dia 16 de novembro, tinha vencido a primeira parcela e ele repassou apenas R$ 20 mil. Assim, a negociação com os médicos continua no departamento jurídico, com o Dr. Henri Dias.
CIDADÃO: O impasse trabalhista impede a outorga da escritura. Você acha que há má vontade nessa história?
ILSON: É difícil dizer. Só se for mesmo da nossa administração pública, porque, na verdade, o prefeito entende que teria até dezembro para pagar os R$ 140 mil. Ora, já é dezembro! Acho que o prefeito, em momento algum, se sensibilizou com a real situação da AVCC. Nós temos preocupação com os pacientes, ele não.
CIDADÃO: Como está o estado de espírito do voluntariado que não participa da diretoria, mas que sempre apoiou a entidade em suas promoções?
ILSON: Os voluntários estão desanimados. A gente está percebendo isso nitidamente. Por isso é que é importante, independentemente do acerto com Barretos ou outro hospital, a reabertura do atendimento home care. Nossa preocupação é, primeiramente, o paciente, e em segundo lugar o voluntariado, que não podemos deixar jogar a toalha.
CIDADÃO: E o sorteio do carro? A campanha vai bem?
ILSON: Está um pouco lenta. O sorteio foi adiado para 31 de dezembro. A venda desses cupons será primordial para a reabertura do ambulatório que será responsável pelo home care. Dessa forma, temos que deslanchar na venda desses cupons e convocamos os voluntários para que se dediquem bastante a esse trabalho. Nós vamos começar praticamente do zero, com a contratação de profissionais da área de enfermagem. A contratação de médico ainda não foi discutida, mas é um detalhe que será resolvido.
CIDADÃO: Onde podem ser encontrados os números do sorteio?
ILSON: Em todas as lotéricas, lojas, bancas de jornal, etc. Onde houver um dos nossos cartazes, os números poderão ser adquiridos.
CIDADÃO: Você passou por um grande drama no mês passado: a morte da Shiroko, sua mulher. Não quero que você fale dela como sua esposa, e sim como a líder da Associação Comunitária Maria João de Deus. Como ficará a entidade sem a Shiroko?  
ILSON: O vice-presidente José Galani assumiu, e eu passei a ser o vice-presidente. Vamos dar sequência às atividades, como era da vontade da Shiroko. Todo o equipamento da escola Kumon foi levado para a associação. Estamos fazendo uma biblioteca, já em fase de acabamento – inclusive, os armários e estantes da escola serão aproveitados. Temos as dificuldades financeiras de praxe, a Shiroko lutava muito pela entidade. Era a sua vida. Ela estava na entidade desde a fundação, em 1990. São 21 anos...
CIDADÃO: Creio que 2011 foi um ano difícil para você, não é?
ILSON: Foi, sim. Parece que eu não tenho muita sorte com o final 1. Em 2001, sofri o acidente no qual perdi meu filho, que estava junto, e a visão do olho direito. Toda a vez que ganho um neto, acontece um drama familiar. Este ano foi a mesma coisa: ganhei outro neto e a Shiroko se foi. É muito difícil.
CIDADÃO: Que mensagem você mandaria à Shiroko?
ILSON: Shiroko era uma pessoa calada. Não falava, agia. Tanto que, na campanha do Supermercado Pessotto para as entidades, foi dela a idéia de colocar os meninos da Associação Comunitária para fazerem a marcação de pontos. Atualmente, a associação está em segundo lugar na tabela. Os meninos vão para lá nos finais de semana e conversam com os consumidores. As pessoas muitas vezes têm dúvidas de em favor de quem vão marcar os pontos. Então, os meninos mostram nosso trabalho, para que as pessoas canalizem os pontos para nós.
CIDADÃO: No que consiste o trabalho da Maria João de Deus?
ILSON: A associação “adota” as crianças e luta para evitar que percorram o caminho da marginalidade. Ela fica num bairro complicado, o Jardim Ipanema, com muitos problemas ligados ao tráfico de drogas em particular e à criminalidade em geral. Na associação, a criança tem alimentação, assistente social, psicóloga e cursos de informática. Os meninos praticam esporte e recreação. Quem estuda de manhã vai à tarde, e vice-versa. Temos 50 crianças nesse programa. Mesmo com tanta dificuldade, o trabalho tem caminhado bem. A Shiroko, lá de cima, está supervisionando tudo. Este mês, faremos a campanha da pizza, as quais serão vendidas na praça central.
CIDADÃO: O que você pensa da cidade em que vivemos, neste exato momento?
ILSON: Para ser sincero, atualmente não sinto orgulho de Fernandópolis. Obras iniciadas não são terminadas, a administração não paga os credores, e, diferentemente do que acontece nas cidades vizinhas, o apoio oficial não existe para as entidades. Votuporanga tem dois ou três deputados, nós não temos nenhum. A população da cidade tem que assumir a responsabilidade de trocar o que aí está. Só que é preciso oferecer opções. Sem isso, fica complicado.