No Brasil, uma das técnicas mais usuais de mascarar fatos e responsabilidades é a adoção de um “bode expiatório” – aquele que ficará com a culpa, que pagará pelos demais – e, infalivelmente, esses “demais” são pessoas que ocupam postos acima do “bode”.
É difícil para um adulto acreditar que toda essa trama obscurantista saiu da cabeça da vereadora Maiza Rio. Também difícil é crer que os vereadores André Giovani Pessuto Candido e Neide Nunes Borges Garcia Gomes tenham se omitido da discussão sobre adotar ou não o sigilo nas comissões.
Para quem conhece pessoalmente o advogado Guilherme Soncini da Costa, é igualmente difícil enxergá-lo como o articulador, o “autor intelectual” da manobra ocultista: advogado militante das melhores causas sociais da OAB, Soncini é uma importante reserva democrática da cidade de Jales. Manobras totalitaristas não combinam nem com o seu passado, nem com sua personalidade.
Na sessão da Câmara do dia 22, a vereadora Cândida de Jesus Silva Nogueira se declarou, publicamente, contra a decretação de sigilo nas Comissões Processantes. Por que, então, teria assinado a ata? A explicação da vereadora é simples: “Errei ao não fazer consignar na ata minha postura contrária”.
Não é preciso muito esforço para entender que a pressão é grande sobre os parlamentares. Do grupo interessado mais diretamente no resultado final, seria até considerável “normal” – assim, entre aspas.
O que assusta é a suspeita que fica – a de que alguém, nas entranhas do próprio Poder Legislativo Municipal, estaria manipulando os cordéis da cena.
A lição que fica desse episódio é que, face ao clamor das instituições ditas democráticas, da imprensa e dos cidadãos participantes, o sigilo foi revogado nesta quinta-feira.
Na opinião deste jornal, há um grupo de heróis que merece boa parte dos louros dessa vitória da democracia: os sete fernandopolenses que tiveram a coragem de ir à Câmara na terça-feira, com mordaças e narizes de palhaço, para criticar o silêncio compulsório.
Como os Sete Samurais, eles combateram o bom combate. E é significativo que a maior parte deles seja constituída de professores: afinal, professores representam o Saber.
O povo não sabe a força que tem. Se descobrir, quem sabe conquistemos a nossa “Primavera Árabe”: afinal, outubro de 2012 cai na primavera.