Como se não bastasse a constante falta de medicamentos na Farmácia Municipal, a irresponsabilidade põe em risco a vida da população dependente dos remédios da rede pública.
A idosa Sofia Pirondi Montini, 84, foi parar na Santa Casa, após tomar remédios errados entregues por uma funcionária, ainda não identificada, da Farmácia Municipal. Sofia é hipertensa e faz uso continuo do medicamento Captopril para controlar a pressão.
Para que dona Sofia não tenha que se deslocar até a farmácia, sua filha Adélia Montini da Silva há muito tempo busca os remédios da mãe na instituição municipal. “Minha mãe já é de idade, por isso eu sempre busquei os remédios para ela”, afirmou Adélia
Da última vez, no dia 31, Adélia fez o mesmo que está acostumada a fazer. Foi até a farmácia, esperou sua vez e entregou o cartão de cadastro de sua mãe, onde consta o nome do remédio, a dose em miligramas e a posologia.
No cartão está bem nítido – Captopril, de 25mg, no entanto uma das funcionárias da farmácia entregou para Adélia Furp-Glibenclamida de 5mg.
“Eu sempre peguei os remédios da minha mãe aqui. Como eu entreguei o cartão e lá está tudo certinho eu nem olhei para ver se eram mesmo aqueles remédios. A gente confia neles, foi um descuido meu, agora imagina se isso acontece com uma pessoa que não sabe ler, ela vai tomar o remédio errado até morrer”, disse a filha.
Esse remédio é um hipoglicemiante oral indicado para o tratamento do diabetes e usado para controlar a taxa de açúcar no sangue de pessoas que possuem a doença. No caso de Sofia, como ela não é diabética, o remédio lhe causou uma hipoglicemia, que é uma queda brusca na taxa de açúcar no sangue.
Embora a hipoglicemia possa causar uma variedade de sintomas, o problema principal de sua condição decorre do fornecimento inadequado de glicose como combustível ao cérebro, com prejuízo resultante em suas funções. Os desajustes nas funções cerebrais podem variar desde um vago mal-estar até ao coma e a morte.
A taxa de açúcar no sangue de Sofia, quando chegou à Santa Casa, estava em 44mg. Caso essa taxa continuasse caindo devido o uso continuo do remédio sem necessidade e chegasse a uma taxa menor de 40mg, ela poderia entrar em um coma hipoglicêmico e até morrer.
Nossa equipe de reportagem acompanhou Adélia até a Farmácia Municipal para averiguar o caso. Lá falamos com a farmacêutica responsável Elaine Proni, que afirmou que erros acontecem.
“Isso nunca aconteceu aqui. Deve ter sido em um dia que estava lotado, aí na correria alguém deve ter pegado o remédio errado e entregue a ela. Erros acontecem, até eu como farmacêutica já errei, infelizmente aconteceu isso dessa vez”, afirmou a responsável.
Ainda segundo ela, não é possível tomar nenhuma atitude, pois, não tem como identificar quem cometeu o erro.
“Não tem como a gente saber quem foi. É por isso que estamos extinguindo o cartão, agora quem for pegar o remédio terá que trazer a receita, por que assim ela será carimbada e assinada pelo profissional que atender, seja ele estagiário ou funcionário da farmácia. O que poderia ser feito era chamar a atenção dessa pessoa para que ela atente mais ao serviço, mas como ela (Adélia) não sabe quem a atendeu, fica complicado”, lamentou a farmacêutica.
Além dos funcionários contratados pela Prefeitura, estagiários do curso de farmácia da FEF – Fundação Educacional de Fernandópolis, também atendem na Farmácia Municipal. Existe grande rotatividade de estagiários, o que dificulta ainda mais a identificação do autor do erro.