De vez em quando, dá uma raiva do bicho-homem que vou lhe dizer! No final de semana, aproveitando que era o último com a pesca liberada antes da piracema, eu e o Luisinho fomos para o rancho do Marcos Mura, morador de Macedônia, que fica lá em Santa Izabel do Marinheiro.
Eu não conhecia o Marcão (que é um cara muito gente boa), mas estudei com seus irmãos mais velhos, o Roberto e o Pedro. Aliás, o Pedro até apareceu por lá no sábado, junto com os pais, a mulher e uma irmã.
Bem, o que quero relatar é que, ainda na sexta-feira à tardinha, estávamos saindo para o rio quando algo caiu de uma pequena árvore na entrada do rancho. Era um filhote de periquito, já empenado e em idade de voar. Porém, ele tentou correr na grama, todo desajeitado. Pegamos para ver o que havia de errado com a ave.
Algum espírito de porco cortou-lhe as penas da asa direita, o que o impedia de voar. Certamente ele escapou do cativeiro e chegou ali, sabe-se lá como.
Ficamos preocupados, porque algum gato ou cachorro poderia matá-lo. Assim, nós o pusemos numa caixa e demos água e comida. Em poucos minutos, ele se acostumou conosco e andava sobre a mesa. Terminou por sentar numa janela do rancho.
Não demorou e um casal de periquitos adultos – que só poderiam ser os pais – pousou na goiabeira ao lado. Eles não paravam de matraquear, e o macho dava uns voos rasantes sobre nós, tentando fazer o filhote acompanhá-lo. Este dava mostras de querer ir, mas não conseguia.
Ficamos numa sinuca de bico: não podíamos levá-lo pra casa, porque é animal silvestre; e não havia ninguém da polícia ambiental por ali, para entregar a ave (lá, o telefone não pegava).
Quando eu e o Luisinho viemos embora, deixamos o problema para o Marcão. Este dizia que não haveria outra solução senão pô-lo no galho da goiabeira e deixá-lo à própria sorte. Mas ah!, se eu pego o imbecil que cortou as asas do pobre palmeirense mirim!...