Michel Aires Baroni nasceu em Fernandópolis no dia 9 de abril de 1988. O filho de Ademar Baroni e de Eunice Pântano Baroni logo revelou talento para o futebol e, aos 16 anos, estava no Corinthians, jogando nas divisões de base. Depois de temporadas em Barueri, na Bahia e até em Portugal, ele decidiu voltar para casa e se dedicar mais aos estudos. Aluno do 2º ano de Direito da Unicastelo, em 2011 ele aceitou o convite para voltar aos gramados pelo Fefecê, no ano do Cinquentenário do clube. Não conseguiu o acesso, mas foi um dos destaques da “Águia”. Nesta entrevista, o articulado Michel, 1,79m e 78 kg, conta alguns detalhes de bastidores e admite: no futebol, às vezes a sorte fala mais alto do que a competência.
CIDADÃO: Como foi que você começou a carreira?
MICHEL: Sempre gostei de jogar futebol e fui apoiado pelo meu pai. Estava nas escolinhas quando dei sorte em uma situação. Quando estava na idade de juvenil, veio um pessoal de São Paulo assistir ao coletivo. Joguei bem nesse dia e me levaram para o Corinthians. Nessa época, eu estava pensando em que faculdade fazer, mas acabei indo para o Timão. Eu tinha 16 anos, era 2004. Fiquei até 2005, quando fui campeão paulista Sub-17. Fui emprestado ao Barueri, e nesses quatro anos passei por Portugal, pelo Fluminense de Feira de Santana e pela Inter de Limeira. Foi uma carreira curta, que veio terminar em Fernandópolis – pelo menos eu espero que tenha terminado, mas a gente nunca deve falar que parou de jogar futebol.
CIDADÃO: Mas por que tanta decepção aos 23 anos de idade?
MICHEL: O futebol é mais sorte do que competência, sempre disse isso. Nunca me faltou postura profissional, dentro e fora de campo. Só que acontecem certas coisas inexplicáveis nesse esporte, o sol brilha para uns e para outros, não. Porém, não sou um cara frustrado, nada disso. Sou bem tranqüilo, gosto de futebol, de discutir, de assistir. Só que chega uma hora em que você traça algumas metas, alguns objetivos que provocam a necessidade de opção – ou isso ou aquilo. Neste ano, não fiz qualquer projeção de futuro, no sentido de jogar em outras equipes, nada. Apenas quis ajudar o Fefecê. É gostoso jogar em Fernandópolis, mesmo tendo a pressão de ser prata da casa. Acho que, nesse sentido, deu tudo certo. Não sei se vou mesmo parar, vou cursar o terceiro ano da faculdade em 2012, e estou privilegiando os estudos.
CIDADÃO: Você cursa o segundo ano de Direito na Unicastelo. Está gostando do curso, se identificando com o Direito?
MICHEL: Quando tinha 15 anos, eu queria fazer Medicina. Só que acho que essa profissão é um dom, uma coisa que aproxima o profissional de Deus, que é o dom de salvar vidas. Acho que não era a minha área. Como gosto muito de conversar e sou extrovertido, além de ter irmãs que cursaram Direito, fui para esse curso, e afirmo: adoro fazer Direito, gosto de estudar, de ir à faculdade. Não sei se serei advogado ou se vou prestar concurso público, mas tive a certeza de que estava no caminho certo já no primeiro dia de aula. Aliás, mesmo quando tinha 18 anos e jogava futebol profissional, já tinha decidido que faria Direito quando parasse de jogar. Era o que eu queria para a minha vida.
CIDADÃO: Falemos do campeonato da Segundona deste ano, o ano do Cinquentenário do Fefecê. Havia uma expectativa muito grande pelo acesso, a diretoria investiu e trabalhou sério, e a verdade é que o time “ganhou” a torcida. O que aconteceu?
MICHEL: Nosso time vinha numa crescente. O planejamento foi bom, e conseguimos resgatar a confiança da torcida. Porém, essa ascensão se deu, digamos, um pouco cedo. Caímos diante do Guaçuano e ficamos temerosos. Sabíamos que o torcedor de Fernandópolis cobra muito. Particularmente, eu, que estava suspenso por causa da expulsão em Mogi Guaçu, estava preocupado porque iríamos enfrentar o Barretos, que para mim, junto com o Capivariano, era a melhor equipe do torneio. Jogamos sem o Boto, o Tiziu, o João Paulo e eu. Aos 20 minutos, o Edmar saiu machucado. A verdade é que fomos muito prejudicados pela arbitragem durante todo o campeonato. Em Mogi, puseram um árbitro em final de carreira que nunca foi além dessa divisão. Nunca vi arbitragem tão ruim.
CIDADÃO: Duas rodadas antes desse jogo com o Barretos, houve o episódio da saída do João Paulo. Depois disso, nosso ataque nunca mais fez gols – os poucos que saíram foram marcados por você e pelo Kauê, que jogam atrás.
MICHEL: É, até foi engraçado porque eu marquei o primeiro e o último gol do Fefecê no campeonato – e o pior é que no começo do ano tinha dito, de brincadeira, que iria fazer isso.
CIDADÃO: Até onde a saída do João Paulo prejudicou o time?
MICHEL: O João recebeu uma sondagem, semanas antes desse episódio, e eu disse a ele: “Você sabe como é futebol: só tem garantia depois do contrato assinado”. Depois, não conversamos mais sobre isso. Ora, o João Paulo era a nossa referência na frente, um dos melhores jogadores do campeonato. Os técnicos e jogadores adversários tinham medo dele. Os zagueiros dos outros times pediam para ele maneirar. João não esbanja técnica, mas é um atacante de força, que impõe prefeito. Tem uma frieza dentro da área que impressiona. Eu dizia a ele: “Você é igual o Kleber do Palmeiras: em vez de apanhar, bate no zagueiro...” Dentro do grupo, ele era muito respeitado. “Apertou o jogo, joga no João!”. Fora as brincadeiras que eu e o Tiago (Pansani) fazíamos com ele, que elevavam o astral do grupo. Em Barretos, ele ficou emocionado, acho que já sabia que não vestiria mais a camisa azul. Ele queria jogo. Posso lhe garantir uma coisa: o João queria disputar o campeonato até o final. Só que aí já não dependia só dele.
CIDADÃO: Num campeonato longo são comuns os percalços, como o acidente do Tiziu, a queda de produção do Itamar. Mas e a questão da restrição a atletas maiores de 23 anos que existe na 2ª Divisão? Não é mais difícil montar uma equipe nessas circunstâncias?
MICHEL: Antes, eu era a favor disso. Mas depois que disputei essa divisão, passei a vê-la com outros olhos. Os times não podem fazer um investimento tão grande – o Barretos deve ter gasto 1 milhão, o Fefecê 500 ou 600 mil – em garotos de 18, 19 anos, porque nunca se saberá o retorno, o risco é muito grande. Poucos jovens nessa idade têm bagagem para disputar esse campeonato. Ao baixar a idade em dois anos, a FPF acabou com a Taça São Paulo. Essa era a maior vitrine para os garotos que terminam a temporada Sub-20.
CIDADÃO: Afinal, qual é a sua verdadeira posição?
MICHEL: Pô, este ano eu joguei em várias, queria colaborar com o Fefecê. Para mim, versatilidade é qualidade. No Corinthians, eu jogava numa lateral e o Fagner na outra. Considero o Fagner, hoje, o melhor lateral do Brasil. No Barueri, não havia tanta peça de reposição e às vezes eu ia de volante, às vezes de meia. Este ano, no primeiro jogo, o China me escalou de centroavante. Você sabe que nessa posição basta fazer gol, né? Não precisa nem jogar bem. Porém, três partidas sem marcar é crise na certa. No primeiro jogo, fiz o gol, mas não estava me sentindo à vontade. Hoje, prefiro jogar na lateral, por causa da força física – só que fui me condicionar na metade do torneio, não se esqueça de que eu fiquei dois anos parado.
CIDADÃO: Qual foi o seu melhor momento nesse campeonato?
MICHEL: Depois que o João Paulo saiu, eu chamei um pouco a responsabilidade, talvez por ser de Fernandópolis e por ter passado por vários clubes. Chamei isso principalmente fora do campo, conversando com os meninos, alertando para a importância desse acesso na carreira de cada um. Dentro do campo, mudei minha forma de jogar, busquei mais o ataque, conversava com a arbitragem. O China ficou muito brabo comigo quando fui expulso em Mogi, ele não queria abrir mão da minha presença no jogo em casa contra o Barretos. Mas o meu grande destaque individual foi mesmo essa chamada de responsabilidade, não me saí de todo mal. Eu dizia: esse grupo nunca vai perder um jogo sequer, se depender da amizade, da união. Era sensacional. O China é técnico de primeira divisão, sempre teve o grupo na mão.
CIDADÃO: Quem é o cara no futebol brasileiro, hoje?
MICHEL: Cara, conheci o Neymar com 14 ou 15 anos, eu o vi jogar em Barueri. Já tinha personalidade de jogador de seleção. Não foi bem naquela partida, mas mostrou essa força moral. O que ele faz hoje é fantástico, Nossa Senhora!
CIDADÃO: Qual é o seu consolo para a torcida do Fefecê? (risos). O que se pode esperar no próximo ano?
MICHEL: Conquistamos uma coisa muito importante em 2011: resgatamos a credibilidade do time, e com isso reconquistamos a torcida. Hoje o respeito pelo clube é diferente, no cenário futebolístico paulista. Tem que continuar esse trabalho, aprimorando-o. O Fefecê não começou esta temporada no zero: começou no negativo, por causa das dívidas trabalhistas. Eu era um jogador que estava a par de tudo, fazia o meio de campo entre elenco e diretoria. Minha mensagem é: continuem acreditando no Fefa. Jogando ou não, eu vou participar, vender rifa, o diabo. Gosto do Fernandópolis, e é gratificante ver o estádio lotado. Independentemente de política ou de qualquer outra coisa, é preciso gostar do Fefecê. Esse ano bateu na trave, quem sabe em 2012 a bola entra.