A doutrina da reencarnação defende que a pessoa humana, ao fim de sua existência, não está plenamente evoluída. O ser humano, no momento de sua morte, se apresenta carregado de falhas, desejos e projetos não realizados, elementos fragmentados, fracassos e omissões. A pessoa humana, no decorrer de sua existência, formando a personalidade não desenvolveu as características positivas, as negativas ocuparam espaço. A personalidade humana ficou fechada em si mesma, estática, não correspondendo às possibilidades do ser projetado para a realização e a felicidade.
As grandes religiões traçam referências para as pessoas como projeto. Essa realidade existencial de não realização, não evolução inquieta, pois chegando ao termo de sua existência não desenvolveu todas as potencialidades possibilitando tornar-se uma pessoa em plenitude. A pessoa morreu, sua vida terminou, sua personalidade está incompleta e fragmentada, consequência do como viveu a sua vida. Como fazer?
Os defensores das doutrinas de reencarnação resolvem a questão propondo novas existências, vivências, o repetir de novas vidas humanas em outros corpos, épocas e contextos sociais diversos. A pessoa poderá evoluir mais nas sucessivas vivências. Será possível purificar o seu carma, vida após vida, tornando-se uma pessoa melhor, após um infinito número de reencarnações, aproximando-se de uma referência plena, a evolução.
A religião cristã diante desse mesmo problema postula uma resposta radicalmente diferente. Partindo do pressuposto que, na morte, o ser humano não alcançou a plena realização de suas possibilidades, mormente ter tentado realizar essa tarefa. Apesar da fragmentação da vida, para que se cumpra o objetivo para o qual o homem foi criado, a religião cristã não pensa uma série de vivências novas em diferentes contextos históricos. A concepção cristã apresenta a sua originalidade concebendo um Deus criativo que não se limita a repetição de estruturas básicas, praticamente iguais da vida humana, repetição de parâmetros já experienciados, no quadro de novas vivências humanas.
A visão cristã entende que na morte o ser humano dá um salto qualitativo na perspectiva de dimensões novas que não foram vividas antes. É o emergir de outra dimensão, novas experiências, que se caracterizam como abertura para Deus. Nessa perspectiva o ser humano entrará na morte não em correspondência à sua natureza, mas pela vontade de Deus. O Deus que o homem encontra na sua morte é o Deus que deseja e “quer que ninguém se perca, mas que todos venham a converter-se”(2Pe 3,9), espera que “todos os homens sejam salvos”(1 Tm 2,3-4).
A religião cristã coloca sua confiança no projeto salvífico de Deus, professando uma resposta plena de esperança: Deus acolhe o ser humano na sua morte de forma pessoal, com suas fraquezas, falhas e todas as fragilidades de uma personalidade que não chegou ao seu ideal. Deus usando os seus parâmetros mostra à pessoa a vida que ela viveu, o quanto ela vale comparando ao projeto Dele. Pela primeira vez, cada pessoa, na sua morte, vê desenrolar toda a sua vida na perspectiva fragmentária e inacabada. A possibilidade de tornar-se plenamente pessoa é oferecida na morte, passando por um processo de evolução com Ele e na presença Dele.
O ser humano, na sua morte, não fica preso à sua própria nulidade, mas vai ao encontro de um Deus que ama e que formula, mais uma vez, um convite à conversão e crescimento. Em sua graça e misericórdia oferece o que lhe falta para que aceitando o processo que tem origem em Deus possa se plenificar como pessoa.