Se houve alguém que se surpreendeu com o decreto de desapropriação assinado pelo prefeito Vilar no dia 7 – de uma área de 16 alqueires ao lado da Expô – esse alguém é Orlando Sanchez Garcia Filho, o “Dinho”: afinal, como procurador do grupo proprietário da área, a MMJP Empreendimentos, ele encaminhou as negociações de aprovação do loteamento com a administração. Com a papelada em ordem, Dinho acertava os últimos detalhes do empreendimento quando soube da decisão. Agora, esse fernandopolense de 55 anos, bairrista como ele só, casado com Elza Matos Garcia (outra fernandopolense de família tradicional) e pai de Tatiana, Juliana e Luciana, torce para que impere o bom-senso nas negociações e que Vilar reveja algumas posições.
CIDADÃO: Como você recebeu a notícia do decreto de utilidade pública para fins de desapropriação, assinado pelo prefeito Vilar, relativo aos 16 alqueires da MMJP?
ORLANDO: Com muita surpresa. Achei que foi deselegante a atitude do prefeito, porque em 2009, quando eu trouxe o grupo para conhecer nossa cidade – eles já tinham feito investimentos em Olímpia, Barretos, Rio Preto, Uberaba, Uberlândia – o fiz porque acho que nossa cidade merece o aporte de capitais de empresários de fora, para seu desenvolvimento. Mostrei aquele imóvel, que estava sob a responsabilidade de venda da Imobiliária Carvalho, do Adelmo, e era a única área compatível que estava à venda naquele instante. Mostrei-a aos meus clientes e depois visitamos a prefeitura. O prefeito estava em Brasília, mas o Neoclair e o Valdir Erédia, do Desenvolvimento Sustentável, foram ao local com os compradores e deram o sinal verde ao projeto de loteamento. Tudo foi feito com muita clareza, com muita seriedade. Esta é a minha cidade, eu nasci aqui, quero ver a cidade crescer.
CIDADÃO: Esse grupo é muito consistente economicamente, não é?
ORLANDO: Sem dúvida. O grupo é de Patos de Minas e está nesse ramo há muito tempo. Eles têm loteamentos em várias cidades. Eu os represento no Estado de São Paulo. Inclusive, quero dizer que em princípio os olhos deles se voltavam para Votuporanga, e consegui convencê-los a canalizar os projetos para Fernandópolis. Por isso, fico muito entristecido, chateado, primeiro porque sou amigo do Vilar e acho que não precisava ter sido feito desse jeito. O loteamento não vai atrapalhar em nada a Exposição. Ando pelo Brasil inteiro e posso dizer que a Exposição de Goiânia, por exemplo, fica praticamente dentro da cidade, e não atrapalha em nada. Rio Preto, todo mundo sabe, o recinto está cercado pela cidade. Votuporanga idem. Não sei por que nossa cidade tem esse preconceito. Um investidor que vem trazer novos 1500 carnês de IPTU, que gerarão quase R$ 1 milhão por ano para o município, tem que ser respeitado.
CIDADÃO: Quais são as características desse empreendimento, o Jardim Vitória?
ORLANDO: O Jardim Vitória tem uma área de 16 alqueires ou 388 mil m2. A área foi adquirida ao Sr. Charles Vidal e demorou um pouco para sair o projeto porque existe uma burocracia muito grande, principalmente em relação à questão ambiental. Hoje está tudo pronto, inclusive com as certificações da Cetesb. Até a autorização para retirada de algumas árvores já está em nossas mãos. Fomos É um novo marco para a cidade, uma região nova. Fernandópolis precisa crescer. Os lotes têm padrão médio de 400 m2, com toda a infra-estrutura de asfalto, água, luz.
CIDADÃO: Não é surpreendente que a prefeitura, que aprovou o loteamento, seis meses depois decida desapropriar a área?
ORLANDO: É muito surpreendente. Quero deixar claro: não sou político, sou um empreendedor que busca gente e recursos capazes de provocar o desenvolvimento de Fernandópolis. Morei em 14 cidades do Brasil e conheci muita gente. Meu maior patrimônio é o relacionamento com empresários, e acredito que o prefeito Vilar vai analisar melhor a situação. Até propus permutar uma área mais próxima do recinto para ser usada como estacionamento, já que, pelo visto, o que está pegando é essa questão. O Vilar disse que iria estudar essa proposta, e de repente aparece essa desapropriação.
CIDADÃO: No ato de aprovação do loteamento, lavrado no dia 18 de abril deste ano, há um parecer jurídico do procurador João Ignacio Pimenta Junior onde este orienta a administração a exigir da MMJP a emissão de uma nota promissória no valor de R$ 5.973.396,16 como garantia da execução do projeto. Isso não é comum. Qual é a razão dessa exigência?
ORLANDO: Fernandópolis já sofreu com a atuação de muitos “picaretas” nesse ramo. Acho até que é um procedimento justificável da prefeitura, porque, se a pessoa está investindo, tem que ter credibilidade. O grupo deu a promissória desse valor, mostrando que não está aqui para brincar. Então, a prefeitura está totalmente calçada, até financeiramente, de que a execução do projeto acontecerá. Não vamos vender um negócio que não existe. Inclusive o grupo já tem outro investimento na cidade: é na área de 15 alqueires que foi adquirida do Sr. Irineu Salioni, ao lado da Vila Veneto, que já está em andamento e deve ser aprovado em breve. Então, a MMJP não está aqui para brincar: ela veio para investir mais de R$ 40 milhões, porque a infra-estrutura custa caro.
CIDADÃO: Consta que a empresa tem estudos de aplicação de recursos em outros setores em Fernandópolis, como na hotelaria. Isso procede?
ORLANDO: Sim. Um braço da empresa é do ramo hoteleiro. Como Fernandópolis tem carência nesse setor, o próprio Vilar me pediu certa vez que buscasse investidores do setor. Eu respondi que o próprio grupo MMJP investe nisso. Numa das viagens que os empresários vieram a Fernandópolis, eles me disseram que queriam o terreno da Avenida Expedicionários, ao lado do Luau, para instalar um hotel. Entrei em negociações com o Mario e o Rui Ikeda e mostrei-lhes que seria bom para a cidade. Eles iriam investir R$ 4 milhões no imóvel para construir um prédio de dez andares. Ora, você acha que qualquer empresário, que é capitalista e obviamente quer ver retorno, em sã consciência vai voltar a investir em Fernandópolis, depois do que aconteceu com o loteamento? A tendência é puxar o freio de mão.
CIDADÃO: Houve muita dificuldade para viabilizar o loteamento?
ORLANDO: Houve muita exigência, principalmente de ordem ambiental. Tivemos que firmar o compromisso de plantar 760 árvores da flora tropical (nativas) só para tirar 80 árvores da área de 16 alqueires. Essas árvores serão plantadas numa propriedade do Sr. Kosuke Arakaki. Está tudo acertado há quase um ano. Queremos fazer tudo certo, e por isso temos toda a documentação necessária da Secretaria do Meio Ambiente, Cetesb, Ibama.
CIDADÃO: Os trabalhos no loteamento continuam normalmente?
ORLANDO: Sim, até porque não fomos notificados oficialmente de nada. Mas acredito que o Luiz Vilar receberá os empresários do grupo na próxima semana, quando eles virão à cidade, e sentaremos à mesa de negociações. Precisamos achar um caminho que conduza a uma solução satisfatória para todos. É perfeitamente possível solucionar o problema de estacionamento da Expô sem inviabilizar o loteamento. Quero deixar claro que, como filho de Fernandópolis, amo essa cidade. Ninguém gosta mais dela do que eu. Queremos o bem de Fernandópolis. Trabalho para trazer investidores, e tem dado certo, porque a ZPE é um excelente atrativo. Isso divulgou a cidade no Brasil inteiro. Temos que nos unir por Fernandópolis.
CIDADÃO: Você acredita nessa conciliação?
ORLANDO: Acredito piamente que o bom-senso prevalecerá. Não podemos perder esse grupo de investidores que está trabalhando honestamente pelo nosso desenvolvimento. Eles já compraram 30 alqueires e têm planos de comprar mais 30. Vieram para ajudar a cidade a crescer, temos que abrir as nossas portas.