O assunto mais comentado em Fernandópolis durante a semana foi a arrematação, por parte do empresário Marcos Pessoto, do Centro Comunitário da COHAB “Vereador Antonio Brandini” em leilão Judicial.
O Centro Comunitário foi a leilão após ação judicial movida pela Sabesp – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, por falta de pagamento de taxas de esgoto.
O montante da divida gira em torno de R$ 20 mil. Esse valor é referente ao não-pagamento de taxas de recolhimento de esgoto, durante cerca de duas décadas, acarretando juros e correção monetária.
Para um dos primeiros moradores do bairro e fundador do Centro Comunitário, Chico Arouca, ouve negligência e má-fé por parte de ex-presidentes da Sociedade de Amigos do Bairro.
“Eu fui o primeiro morador da Cohab a pegar a chave da casa e também fui o primeiro a reunir o povo para montar a associação do nosso bairro. Depois de muito suor e noites sem dormir, conseguimos montar essa maravilha que era o nosso centro que agora perdemos - tudo por causa de taxas de esgoto. Isso é revoltante”, disse Chico Arouca.
Revoltado com a situação, Chico contou um pouco da historia do Centro Comunitário:
“No começo foi muito difícil, nós não tínhamos sede, quando queríamos fazer algum evento tínhamos que buscar madeira e folhas de coqueiro em fazendas de amigos para conseguir montar alguma coisa. Nossa escola era para ser no bairro Ubirajara, e depois de muita luta consegui convencer o prefeito, que na época era o Newton Camargo, a nos fornecer a mão de obra, com a promessa de que iríamos conseguir o material para a construção da nossa sede, assim a escola poderia ser montada lá e não em outro bairro”, disse ele.
Segundo Chico, na época a associação não tinha nada além da vontade e da coragem de sua diretoria.
“Nos finais de semana nós retirávamos todas as carteiras lá de dentro, para fazermos festas e conseguir pagar o material que foi comprado. Foram noites e noites fazendo festas para conseguir pagar as contas, no domingo de madrugada tínhamos que colocar todas as carteiras de volta dentro do barracão, porque na segunda, as crianças já chegavam cedinho para estudar. Foi muito sofrimento, muita luta, mas conseguimos montar o maior centro comunitário da cidade”, afirmou.
Com o fim do mandato de Chico Arouca, outra diretoria assumiu a associação de moradores. Foi nessa ocasião, segundo Arouca, que começaram os problemas.
“Quando saí outra diretoria assumiu, mas não foi muito bem, só que pelo menos não estragaram o trabalho que já havia sido feito. Depois meu filho assumiu, construiu mais um barracão dentro da área e furou um poço artesiano. Quando venceu o mandato de meu filho, outra diretoria assumiu e desde então nunca mais pagaram a taxa de esgoto e é por isso que perdemos o nosso clube”, declarou Chico Arouca.
Segundo o advogado da atual diretoria Pedro Rodrigues Netto, essa foi a real causa da perda do imóvel.
“A divida vem se arrastando há anos. Em 2003, quando a Sabesp acionou a entidade, a dívida já estava em R$ 8 mil. Na época o presidente fez um acordo com a companhia e parcelou a divida, que começou a ser paga, mas por falta de condições foi suspenso o pagamento. Agora a atual diretoria tentou novamente entrar em acordo, mas a divida já ultrapassava os R$ 20 mil e a associação não tem condições de pagar essa quantia”, disse o advogado.
Ainda segundo ele, a Justiça não fez nada além do que cumprir a lei. “Foi tudo conforme a lei, a divida não foi paga, a Sabesp propôs a ação e a Justiça fez o que devia ser feito. Fizemos tudo que era possível, mas infelizmente não deu”, concluiu o advogado.
Após a execução judicial, o imóvel foi a leilão, onde foi arrematado por cerca de R$ 95 mil pelo empresário Marcos Pessoto.
Segundo informações extra-oficiais, o empresário pretende reformar e deixar o imóvel à disposição da comunidade. Nossa reportagem o procurou para comentar o assunto, mas devido a compromissos em outra cidade, ele não pode nos conceder entrevista.
Mesmo com a promessa do empresário de manter o imóvel para o uso da comunidade, o fundador da Sociedade de Amigos do Bairro Cohab Vereador Antonio Brandini, se emociona ao falar da perca do imóvel.
“Quantas e quantas noites, sábados, domingos e feriados, minha família, eu e alguns membros da primeira diretoria, trabalhamos exaustivamente para conseguir levantar aquele patrimônio, para agora a gente ver tudo se perdendo por irresponsabilidade dos outros. Isso é muito triste, e eu não tenho nem palavras para descrever a dor que eu estou sentindo. De todo o nosso trabalho, de todo o nosso suor, agora só sobraram as fotos”, concluiu Chico Arouca, com os olhos cheios d’água.