Chamel escolheu combater o bom combate

20 de Agosto de 2025

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Chamel escolheu combater o bom combate
O vereador fernandopolense Rogério Pereira da Silva, o Chamel, não frustrou as expectativas de seus eleitores. Levado à Câmara pelos votos da periferia da cidade, o ainda jovem – tem 38 anos – parlamentar está sempre pronto para defender os interesses das camadas mais humildes da população. Suas declarações contundentes incomodam o establishment, mas Chamel dá de ombros e vai em frente: afinal, ele está convicto de que escolheu o melhor caminho. Casado com Telma, pai de Rogerinho, Natieli e Norrieli, o vereador, que também é disc-jóquei, eletricista, técnico de som e pau para toda obra, dá mostras constantes de coerência no Palácio 22 de Maio. “Sou um militante de Deus”, afirma ele, nesta entrevista exclusiva. A turma do Diabo que se cuide.     
CIDADÃO: Por que você votou contra o Projeto 88/2011, que autoriza a doação de um terreno da prefeitura a um grupo de médicos-empresários que pretende construir um hospital particular?
CHAMEL: Essa doação gerou muitas dúvidas entre os vereadores e as comissões. Toda doação feita pelo poder público eu procuro observar com muito carinho e cuidado. Analiso o projeto detalhadamente, peso os prós e os contras. No caso específico desse projeto, logo na primeira semana em que foi a plenário eu pedi vistas, com o objetivo de buscar informações. Faço parte da comissão de orçamento e finanças. Aí, vi que o projeto não estava “redondo”, faltava, por exemplo, a avaliação do imóvel. Fiz o pedido de informação, que logo veio. Quando é de interesse do Executivo, a resposta vem rapidamente. Quando não é, demora. Chegaram avaliações de três imobiliárias, e a média deu R$ 2 milhões e pouco. Ali é uma área nobre. O projeto fala em doação com encargos – quem ganhar terá que dar no mínimo R$ 150 mil, pagos em cotas de exames. Achei isso muito pouco pelo valor do terreno. Pedi então mais tempo, para analisar melhor, mas não consegui adiar a votação. Tenho certeza de que teve vereador que, embora tenha votado favoravelmente ao projeto, ainda estava em dúvida. Eu votei contra. Temos que ter personalidade. Se eu tinha, como ainda tenho, dúvidas em relação a esse projeto, não poderia aprová-lo. Estou com a consciência tranquila, achei que não era uma coisa boa para o município. O valor é irrisório e não tem qualquer contrapartida para a população de Fernandópolis. Essas cotas de exames não beneficiarão a população carente. A licitação poderia ser, por exemplo, de R$ 1 milhão em cotas de exames. Esse hospital é particular. Se a doação fosse, por exemplo, para a construção de um hospital municipal, como existe em Ouroeste, eu seria favorável. Haveria convênio com o SUS, a população toda teria acesso...
CIDADÃO: Em julho de 2010, o jornal fez uma reportagem sobre esse imóvel, porque a prefeitura tinha movido uma ação de despejo contra o Sr. Fabio Santana, de 87 anos, que morou 50 anos no local. Foi ele que plantou as árvores lá existentes. Na ocasião, o filho desse senhor afirmou ter ouvido comentários de que um grupo de médicos da cidade estaria de olho no terreno para a construção de um hospital particular. Será que tudo isso não é uma grande orquestração política?
CHAMEL: Acredito que sim, porque a prefeitura fez o maior esforço para consumar o despejo. Logo que isso aconteceu, eles prepararam o projeto. Infelizmente, é Fernandópolis...Do ponto de vista do Poder Legislativo, não há mais nada a fazer, mas acredito que virá por aí uma ação popular contra isso. Ouvi rumores nesse sentido. Ora, um terreno de R$ 2 milhões vai ser doado para uma empresa particular, um grupo – aliás, alguém disse na Câmara que tem dois grupos disputando o recebimento dessa doação. Então, só pode ser coisa articulada. E a prefeitura ainda não resolveu direito o problema do Alcir (NR: Alcir é filho do Sr. Fábio Santana) que construiu sua casa lá no terreno. Aí mandam o projeto para a Câmara, em regime de urgência, querendo que a gente engula a doação do imóvel com encargos que são uma bagatela. Essas cotas de exames não trarão praticamente nenhum benefício para a população de Fernandópolis.
CIDADÃO: Mudando de assunto: você recebeu alguma comunicação oficial sobre aquela história de que o governador Alckmin supostamente teria se ofendido com declarações suas no plenário da Câmara?
CHAMEL: O que chegou até mim foram, primeiramente, as matérias de jornais e sites, radialistas comentando. Oficialmente, parece que o PSDB de Fernandópolis, através do Sabino e do Cabral, protocolou um pedido de cópia da gravação, para saber o que foi que eu falei na sessão do dia 13 de setembro, a respeito do governador, do prefeito, do secretário de Gestão Pública e do secretário de Habitação. O que eu disse – e continuo dizendo, se tiver que falar para o governador eu falo pessoalmente – que não se deve prometer uma coisa que não se pode cumprir. Eles entregaram as casas no final de maio, subiram no palanque, sabendo que a população não estava recebendo 47 casas (entregaram 253, mas as 47 ficaram para entregar em 60/90 dias) e falaram que entregariam em 60 ou 90 dias. O governador falou isso olhando para os secretários e para o prefeito. A população carente, necessitada de moradia, porque muita gente ali estava morando de favor ou pagando aluguel, está até agora esperando essas casas. Eu, como representante do povo, com assento na Câmara, não entrei na política mudo para sair calado. Fui eleito para defender os interesses da população. Como fui abordado por vários mutirantes, muitos deles meus amigos, que ainda não pegaram as casas, falei na tribuna pensando no bem-estar deles.
CIDADÃO: Afinal, foi essa camada da população que o elegeu e a quem você representa, não é?
CHAMEL: Meus votos vieram da população mais carente, a quem agradeço de coração. Se eles reivindicam, tenho que cobrar. Eles me deram um mandato de vereador. Nessa condição, é preciso ver que eu também estou neste momento investido de autoridade, conferida pelo povo.
CIDADÃO: Como em todos os partidos, o seu PSC sofreu algumas defecções nos últimos dias. Como está a situação do PSC nesse momento?                 
CHAMEL: O PSC está de cara nova. Foi um partido criado em Fernandópolis pelo falecido Santa Rosa, e nosso grupo está unido, apenas com algumas mudanças na direção. O Dorival Pântano agora é o presidente, eu sou o vice. Tem também no diretório o Joãozinho da Ikeda, o Rodrigo Ortunho, o Reinaldo Prado, a Maria do Socorro, conhecida como Help, o Rasteli e outros parceiros. Não há parentes, primos, etc, como se vê em alguns partidos. Trata-se de um grupo político, mesmo. Companheiros que na hora certa vão decidir juntos seu destino. Renovamos o comando do nosso partido e pretendemos lutar para renovar o comando da nossa cidade. É uma herança política deixada pelo Santa Rosa, que temos que preservar. Vamos deixar o partido “afinadinho” para as próximas eleições.
CIDADÃO: Apesar de ainda não ser a hora de fazer o balanço do seu trabalho parlamentar, quero saber se tem valido a pena e se você tem conseguido atingir seus objetivos políticos.
CHAMEL: Feliz, ainda não estou. Mas sou guerreiro, sou um militante de Deus. Entre Deus e o Diabo, eu escolhi Deus. Aí, na minha frente apareceu uma encruzilhada: o Poder Executivo – trabalhar para a elite – ou a pobreza. Fiz a opção preferencial pelos pobres, porque ainda não conheci um prefeito que trabalhasse para os pobres, com exceção do finado Newton Camargo. Espero que as coisas mudem. Ainda não estou feliz, mas consegui algumas coisas importantes. Eu tento, pelo menos.