No auge da sua “carreira” de pescador, o Deda – Artur Roberto Palumbo para a burocracia – era a garantia de boas histórias em qualquer pescaria. Sempre com a lata de cerveja na mão, o Deda, mal a caravana entrava na Rodovia Euclides da Cunha em direção aos rios de Mato Grosso ou Mato Grosso do Sul, se transformava num menino – muito parecido, aliás, com o Menino Maluquinho do Ziraldo.
Uma vez, fomos para o Rio São Lourenço. Na equipe, estava o Zico, paulistano que estreava em pescarias. Apesar de inexperiente, o Zico se revelou um grande companheiro, tanto que nos anos seguintes sempre era convidado para fazer parte da turma.
Bem, certa manhã o Deda, o Zico e eu subimos o Rio Vermelhinho, afluente do São Lourenço, em busca de piaus, cujos filés seriam usados como isca para os grandes pacus que eram abundantes naquele tempo.
Chegamos a uma ceva estrategicamente feita à sombra de uma árvore. Havia muito piau e uma espécie de primo dele, conhecido na região como “Cheiroso”.
O Deda inventou que só fisgava do lado esquerdo da boca dos peixes. “Se fisgar no meio ou no lado direito, eu solto”, afirmou para o crédulo Zico.
A partir dessa afirmação, a cada piau fisgado, o Deda dava um jeito com a mão, de sorte que o anzol e a linha, qualquer que fosse o lugar da fisgada, viravam para o canto esquerdo da boca do peixe. O Deda, então, mostrava o peixe para o Zico (rapidamente, para que ele não percebesse o engodo), livrava o peixe do anzol e continuava a pescaria.
Aquilo se repetiu a manhã inteira. Quando voltamos para o rancho, o Zico contou, assombrado, aos outros companheiros – Marrote, Jaú e Capitão Silva – a “façanha” do Deda, um pescador que conseguia adivinhar de que lado o peixe estava atacando o anzol, para então fisgá-lo, sempre pelo canto esquerdo da boca. Acredito até que ele tenha narrado esse episódio para seus amigos de São Paulo – e, claro, passado por pescador mentiroso...
