Seria natural que o jovem Franco Mendonça Yassoyama seguisse o caminho dos pais, Kiyoshi Yassoyama e Christina Botelho Mendonça Yassoyama, e estudasse Medicina. Porém, Franco não sentia a vocação para essa profissão e optou pela Engenharia. Nascido em Palmeira D’Oeste há 23 anos, ele se mudou em 1997 para Fernandópolis e estudou na Escola Coopere, de onde saiu para ingressar no ITA - Instituto Tecnológico de Aeronáutica, onde concluiu Engenharia Civil-Aeronáutica. Franco se formou no ano passado, e hoje trabalha na Arábia Saudita, onde sua empresa, a francesa Schlumberger, prospecta petróleo. Ele vive na cidade de Al-Khobar. De férias no Brasil (só embarca de volta no próximo dia 29) ele falou a CIDADÃO sobre sua aventura no oriente médio, a profissão e a formação escolar que recebeu em Fernandópolis.
CIDADÃO: Sendo filho de pais médicos, por que optou pela engenharia?
FRANCO: É verdade, fugi da regra familiar. É que não gosto de Medicina, não consigo ver sangue. Além disso, sempre gostei da área de ciências exatas, queria fazer engenharia.
CIDADÃO: Quando você definiu a vocação, tinha quantos anos?
FRANCO: Durante o colegial, ou seja, tinha entre 15 e 18 anos – se bem que nessa idade a gente ainda é meio imaturo para decidir o que quer fazer na vida, ainda bem que eu acertei. Muita gente inicia uma faculdade e acaba parando, para começar outro curso. Mas foi no colegial. A pressão da aproximação do vestibular obriga o estudante a se decidir.
CIDADÃO: O que a Escola Coopere representou para você, em termos de formação educacional?
FRANCO: A Coopere foi toda a minha base, tive excelentes professores aqui e muito incentivo para estudar – não só na escola, mas também dentro de casa. A escola sempre me incentivou, cobrando dos alunos que cada um descobrisse o seu ritmo de estudo. Isso faz diferença. Só no colegial é que entraram as apostilas, no fundamental a gente estudava pelo método construtivista, dando asas à criatividade na solução dos problemas. A gente aprende a aprender. Desenvolve métodos de pesquisa, aprende como achar as informações. Essa é a parte mais importante: não ficar numa linha só de raciocínio, ao contrário: resolver as coisas ao seu modo. É a anti-bitola.
CIDADÃO: No final de 2004, você estava às portas do vestibular. E aí?
FRANCO: Bem, prestei USP, Unesp e Ufscar. Não fui muito bem, não. Achava que estava mais preparado. Passei na Ufscar, mas acabei decidindo fazer cursinho preparatório para o ITA, que é muito bom, também. Pra falar a verdade, eu sonhava em fazer a Politécnica, da USP, mas acabei indo para a Engenharia Eletrônica do ITA. Depois, decidi passar para a Engenharia Aeronáutica.
CIDADÃO: Você sabe que, tempos atrás, o ITA enviou correspondência à Coopere parabenizando a escola pela sua formação?
FRANCO: Sim, eu soube dessa carta. Para mim, isso é motivo de orgulho e de gratidão, porque toda a minha base veio dessa escola. Estudei na Coopere da 4ª série até o 3º colegial. Não tiro os méritos do cursinho, que me deu respaldo específico para o vestibular – e o vestibular do ITA não é fácil, não. Sempre que venho a Fernandópolis, visito a escola. Sou muito grato a ela.
CIDADÃO: E o curso em si, é muito puxado?
FRANCO: É puxado, sim, como deveria ser qualquer faculdade. Só que cada um sabe o quanto precisa estudar. Se você definir isso, você vai bem.
CIDADÃO: Quando você se formou?
FRANCO: Em 2010. Hoje, trabalho numa empresa francesa chamada Schlumberger na Arábia Saudita, pesquisando poços de petróleo. Uma vez perfurado o poço, a gente entra em ação para detectar se ele é economicamente viável para produzir, refinar e vender o petróleo ou se não vale a pena – às vezes, o petróleo é muito impuro, ou a quantidade não viabiliza a exploração, já que as operações com petróleo são bem caras – uma plataforma em operação custa mais de US$ 1 milhão por dia. Se o petróleo não for de boa qualidade, não vale a pena produzir. A gente desce no poço para ver se vale a pena ou se é melhor fechar.
CIDADÃO: Quantas horas você trabalha por semana?
FRANCO:Eu trabalho doze horas por dia, exceto às quintas-feiras, quando trabalho um pouco menos.
CIDADÃO: Todo dia???
FRANCO: Todo dia. Dá umas 80 horas por semana.
CIDADÃO: Então você não tem vida social...
FRANCO: Não, lá não tenho mesmo. É como acontece nas plataformas da Petrobrás, que praticamente não tem ninguém da Petrobrás. Quem está lá são os funcionários das empresas que prestam serviços. Eu moro na cidade de Al Khobar. Lá, os costumes são totalmente diferentes, é uma cultura bastante diversa da nossa. Lá é o berço do Islamismo e é onde estão as duas cidades sagradas, Meca e Medina. Então, tudo é muito rígido, as mulheres andam de burca, os costumes são muito machistas, as mulheres não podem trabalhar. Não se vende bebida alcoólica em hipótese alguma.
CIDADÃO: E como é isso, para um jovem ocidental de 23 anos?
FRANCO: Na verdade, eu sabia que seria difícil, mas não tenho tido problema para enfrentar isso. O pessoal que trabalha e mora comigo desenvolve uma vida social interna. Os árabes não falam inglês, é bem complicado. Entre o pessoal da empresa, falamos inglês, português e um pouco de espanhol. Só que, como trabalho todo dia, nem tenho tempo de me preocupar com vida social.
CIDADÃO: Do ponto de vista técnico, qual é a posição do profissional brasileiro nesse contexto? É “linha de frente” ou está aquém dos profissionais do resto do mundo?
FRANCO: Os brasileiros são bastante procurados pelas empresas de petróleo. Aqui no Brasil, temos varias tecnologias de ponta relativas à extração e prospecção de petróleo, principalmente em águas profundas, caso em que o Brasil possui, disparado, a melhor tecnologia do mundo. Os profissionais brasileiros estão por toda parte. Lá na Arábia deve ter uns dez, onze brasileiros.
CIDADÃO: Então existe mercado de trabalho abundante na sua área?
FRANCO: Sim, o mercado é bem amplo. Basta você querer encarar e falar inglês. Se você não souber essa língua, mesmo dentro do próprio Brasil complica um pouco, porque tem muito material que vem em inglês. Hoje, essa língua é básica. Mas, voltando à questão da engenharia, esse é um mercado bastante aquecido na atualidade, principalmente a engenharia civil, por causa das obras para a Copa e as Olimpíadas. Meus colegas estão bem encaixados, não têm do que se queixar.