Após um ultimato do Procurador da República em Jales Thiago Lacerda Nobre, que determinava o pagamento, no prazo de cinco dias, das verbas devidas à AVCC – Associação dos Voluntários no Combate ao Câncer -, o prefeito de Fernandópolis Luiz Vilar de Siqueira (DEM) repassou, no ultimo dia de prazo, um cheque no valor de R$ 90 mil para a entidade.
O cheque foi entregue ao presidente da AVCC Adenilton Fernandes durante uma “coletiva” conturbada, convocada às pressas pela assessoria de comunicação da prefeitura na manhã de quarta-feira, 21.
Durante a “coletiva”, o prefeito anunciou a entrega do chegue à AVCC, afirmando que esse valor seria o necessário para cobrir as despesas indenizatórias dos funcionários da entidade que tiveram que ser dispensados. “O principal motivo dessa reunião, aliás, o único, é fazer a entrega do valor de R$ 90 mil ao Adenilton, para que a AVCC tenha as condições necessárias de pagar as indenizações trabalhistas dos funcionários da entidade”, disse o prefeito ao abrir a reunião.
No entanto, segundo Adenilton, esse valor é suficiente apenas para o pagamento dos funcionários (enfermeiros, atendentes, secretárias, faxineiras), mas não será possível indenizar os médicos do hospital. “Esse dinheiro é bem vindo sim, mas não é o suficiente para indenizar todos os funcionários do hospital. Com esses R$ 90 mil os médicos ficarão de fora do acerto”, disse o presidente da entidade.
BATE-BOCA
Até aquele instante, tudo ia bem na reunião - o dinheiro, embora insuficiente, era bem vindo, com ele seria possível fazer o acerto com os funcionários, mas uma critica feita pelo vereador Etore Baroni (PSDB), ao presidente da entidade incendiou a reunião.
“Do jeito que tudo foi dito em forma de ataque, saiu como se a AVCC estivesse fechando por causa da prefeitura e isso refletiu diretamente no prefeito Vilar e na Câmara Municipal. Muita gente me cobrou nas ruas perguntando como que a gente deixou a AVCC fechar. E isso não foi bem assim, sempre estivemos à disposição e continuamos assim, para tudo que a AVCC precisar. Você (Adenilton) poderia ter nos procurado e conversado, ao invés de criar a celeuma que foi criada”, destacou Baroni.
Diante das palavras do vereador, Adenilton automaticamente se defendeu e disse que fez apenas o necessário. “Um dos pedidos do Henrique Prata (presidente da Fundação Pio XII de Barretos) foi que o atendimento não parasse; como que nós iríamos trabalhar sem dinheiro? Quem paga a conta disso? Não quero culpar ninguém, mas eu tomei as atitudes que deveriam ser tomadas”, defendeu-se Adenilton.
“Eu fui intimado a comparecer lá na Polícia Federal de Jales, porque foi feita uma denúncia. Eu não poderia mentir lá, falar que estava tudo bem, para depois eu me complicar. Tudo que fiz foi dizer a verdade”, afirmou o presidente da AVCC.
Diante da discussão, Vilar se irritou, interrompeu a discussão e decidiu encerar a reunião, passando a palavra para o presidente da Associação de Amigos Toninho Assis.
Com o término do discurso de Assis, Vilar se levantou abruptamente da mesa e encerrou a reunião.
FIM DE UM SONHO
Para o diretor financeiro do hospital do câncer da AVCC, Ilson Ferro, o fechamento do hospital foi o término de um sonho que havia se tornado realidade. “Nosso hospital era um sonho que agora se acabou. A gente vê na mídia grandes hospitais federais atolados em dividas e nós aqui apenas com leilões e boa vontade conseguimos manter o hospital aberto por tanto tempo. É muito triste saber que o que nós construímos em todos esses anos, algo que gira em torno de R$ 15 milhões, será entregue para o hospital de Barretos”, disse o responsável pelas finanças da entidade.
Com relação às criticas direcionadas ao presidente da associação, Ilson afirmou que se ele não tivesse feito o que foi feito, o dinheiro não chegaria às mãos da entidade. “Se o Adenilton não tivesse ido à imprensa, o dinheiro não viria para a AVCC em hipótese alguma. Esse dinheiro só veio na pressão, inclusive quando eu perguntei para o prefeito por que o dinheiro não foi entregue antes, ele não soube responder e encerrou a reunião daquele jeito”, afirmou Ilson.
Ainda de acordo com o diretor, a prefeitura não é a única culpada, mas está entre os principais fatores que ocasionaram o fechamento. “Foi assinada a lei de subvenção, então já foram feitos planos para o dinheiro que não foi entregue para a AVCC e isso prejudicou muito. Esses R$ 200 mil é um valor praticamente simbólico, só com o término dos gastos de envio de ônibus para Barretos já dava para tirar esse valor. Se nós tivéssemos uma ajuda melhor por parte da prefeitura não teríamos chegado aonde chegamos”, disse.
Para ele a entrega do hospital para Barretos foi a melhor saída e o melhor para a comunidade. “É claro que a gente sente uma dor enorme no coração, saber que tudo que fizemos, as noites que passamos em claro, as lutas que travamos para erguer esse hospital foram em vão, dói muito, mas no momento a entrega do hospital para Barretos é o melhor para comunidade. Isso foi um sonho, que vinha dando certo, mas não conseguimos segurar, porque é caro. Infelizmente não dá mais”, concluiu Ilson, emocionado.