O presidente da AVCC, Adenilton Luis Fernandes, e o advogado Henri Dias, voluntário da entidade, explicam os tristes acontecimentos dos últimos dias, que provocaram a indignação da diretoria e do voluntariado. Um momento grave, revoltante, causado por interesses inconfessáveis. Definitivamente, vivemos um tempo mau.
CIDADÃO: Como está o seu coração, depois desta semana conturbada?
ADENILTON: Meu coração está doendo. Hoje me sinto envergonhado por ter aberto as portas da fazenda no meu finado avô para o senhor prefeito fazer campanha política. Ele me disse que seria parceiro e iria ajudar muito a AVCC. Estou passando vergonha por ter acreditado nessa pessoa. Estou passando a maior vergonha da minha vida. Digo à população: não respeitaram nossa boa intenção de ajudar a salvar vidas humanas. Fomos boicotados. Nossa política continua suja, ninguém pensa no próximo, nem mesmo nos doentes cuja vida poderia ser prolongada pela ação da AVCC.
CIDADÃO: Até onde a falta de repasse dessas verbas foi decisiva para o fechamento da AVCC?
ADENILTON: Não sei dizer a percentagem, mas o mínimo que ele deveria fazer era repassar as verbas conquistadas junto à Câmara Municipal, evitando o desequilíbrio da nossa contabilidade.
CIDADÃO: Um jornal da cidade divulgou nesta sexta-feira que o deputado João dado teria dito que não repassou verbas à AVCC. O que significa isso?
HENRI: Nós sabemos – e quem tem um mínimo de conhecimento dos procedimentos burocráticos de liberação de verbas também sabe – que a entidade não pode receber diretamente recursos de origem federal. Porém, ela pode, como qualquer outra, recebê-los através de repasses da prefeitura. Foi exatamente o que aconteceu em relação à verba do deputado João dado: em nenhum momento a AVCC disse que a verba havia sido endereçada diretamente à entidade. A verba foi, isso sim, uma conquista da vereadora Candinha, com o compromisso entre a vereadora e o senhor prefeito, de que a verba seria repassada à AVCC, o que até agora não aconteceu. Além disso, temos a informação de que essa verba do deputado João Dado foi direcionada para outros setores. A própria assessoria da prefeitura já informou que existe uma licitação para aquisição de equipamentos, e já foi divulgado que uma parte da verba, de R$ 52 mil, foi direcionada à compra de uma ambulância para o distrito de Brasitânia, mesmo com o compromisso assumido com a vereadora Candinha.
CIDADÃO: Qual é a posição da vereadora, em face dos últimos acontecimentos?
HENRI: A vereadora se mostrou indignada com todos esses fatos. Inclusive, ela estava viajando para Rio Preto em tratamento de saúde, e conversamos por telefone, quando ela me disse que precisará rever seus próprios conceitos em relação aos políticos. O que está acontecendo é lamentável. Ela garantiu que procuraria a assessoria do deputado para entender a tal nota oficial.
CIDADÃO: Nesta quinta-feira, vocês estiveram com o procurador da República em Jales. Thiago Lacerda Nobre. A conversa foi proveitosa?
ADENILTON: Em minha opinião, sim, porque é um homem decidido. Vi em seus olhos a sinceridade de quem quer ver a justiça ser feita. Esses fatos não podem ficar assim. Fui lá porque fui intimado, apresentamos a documentação que ele pediu. Infelizmente, chegamos a essa situação na AVCC. Só que encontramos no Dr. Thiago um homem que quer ver a AVCC funcionando. Ele entendeu o drama do voluntariado.
CIDADÃO: O Ministério Público Federal expediu, na frente dos dirigentes da AVCC, um ofício ao prefeito Vilar, determinando o pagamento das verbas vencidas no prazo máximo de cinco dias. Na hipótese de que isso não seja cumprido, o que pode acontecer?
HENRI: Pela conversa que tivemos com o Dr. Thiago, há uma grande propensão de que ele ajuíze ação, inclusive na área penal, contra o senhor prefeito, porque, no entendimento dele, está havendo contingenciamento de recursos, e isso não pode acontecer. Constatamos que não é só a AVCC que padece por causa dessa prática, mas também outras entidades da cidade. Premidas talvez pelas circunstâncias, elas não divulgam isso, porque precisam dessas verbas e se calam, aguardando as coisas clarearem. A perspectiva, segundo o procurador, é o ajuizamento das ações, na hipótese de descumprimento.
CIDADÃO: E como vai a negociação com Barretos, em meio a toda essa confusão?
ADENILTON: No próximo dia 28, teremos uma assembleia com todos os voluntários e doadores, e lá discutiremos a autorização para transferir o patrimônio para a Fundação Pio XII. Mas isso só vai acontecer após o acerto com todos os funcionários. No dia 14, as atividades foram suspensas. Se não ocorrer o repasse pela prefeitura, não sei que rumo será tomado, porque essa é uma das exigências do Henrique Prata. A população tem que saber que se não houver o repasse, não será feita a parceria com Barretos. Com o dinheiro, liquidaremos essa pendência e poderemos viabilizar o acordo.
CIDADÃO: Se não houver o acerto com Barretos, o que acontecerá com a AVCC?
ADENILTON: Não sei como será. Na viagem que fizemos de volta de Barretos, no dia 9, o prefeito veio dizendo que o dinheiro estava sendo providenciado para solucionar de vez o problema. Ele é que pode dizer.
CIDADÃO: Você está na presidência desde quando?
ADENILTON: Desde junho de 2005.
CIDADÃO: Como você se sente, do ponto de vista pessoal, com os últimos acontecimentos?
ADENILTON: Eu me sinto machucado. Não peguei a presidência à toa. Muita gente sabe que eu passei por essa doença, e acredito nas missões de Deus. Sinto-me grato a Deus por poder fazer algo pelas outras pessoas. Só que fomos boicotados. Penso que a política poderia ter feito mais pela AVCC. Mas, se a Justiça dos homens não puder resolver os problemas, tenha certeza de que a Justiça de Deus tocará cada coração. A cada dia que eu doar meu tempo e meu trabalho à AVCC, me sentirei gratificado.
CIDADÃO: Como fica a situação técnico-jurídica da AVCC? Onde foi que o elo quebrou?
HENRI: Recapitulando: fomos chamados pelo prefeito e pelo Julio Semeghini, onde este explanou aos presentes a forma como se daria essa parceria – hoje, entendemos a questão não como parceria, mas como transferência de patrimônio. Semeghini revelou o teor da conversa que tivera com Henrique Prata, e a partir dali traçamos metas: aquilo que seria o cronograma do procedimento como se daria a transição. Nesse cronograma, ficou estabelecido que Barretos exigia a transferência em definitivo do patrimônio e a quitação de todos os débitos trabalhistas, em torno de R$ 100 mil. Foi combinado com o prefeito que ele faria o mais rapidamente possível o repasse dos recursos que estavam atrasados. Havia o atraso de R$ 50 mil do convênio de 2010, e o convênio de 2011, naquele momento, apresentava um atraso em torno de R$ 100 mil. A AVCC não está fechando as portas por causa desses repasses, e sim porque não foi cumprido o cronograma traçado com o prefeito e a Fundação Pio XII. Esses recursos seriam usados exclusivamente para a quitação desses encargos.
CIDADÃO: Então, haveria um hiato funcional para que a Fundação Pio XII fizesse as adequações?
HENRI: Exatamente! A AVCC não está fechando as portas porque a prefeitura não repassou o dinheiro, e sim porque a AVCC suspendeu temporariamente as atividades por força do compromisso de que a verba seria repassada, o acerto com os funcionários aconteceria e poderíamos paralisar o atendimento e entregar a instituição à administração do Hospital de Barretos. Nesse ínterim, realizaríamos a assembléia geral da AVCC e a transferência do patrimônio, desde que com a autorização dos voluntários. Estamos dentro do cronograma. Quem deixou de cumpri-lo foi o senhor prefeito.
CIDADÃO: Tudo isso foi conversado na viagem do dia 9?
ADENILTON: Sim. O prefeito, então, disse que o dinheiro estava sendo providenciado. O juiz Evandro Pelarin, que nos acompanhou na viagem, ouviu do prefeito a afirmação de que faria o repasse.
CIDADÃO: Se o prefeito efetuar o pagamento quarta ou quinta-feira, o que vocês farão?
HENRI: Quitaremos os débitos e, após a aprovação pela assembleia, entregaremos para a Fundação Pio XII um patrimônio sem precedentes na história desta cidade. Tirando a Santa casa, a AVCC é um dos maiores patrimônios de Fernandópolis, avaliado, por baixo, em R$ 10 milhões. O voluntariado entregará para Barretos esse grande patrimônio justamente para que ele continue cumprindo a finalidade para a qual foi criado: o tratamento dos pacientes de câncer.
OLHOS
A política continua suja
O prefeito prometeu liberar os recursos na frente do doutor Pelarin
Estamos cumprindo o cronograma. Quem não está é o prefeito