Quando o presidente do Fernandópolis Futebol Clube, Ademir de Almeida, anunciou o nome do diretor de futebol – José Carlos Soares – as reações foram unanimemente favoráveis. O ex-centroavante Soares, que conquistou a cidade nos anos 80 como jogador, também a cativou como cidadão sério, honesto e de palavra. Casado com Ana Maria, pai de Rafaela e Raíssa, aos 48 anos ele exerce o cargo discretamente, sempre conversando com os jogadores ao pé do ouvido, repassando a invejável experiência acumulada em clubes como Bahia, Santos, Palmeiras e em especial o Criciúma, onde jogou por quase seis anos e foi campeão sob o comando de Felipe Scolari. Soares jogou ainda na Argentina, na Arábia e na Turquia. Palmeirense, ele concilia o comando de sua empresa com o cargo na “Águia” e as partidas de futebol society com os amigos. Apesar de ter nascido na paulista Morro Agudo, Soares não esconde que é um fernandopolense de coração.
CIDADÃO: Como tem sido essa experiência como dirigente esportivo?
SOARES: É uma grande novidade, estou aprendendo muito. Na verdade, não esperava que essa função exigisse tanto da gente. O que facilita bastante é o fato de eu ter jogado futebol e ter vivência no meio. A outra dificuldade é que eu tenho meu próprio negócio, e fica corrido conciliar tudo. Porém, estou gostando da experiência, acho que tudo na vida a gente aprende. Creio que o trabalho está sendo bem feito.
CIDADÃO: Alguma vez, no tempo de jogador, você imaginou que viraria “cartola”?
SOARES: Ah, não. Há muito tempo eu sentia vontade de trabalhar com revelação de jogadores. Agora, surgiu essa oportunidade de ajudar o Fefecê.
CIDADÃO: Este ano, o Fefecê formou um bom elenco, com jogadores reservas à altura dos titulares na maioria das posições. Quem é que indica os jogadores?
SOARES: Para chegar, um time precisa de elenco. Veja o jogo com o Barretos: perdemos três jogadores para enfrentar o Guaçuano. Se não houvesse elenco, estaríamos com um grande problema. O China está sendo muito importante para o Fefecê, ajudou muito nas contratações. É um treinador que conhece bem a divisão, isso é importante. China é sério, estudioso. A maior parte do grupo é de jogadores com quem ele já tinha trabalhado. Outra parte nós pesquisamos vídeos, indicações. Mas o mérito da formação do grupo é do técnico, sem dúvida.
CIDADÃO: Houve um momento, na primeira fase do campeonato, em que o time começou a decair. Você e o China reuniram os jogadores no centro do gramado e você falou durante vários minutos. Ali teve bronca?
SOARES: Muita gente me perguntou se, naquele dia, eu dei dura nos jogadores. Não vejo dessa forma. O que está acontecendo hoje é que há respeito com os dirigentes, o grupo percebe que nosso trabalho é sério. Gosto de falar a verdade. Naqueles dias, vinham acontecendo algumas coisas, inclusive extra-campo, que precisavam ser sanadas. O jogador pode fazer o que quiser, só que com limites e na hora certa. Não adianta proibir isso ou aquilo, que o cara faz escondido. O certo é conscientizar o jogador. Aprendi no futebol que o atleta tem que dormir, e dormir bem. Se ele quer beber uma cerveja, que beba na hora certa. Idem para idas às boates. Creio que hoje está tudo normalizado.
CIDADÃO: Como está a situação do João Paulo, que teria Bahia e Cruzeiro interessados em contratá-lo?
SOARES: Hoje (ontem), sexta-feira, 9 de setembro, estou bem chateado com essa situação. Como atleta, vivi um tempo em que as leis eram outras, relativamente ao passe do jogador. Estou numa dificuldade muito grande, porque a gente faz um planejamento e chega na reta final, quando precisamos do jogador, até para manter o elenco, já que não se pode contratar mais, e aí estamos na iminência de perder o João. Ontem, falei com pessoas ligadas a essa história e até agora não vi razão para tirarem o jogador do Fefecê, neste momento. Não queremos atrapalhar a negociação, mas não vejo motivos pra ele sair agora. O João me ligou agora de manhã e disse que deverá se apresentar ao Cruzeiro no começo do próximo ano. Nesse meio tempo, vão emprestá-lo para disputar alguma copinha, nem sei qual é. Ora, acho que seria importante para o próprio jogador terminar o campeonato pelo Fernandópolis, porque está disputando o título e a artilharia. Se fosse eu o empresário, não faria isso. Se ele saísse daqui para começar a treinar no Cruzeiro na segunda-feira e disputar posição no time, seria outra história. Quando chegamos ás vésperas do prazo final de contratação, eu disse ao João que não poderia mais manter o compromisso verbal de liberá-lo se aparecesse algum negócio. Quando faltava uma semana para o fim das inscrições, disse a ele que, se ficasse, eu não poderia sustentar o compromisso. “Ou você sai agora ou fica de vez até o final do ano”, expliquei. Eram dois jogadores nessas condições: o João e o Elivelto. O Elivelto preferiu sair, o João Paulo permaneceu. Agora, aparece essa confusão, que me chateou muito.
CIDADÃO: Você, que é do tempo da Lei do Passe, não acha que hoje os clubes são reféns dos empresários?
SOARES: Há uma grande distorção nisso tudo. Hoje, estou na posição de defender os interesses do clube, e procuro ver os interesses também do atleta. Uma boa negociação tem que ser boa para ambos. Vendo o lado dos clubes, vejo muita dificuldade – até dos times grandes – de manter os principais jogadores. O Corinthians, por exemplo, quando consegue montar um time certinho, acaba perdendo jogadores para o exterior. Isso acontece todo ano. Infelizmente, o ser humano põe o dinheiro acima de tudo. Os empresários estão batendo cabeça atrás de jogadores, só visando ao dinheiro. Os jovens torcedores nunca aprendem a escalação de seu time, como acontecia no passado. E isso é ruim também do ponto de vista da qualidade do futebol apresentado. Não me canso de citar o exemplo do Criciúma, onde joguei quase seis anos. Todo início de ano, já existia uma espinha dorsal do time. As mudanças eram poucas. O Criciúma teve muito sucesso naquele tempo. Futebol é jogo coletivo! No Fernandópolis também vivi uma experiência parecida: chegava o início da temporada e já tínhamos o Betinho, o Bereco, o Belini, eu, os meninos da casa como o Lupércio. Bastava contratar três ou quatro jogadores que a equipe estava formada. Este ano, quando começamos a preparação, o Fefecê não tinha um único jogador, com exceção dos meninos amadores.
CIDADÃO: Em sua opinião, o time passou no teste de fogo de jogar em Barretos, contra um grande time e uma torcida enorme?
SOARES: Sim, e estou confiante no grupo. No início do campeonato, o time mais badalado era o Barretos, que investiu muito, e tal. Mas o Fefecê vem tendo há tempos uma boa postura em campo. Provamos que temos condições de disputar o acesso com chances reais, até mesmo de conquistar o título. Mas não é fácil, porque daqui para frente só enfrentaremos times bons com o é o nosso.