Integrantes da Associação de Amigos do Município de Fernandópolis, que congrega outras 16 entidades da cidade, devem ter se inspirado na novela da CPMF para formular a proposta levantada na reunião realizada na noite de terça-feira, 30.
Naquele caso, o governo brasileiro, tendo como “avalista” a respeitabilidade do médico Adib Jatene, então Ministro da Saúde, criou a tal “contribuição provisória” para “tirar do caos” a saúde do país.
A saúde brasileira não mudou muito, a contribuição “provisória” virou permanente e o Doutor Jatene nunca mais foi chamado para qualquer campanha de publicidade.
SANTA CASA
Agora, a Associação de Amigos do Município de Fernandópolis propõe que o Imposto Predial e Territorial Urbano, o IPTU, seja aumentado para sanar as combalidas finanças da Santa Casa de Misericórdia.
Na verdade, essa foi apenas uma das várias sugestões apresentadas no encontro, comandado pelo presidente Antonio Menezes de Assis, secretariado por Carlos Sugui e tendo como apoiador Antonio Luiz Aielo. Quase todas as sugestões eram de natureza arrecadadora, ou seja, combater-se-ia a dívida, não suas razões.
Durante dois meses, o empresário Celso Spósito, representando a Associação de Amigos, analisou o trabalho administrativo da Santa Casa. A conclusão: está tudo em ordem, tudo bem feito, mas...existe uma grande dívida a pagar. Spósito diz que os números são sigilosos.
Alguém sugeriu na reunião que o Pronto Socorro da Santa Casa passe a atender a outros convênios médicos. Outros propuseram que a prefeitura crie o Pronto Socorro Municipal, fora da Santa Casa, como, aliás, acontece em cidades como Jales e Votuporanga.
É o que pensa o oficial de Justiça Antonio Leal, que não participou da reunião: “Um dos grandes males do hospital é atender ao serviço de pronto socorro, que por lei é público, de competência da prefeitura. As cidades menores da região se aproveitam e mandam seus pacientes para a Santa Casa”, diz.
Para Leal, a participação da Associação de Amigos no caso não representa a vontade popular. “A Associação engloba os clubes de serviço, que por sua vez representam menos de 1% da população”, justifica.
CHOQUE
Outro que discorda da forma de abordar o problema é o farmacêutico-bioquímico Carlos Lima: “Não adianta se cotizar e pagar as dívidas, a persistir o déficit crônico. Amanhã, as dívidas voltarão a se acumular. É preciso dar um ‘choque de gestão’ no hospital”, propõe.
Lima critica a proposta de elevação do IPTU: “Essa proposta é bem o estilo do atual prefeito. Nos anos 90, ele decretou um aumento no imposto superior a 400% em certos casos. Além do mais, isso não garantiria o repasse à Santa Casa. Em vez de pagar pelo problema, precisamos é saná-lo”, disse.
Candidato a prefeito em 2008, quando disputou com Ana Bim e com o próprio Vilar, Carlos Lima faz as suas sugestões: “A Santa Casa precisa de maior transparência, não pode esconder os valores de receita e despesa. É necessário dar um choque de arrecadação, otimizar a eficiência, usar como espelho o padre de Jaci, que acabou reerguendo nada menos do que 38 Santas Casas”, opina.
Lima quer a criação de um conselho gestor, que trabalhe em conjunto com a mesa diretora e a administração.
Aumento do tributo indignou a população há 15 anos
Em 1996, Luiz Vilar, na sua primeira gestão como prefeito, efetivamente majorou o IPTU acima de 400%, em alguns casos. Aqueles eram tempos do início do Plano Real e a inflação estava próxima de zero. Na ocasião, Vilar declarou que se tratava de “uma adequação, um realinhamento”. Isso, entretanto, não o poupou de duras críticas e mesmo derrotas eleitorais.
O grupo que comanda a Associação de Amigos nos últimos anos decidiu apoiar Vilar nas eleições de 2008. Na oportunidade, a justificativa era de que a cidade “precisava de um gerente” e que esse nome seria Vilar.
O ex-gerente da Cesp foi eleito, encontrou dinheiro em caixa – quase R$ 8 milhões deixados pela antecessora - e deu início a uma polêmica administração. No final, gastou mais do que podia – só o famigerado show de Ivete Sangalo, pago pelos cofres públicos, custou mais de R$ 400 mil – e logo perdeu o controle da situação.
O fato não foi relatado na reunião da Associação de Amigos, mas a Santa Casa nem tem recebido em dia os repasses de verbas que compete à prefeitura fazer. Normalmente, as pessoas envolvidas se fecham e preferem não falar sobre a situação.
Entretanto, não há como esconder: a Santa Casa tem uma grande dívida – fala-se em cerca de R$ 10 milhões – e pouca luz no final do túnel. Um grande problema para o município, cujos cofres ficam mais vazios a cada dia que passa. E, em relação à Câmara de Vereadores, fica a expectativa de que qualquer projeto de aumento do IPTU seja categoricamente rejeitado. O povo ainda não se esqueceu de 1996.