O educador Carlos Antonio de Jesus Cabral, de 49 anos, casado com Sonia Maria Vanti Cabral e pai de Carla, nasceu numa família humilde de Fernandópolis. Quando era menino, trabalhou com o empresário Raul Gonçalves, cuja família tinha grande confiança no jovem magro e sagaz. Adulto, Cabral licenciou-se em Educação Física em Santa Fé do Sul e em Pedagogia pela Faculdade São Luis, de Jaboticabal. Pós-graduado em Gestão Escolar pela Unicamp, em Educação Infantil pela Unicastelo e em Ensino da educação Física pela PUC de Belo Horizonte, Cabral enveredou na vida por duas vertentes: a educação e a política. Não coincidentemente, os mesmos rumos que tomou na vida seu mentor e ídolo, o ex-prefeito Armando José Farinazzo, que faleceu há uma semana. Com Farinazzo, Cabral ingressou no PSDB desde o início do diretório local. No último sábado, logo cedo, ele foi à Escola Saturnino Leon Arroyo, que dirige, pegar uma bandeira do município de Fernandópolis. Com ela, cobriu o caixão do velho amigo e companheiro. Depois do sepultamento, ele ofereceu a bandeira, como de praxe, à viúva e os filhos de Armando. Só que Graziela e Andres, dois dos três filhos do professor falecido, lhe devolveram o pavilhão. “Faça o que você achar melhor com ela”, disseram. Comovido, Cabral estendeu a bandeira sobre sua mesa de trabalho, cobrindo-a com um vidro. “O melhor a fazer é tê-la aqui, no meu trabalho. Ficarei com ela para sempre”, disse a CIDADÃO. Nesta entrevista, Cabral fala de Farinazzo, do PSDB e do mais recente projeto em que se envolveu: a coordenadoria dos cursos técnicos da FEF.
CIDADÃO: O que representa para Fernandópolis a perda do professor Armando Farinazzo?
CABRAL: Significa o surgimento de uma lacuna muito grande, a ausência de um grande profissional, de um homem sábio, íntegro, honesto, trabalhador, lutador, de um grande defensor de Fernandópolis. Armando lutou por Fernandópolis desde quando era rapazinho e se iniciou na política. Quando foi vereador pela primeira vez, com apenas 23 anos, ele priorizou Fernandópolis desde o primeiro minuto. Em seus pensamentos, o valor mais importante era esta cidade.
CIDADÃO: Você entrou para o PSDB pelas mãos de Farinazzo?
CABRAL: Na verdade, entramos para o PSDB juntos, desde quando o partido passou a existir. Nessa época, o professor Armando estava estruturando o PSDB em toda a região e logo no início eu passei a ajudá-lo, até mesmo em alguns diretórios de outras cidades da região. Sempre que se fala em PSDB, você pode ter certeza de uma coisa: lá estava eu, junto com o professor Armando.
CIDADÃO: O partido fica órfão na região, ou existe algum nome entre os tucanos à altura de Farinazzo?
CABRAL: Em nosso partido existem vários nomes, sim, mas a presença do professor Armando era de suma importância. O PSDB perde a principal liderança regional, um homem que sempre defendeu seus ideais. Nesse sentido, o partido está órfão, sim.
CIDADÃO: Os tucanos deverão ter candidato às eleições majoritárias em Fernandópolis?
CABRAL: Todo partido tem o objetivo de lançar um candidato majoritário. No entanto, nós estamos a quase um ano das convenções, então o que se precisa fazer é começar a trabalhar essa situação. Não posso eu, Cabral, afirmar concretamente que terá um candidato majoritário. Claro que todos os partidos buscam essa hegemonia. Só que essa decisão não cabe a uma única pessoa. O diretório é que decidirá. Nosso partido está bem estruturado em Fernandópolis e continuamos trabalhando para que ele cresça ainda mais.
CIDADÃO: E esse novo desafio em que você se meteu no início do ano – coordenar os cursos técnicos da FEF? Como vai o trabalho?
CABRAL: É mesmo um desafio, porque é a primeira vez que, ao mesmo tempo, administro e coordeno cursos técnicos. Espero não errar. Conto com 25 anos de experiência na educação básica, nos níveis fundamentais e médio, no entanto a modalidade profissional, com a nova roupagem e a importância que o que o momento exige, nos compele a realizar novos estudos e pesquisas. Queremos o novo, e isso com certeza é um grande desafio. Porém, estou tranqüilo, porque desafios sempre fizeram parte da minha vida.
CIDADÃO: Ao assumir a coordenação dos cursos técnicos, o que você prometeu?
CABRAL: Compromisso, responsabilidade e, acima de tudo, respeito aos estudantes. Quando eles nos procuram, é porque estão em busca de novas possibilidades, da ampliação de seus conhecimentos, para conquistar espaço no mercado de trabalho. Ora, temos que lhes proporcionar esse retorno, e isso exige muito trabalho. Nosso plano é promover a continuada capacitação do aluno com conhecimentos teóricos e práticos em diversas atividades. Um dos propósitos é o acesso imediato ao mercado de trabalho, além da perspectiva de requalificação ou mesmo reinserção no competitivo mercado profissional.
CIDADÃO: Como você avalia o mercado regional em relação aos cursos técnicos que são oferecidos?
CABRAL: Esse mercado não é diferente do resto do país, que exige um caminho mais curto do estudante até ele. Na região, há um batalhão de candidatos, jovens de até 25 anos com formação superior, que não conseguem emprego. De outro lado, empresas estão com vagas abertas, mas faltam profissionais técnicos devidamente qualificados. A expectativa de qualificação técnica dos responsáveis pelos setores de recursos humanos ainda são a grande dificuldade que se impõe nas contratações. Com a futura consecução da ZPE, esse fenômeno deverá ser ainda mais claro. É como disse Luis Sérgio Vanzela, coordenador de pós-graduação, pesquisa e extensão da FEF: “O mercado regional está se desenvolvendo muito rápido, e, por isso, está altamente competitivo, buscando profissionais cada vez mais capacitados e dinâmicos na resolução de problemas técnicos e organizacionais”. Veja a magnitude que se avizinha, com o advento da Copa do Mundo de 2014 e com as Olimpíadas de 2016! Novos profissionais estão sendo esperados no mercado de trabalho, e nossa região também poderá ser um dos celeiros onde o mercado se abastecerá de profissionais. A verdade é que estão sobrando profissionais com curso superior e faltando em grande escala candidatos de nível técnico.
CIDADÃO: E qual será o “pulo do gato” a implantar na FEF?
CABRAL: Proporcionar oportunidades minimizadoras de um provável “apagão” industrial pelo qual poderemos passar, se não investirmos pesado na formação de técnicos de nível médio. Os cursos são focados na prática profissional e hoje são mais valorizados do que nunca. Mesmo com os recentes avanços, o Brasil anda engatinha nesse segmento. Hoje, em torno de 10% dos alunos do ensino médio estão matriculados em cursos técnicos, enquanto que na Argentina há 25%, na Coreia do Sul chega a 37% e na desenvolvida Alemanha atinge 70% desses alunos. Ainda estamos na contramão da história, em comparação a outros países.