A médica ultrassonografista Renata Nogueira Manoel atenderá três vezes por semana no Centro de Diagnóstico por Imagem (CDI) de Fernandópolis. Em entrevista a “Observatório”, Renata se revelou surpresa pela qualidade dos equipamentos de que dispõe o Centro, que ela considera “top de linha”. Entusiasta da profissão, ela não para de estudar. Formada pela Universidade Federal de Uberlândia (MG), Renata se especializou em ginecologia e obstetrícia e em oncologia ginecológica em Belo Horizonte. Fez curso de ultrassonografia em Ribeirão Preto e, por nove anos, trabalhou na clínica Mamaimagem de São José do Rio Preto, onde reside atualmente.
CIDADÃO: Qual é a avaliação que você faz dos equipamentos de que dispõe, hoje, o Centro de Diagnóstico por Imagem de Fernandópolis?
RENATA: Quando fui convidada para vir para cá, essa foi uma coisa que me impressionou: a qualidade da clínica para o porte da cidade e a qualidade dos equipamentos. Então, avalio como “top de linha”, nessa área de ultrassonografia, esses aparelhos existentes no CDI. Sei que o Centro tem outros equipamentos, mas, falando apenas da minha área, posso dizer que o CDI trabalha com material considerado hoje de grande porte e com tecnologia de última geração. Em síntese, são equipamentos “top de linha” no mercado.
CIDADÃO: Sua maior experiência é em qual área?
RENATA: Apesar de ter trabalhado na Mamaimagem de Rio Preto, minha maior experiência é em exames ginecológicos e obstétricos.
CIDADÃO: E como vai a saúde da mulher brasileira, se comparada a outros tempos?
RENATA: Entendo que hoje existe uma tentativa de se focar o trabalho na prevenção, daí a grande quantidade de exames de rotina para detectar patologias em estágios precoces. Isso foi um grande avanço. Acho que a tecnologia, nos últimos anos, deu um salto enorme nesse sentido, tanto no rastreamento de câncer de ovário, de endométrio ou de mama, e os exames de prevenção são fundamentais para que se consiga maior sobrevida das pacientes, com o diagnóstico nos estágios iniciais.
CIDADÃO: O Brasil sempre fez uma medicina curativa. Falta muito para se alcançar a medicina preventiva ideal?
RENATA: Acho que estamos a caminho de chegar a isso. Ainda falta muita coisa, como informação, maior acesso aos exames de base. Mas, comparando à realidade de quinze anos atrás, vemos que houve um avanço. O Brasil, hoje, na área de ultrassonografia, por exemplo, não fica a dever a nenhum lugar do mundo. Temos acesso a equipamentos de ponta e somos respeitados lá fora. A tecnologia contribuiu para esse salto na área de prevenção.
CIDADÃO: Essa “medicina de ponta” quer dizer medicina particular, ou ligada aos convênios, ou se estende à saúde pública?
RENATA: O acesso à saúde para quem utiliza os serviços públicos melhorou muito. Atualmente, vemos que na rede pública existe uma disponibilidade maior de exames e de profissionais. Comparando-se com o passado, nota-se que mesmo as cidades pequenas dispõem de equipamentos de ultrassom, por exemplo, e as mulheres gozam de maior acesso à mamografia. Talvez ainda não seja o ideal, ainda temos que andar um pouco, mas acho que, especificamente em relação à saúde da mulher, demos um grande salto. Os diagnósticos de câncer de colo uterino em fase mais avançada vêm caindo, principalmente aqui na região sudeste. Mama ainda apresenta muitos casos, porém diagnosticados em estágio precoce, o que reflete a melhoria também da qualidade da saúde pública.
CIDADÃO: Afinal, a mulher brasileira faz o auto-exame dos seios, como a propaganda institucional ensina?
RENATA: Ela faz, sim, mas não na incidência que gostaríamos que fizesse. O problema do auto-exame é que para apalpar a mama, é necessária experiência. O auto-exame ajuda, mas ela precisa passar por um profissional treinado, porque ele terá maiores condições de diagnosticar. Muitas mulheres ainda não fazem esse teste, ou por tabus, ou porque são esculturais e até por falta de informação, mesmo.
CIDADÃO: O seu compromisso com o CDI é atender três vezes por semana. Qual será sua função, basicamente?
RENATA: Vim para cooperar na área de ultrassonografia, principalmente nos exames mais direcionados à mulher – tanto o ultrassom ginecológico quanto obstétrico. Vou fazer outros exames, mas o foco maior está na área de atendimento à mulher.
CIDADÃO: A AVCC de Fernandópolis negocia, atualmente, uma parceria com o Hospital do Câncer de Barretos. A proposta é transformar a AVCC num centro de prevenção e diagnóstico da doença. Você acha que a prevenção é mesmo o caminho certo para combater o câncer?
RENATA: Com certeza. Entendo que isso passa pela prevenção e orientação, dando acesso aos pacientes para que eles façam os exames mais precocemente, o que possibilitará aos médicos diagnosticar o câncer na fase inicial. Isso permitirá que se ministre um tratamento com sobrevida satisfatória.
CIDADÃO: Qual seria a conduta adequada para qualquer cidadão que queira se prevenir dessa doença? Qual é o lapso temporal em que ele deve buscar o médico, o posto de saúde, para realizar exames preventivos?
RENATA: A prevenção tem um protocolo para cada idade. Cada faixa etária tem lá seus exames preconizados, e a periodicidade de consultar um profissional. No caso da mulher, preconiza-se que, pelo menos uma vez ao ano, ela faça o Papanicolau, o exame da mama, e, dependendo da indicação e da faixa etária, ela deve fazer um ultrassom de mama ou uma mamografia, ou ainda os dois exames, além dos exames laboratoriais. Os resultados desses exames é que indicarão quando deverão ser feitos os próximos.
CIDADÃO: Até onde é possível associar o stress da vida moderna às doenças que você detecta no seu trabalho?
RENATA: O stress está relacionado a várias patologias, porque ele leva à diminuição da qualidade de vida. Sabemos que as doenças não acontecem só em nível físico. As pessoas muitas vezes começam a adoecer por causa do emocional, e o stress tem um impacto na qualidade emocional do indivíduo. Então, enquanto fator predisponente, acredito que hoje o stress seja o grande vilão, conjugado, claro, com outros fatores, como o alimentar, genético...mas o stress está presente no dia-a-dia do brasileiro, não há como negar. O que é possível fazer é diminuir essa incidência, melhorando outros aspectos da vida. Só que não há dúvida: o stress passou a ser fator importante em qualquer patologia. É um mal da vida moderna.
CIDADÃO: Em sua opinião, o que é boa qualidade de vida?
RENATA: Não sei a receita, mas acredito que a saúde está apoiada num tripé: alimentação, atividade física e bem-estar emocional. Acho que não foge disso. Os antigos assim já diziam, e os médicos chineses e indianos, por exemplo, já davam essa receita. Acho que sem boa alimentação e atividade física, fica difícil manter uma boa saúde. É o que recomendo aos pacientes: você deve se programar para envelhecer bem. E, se você gostar do seu trabalho, daquilo que faz, melhor ainda. Eu dei sorte, porque escolhi a profissão correta para mim. Sou apaixonada pela medicina. Estudei várias áreas, como a homeopatia, por exemplo. Tudo na tentativa de complementar minha formação. Acredito que uma única vida é pouco para se aprender tudo o que a medicina tem a ensinar, devido à complexidade do ser humano. Mas temos que tentar. Ser apaixonado pela medicina é ser apaixonado, em última análise, pelo ser humano.