Apesar de acostumada a conviver com os dramas da sociedade humana, a presidente do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência de Fernandópolis, Célia Mafra, não resistiu e chorou, ao conhecer o caso de Glaucineide de Queiroz, em dezembro do ano passado.
Paraplégica, Glaucineide está confinada a uma velha cadeira de rodas e vive numa casa de dois cômodos, em precárias condições de higiene, cuidada pelo único filho, F., de 16 anos.
Glaucineide nasceu em Iturama (MG). O filho, em Cristalândia (TO). As idas e vindas fizeram com que a deficiente física fosse parar em Brasitânia, distrito de Fernandópolis, onde vive sua mãe, dona Maria Aparecida.
Só que a mãe se limita a ir diariamente à casa da filha para preparar o almoço. Glaucineide depende do filho para tomar banho, ir ao banheiro e se locomover.
A burocracia oficial empacou na falta de documentos pessoais de Glaucineide e do filho para justificar a falta de providências.
As assistentes sociais determinaram que ela fosse a Iturama atrás dos documentos, que estariam naquela cidade. Impossibilitada de se locomover e sem dinheiro, Glaucineide não cumpriu o que foi determinado. Como o filho não está matriculado na escola, ela poderia até sofrer punições.
O relatório é assinado pela assistente social Claudina Lima de Oliveira, que, no dia 6 de abril, esteve na Unidade de Saúde Brasitânia para se informar sobre o caso. Depois, esteve na casa de Glaucineide. No dia 18 de abril, Claudina teria telefonado para Glaucineide, que lhe informou não ter podido ir a Iturama por falta de meio de locomoção.
AMARRADA
Ciente do relatório, Célia Mafra amarrou Glaucineide no banco de seu carro particular (para que ela não caísse, já que a deficiente física não se mantém ereta) e levou-a a Iturama. Lá, elas não localizaram Aline, a prima de Glaucineide que estava com os documentos.
Célia foi ao distrito policial de Iturama e relatou o caso ao delegado de plantão. Ele se sensibilizou e prometeu ajudar.
“Três dias depois, o delegado me ligou. Ele já havia localizado Aline e estava com os documentos na mão”, conta Célia Mafra.
Resolvido esse problema, Célia relatou todo o caso por escrito ao prefeito de Fernandópolis, Luiz Vilar de Siqueira, pedindo “encarecidamente que providencie através do CREAS, CRAS, Saúde, Bem-Estar Social, um aluguel social e ajuda para que tenha uma vida digna”.
SEM ÁGUA
Aparentemente, o pedido não foi atendido da maneira que pediu Célia. Na ultima quarta-feira, 10, CIDADÃO esteve na casa de Glaucineide. Minutos antes, conforme relataram os vizinhos, um funcionário da Sabesp havia passado por lá e cortado o fornecimento de água por falta de pagamento.
No interior da casa, a falta de condições de higiene era evidente. Não havia água para banhar a deficiente nem lavar suas vestes sujas de urina e fezes. Célia Mafra e Alan Marques, seu ex-colega no Conselho Tutelar, levaram uma cesta de alimentos – frutas, verduras – para Glaucineide e o filho.
A cesta de alimentos foi muito bem-vinda: afinal, segundo o relatório da assistente social Claudina, Glaucineide e o filho sobrevivem com BPC de R$ 545 mensais.
O empresário Carlos Lima se responsabilizou pelo pagamento das contas de água atrasadas. Em contato com Antonio Carlos de Oliveira, gerente da Sabesp, Lima conseguiu ainda enquadrar a assistida na tarifa social – “Nem isso havia sido feito”, criticou o empresário.
Célia Mafra continua em busca de apoio. O caso já foi levado ao conhecimento do juiz Evandro Pelarin.