A MUDANÇA DE ÉPOCA- 1º parte

20 de Agosto de 2025

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A MUDANÇA DE ÉPOCA- 1º parte
No começo do século passado Sigmund Freud, referindo-se as transformações pelas quais passava a cultura ocidental, moderna para época, referia-se à imagem do “mal estar”. Normalmente se percebe um sentimento difuso e indefinido. Pode se pensar que sentimentos difusos e indefinidos são a causa da situação, mas na verdade são efeitos, ou conseqüência.  No final do século passado apareceu com clareza a raiz do mal estar e que está perdurando nesse século que se iniciou. Trata-se de uma clara mudança de época, algo muito mais radical que uma mudança de paradigmas ou de modelo.
 Para se ter uma noção do que está acontecendo, deve-se fazer referência aos acontecimentos relativos aos anos oitocentos e duzentos antes de Cristo. Esse período de tempo que abrange mais ou menos seiscentos anos introduziu na consciência da humanidade um processo radical de ruptura ocorrendo uma curva no fluxo histórico e civilizacional de tal envergadura que chegou e é conhecida até os dias atuais. Essa mudança de rumo para motivo de compreensão pode ser sintetizada em dois pontos: nova forma de auto-compreender a existência do homem e um novo jeito de se relacionar com o transcendente.
 As conseqüências dessa nova ótica foram sentidas no plano cultural e religioso. O que se deu foi a passagem de uma consciência arcaica, muito antiga, ligada ao cosmo, universo e ao mundo mítico para uma consciência na qual foi possível fazer a abstração  e a reflexão, emergindo a consciência do indivíduo, afirmando a pessoa frente a coletividade e a superação de seus entraves condicionantes. Na cultura ocidental vivemos as conseqüências dessa conquista e os resultados que provocaram na ordem política e social. Na perspectiva religiosa se fundamenta a descoberta da consciência do destino pessoal e a busca pujante da salvação, que explicam as origens das grandes religiões salvíficas universais, contrapondo-se às religiões nacionais que eram dominantes até aquela época.
 A área geográfica na qual o tempo-eixo se deu no Oriente: China, Índia, o Irã atual, e no Mediterrâneo: Grécia e Israel -, provocou a  purificação da idéia do transcendente, especificamente no judaísmo, na linha do monoteísmo profético(Israel) e na linha da crítica da razão, pensamento da filosofia grega que desferiu uma estocada fatal na mitologia de caráter religioso. Os sintomas de mal-estar e de crise enunciados no século passado e que perduram nesse século, pelos indícios apresentados, indicam uma mudança do tempo-eixo. O que está no centro do furacão é a cosmovisão – visão de mundo – que até agora foi predominante no mundo ocidental, os problemas chamados antigos, mas sempre presentes: ética, verdade e religião, são visitados novamente, ao mesmo tempo em que se toma consciência que a história não tem só uma dimensão local, mas planetária, fazendo perceber a existência de novos problemas.
 Não se pode negar que a cultura do Ocidente passa por transformações que incidem em todos os aspectos da vida cultural, religiosa e social. Os estudiosos afirmam categoricamente existir uma semelhança entre a mudança epocal que aconteceu antes de Cristo e o que parece ser o centro da atual crise - uma crise de sentido -  afetando a pessoa e a sociedade no seu todo. O que está em evidência é a forma como se entende a existência humana na sua dupla dimensão pessoal e social. O homem moderno está mergulhado numa crise de referência, pois não consegue situar-se em relação ao cosmo – universo – e ao transcendente – Deus.
 Nesse sentido percebe-se que a razão moderna se mostra cada vez mais fragmentada, não conseguindo encontrar a unidade que  existia no universo racional da sabedoria grega e tampouco no teocentrismo – Deus como centro, do mundo cristão e medieval.  Não se pode negar que a cultura do Ocidente passa por transformações que incidem em todos os aspectos da vida cultural, religiosa e social.