China comanda a luta pelo acesso

20 de Agosto de 2025

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China comanda a luta pelo acesso
O carioca Rogério Ferreira Pinto, o China, foi o técnico escolhido para comandar o Fernandópolis Futebol Clube no ano em que o time comemora seu cinqüentenário e concentra forças na luta pelo acesso. Entre outras razões, o presidente Ademir de Almeida e o diretor José Carlos Soares consideraram o fato de que China levou o Araçatuba à divisão A-3 em 2009. Ex-lateral esquerdo (começou no Vasco da Gama, onde foi campeão em 1982), China passou por equipes como Catanduvense, Araçatuba, XV de Jaú, Marília, Hércules de Alicante (Espanha) e outras. Aos 32 anos, parou de jogar. Cursou Pedagogia e Educação Física (lecionou na Faculdade de Educação Física de Araçatuba durante dez anos) e resolveu ser técnico. Hoje, aos 47 anos, China contabiliza várias passagens como treinador – inclusive por Angola, onde usou de psicologia para explorar a superstição dos africanos e virar uma partida decisiva. É que o feiticeiro tem uma importância muito grande naquele país e o “mago” do time adversário, chamado Sporting Cabinda, disse que este venceria por 1x0. Ao fim do primeiro tempo, o Cabinda efetivamente vencia por esse placar. No vestiário, China disse aos jogadores que “fizera um feitiço” e que seu time venceria por 2x1. Os jogadores voltaram para o segundo tempo e viraram o placar. Assim é o treinador do Fefecê, que alia a prática e o conhecimento acadêmico no trabalho com os jogadores.  
CIDADÃO: Neste domingo, acontece o clássico “Fervo”. Você já preparou algum feitiço, como fez em Angola? (risos).
CHINA: É verdade, em Angola há uma crença muito grande em relação a essas coisas. A nossa macumba é o feitiço deles. Os jogadores são sugestionáveis, mas no Brasil a coisa é um pouco diferente, os atletas já têm uma consciência mais profissional. Quanto a esse jogo com o Votuporanguense, a gente tem que levar com seriedade e também com naturalidade, para evitar que se fique pressionado por uma situação de rivalidade regional. Buscamos tranqüilizar os jogadores e trabalhar duro. O feitiço desta semana será um trabalho de qualidade, cuidando da parte emocional. Queremos fazer um grande clássico, porque um resultado positivo certamente dará muita moral para o resto da competição.
CIDADÃO: Qual é a avaliação que se pode fazer do atual estágio do Fefecê?
CHINA: O time tem cerca de 70% do potencial estabelecido. Temos da defesa até o meio-campo uma forma de jogar já estabelecida, embora ainda com algumas deficiências no meio. Forma-se a equipe da defesa para o ataque. Às vezes, há uma alternância no ataque, em termos de produtividade.
CIDADÃO: Mas o aproveitamento do ataque, no jogo com o Tupã, foi excelente. Como explicar essa evolução?   
CHINA: É o dia, o momento. Assim como jogamos mal contra o Tanabi e não fizemos uma grande partida contra o Bandeirante, aconteceram alguns aspectos técnicos contra o Tupã que fizeram a diferença. Vou dar um exemplo: o João Paulo veio do Marília e ficou 45 dias parado. Até entrar em forma, a gente sentia que ainda faltavam condições para que ele se soltasse plenamente. Jogador perde a forma fácil. Na maratona posterior ao jogo em Assis – amistosos em Populina e Mirassol e o jogo com o Tupã – o João respondeu muito bem no aspecto físico. Houve um grande progresso, consequentemente, na sua função de atacante. Ele é o comandante do ataque, e estando em forma, dá um equilíbrio melhor à equipe.
CIDADÃO: Como você avalia a estréia do Rafael Rocha?
CHINA: Foi uma boa estréia. Fez o certo, não se comprometeu e na hora certa subiu ao ataque, assim como fez o Boto. Gosto que os laterais funcionem dessa forma: têm liberdade para atacar, mas tem antes a obrigação de ajudar na marcação. Jogamos numa linha de quatro com os zagueiros e os laterais, e para que a cobertura funcione, o segredo é a participação eficaz dos laterais. O Rafael deu conta do recado e a tendência é de que ele se aprimore ainda mais, pois estava há tempos sem jogar.
CIDADÃO: Já que estamos falando de lateral: as ações de ataque do Votuporanguense passam quase sempre pelo lateral direito Manjinha. Você tem algum plano especial de marcação ou fica mesmo na marcação por zona?  
CHINA: Continua por zona. Meu plano especial é de jogar nas costas dele! (risos). Se ele não quiser marcar, vamos fazer os gols nas costas dele. Ora, se você tem um jogador que apóia como o Manjinha, ponha-o no ataque! Ele não é nenhum fator surpresa, todos sabem o estilo dele. É questão de analisar os prós e os contras – quantos gols o Votuporanguense tomou e quantos fez com a participação do Manjinha – acho que só ele levou vantagem individual, não o time. O Fefecê levou só quatro gols até agora, somos a segunda defesa menos vazada de todo o campeonato. Mas isso é só a minha opinião, eu não vou entrar em debate porque tenho que respeitar o treinador do CAV. Mas vou explorar esse detalhe nesse jogo em casa.
CIDADÃO: Você declarou que é fã do Muricy Ramalho, porém prefere essa fase atual do Muricy, mais light. Você é mesmo adepto do diálogo?
CHINA: Ah, sou sim. O Muricy era muito chucro no início, inclusive no relacionamento com a imprensa. Ele sabe muito bem que tão é toda a imprensa que é maliciosa. Sempre tem alguma pergunta capciosa, mas o treinador, como qualquer profissional, tem que ter um mínimo de civilidade. Agora, não: o Muricy está mais solidário, já se entende melhor com os atletas. Treinador não é general de exército. Não gosto de chamar a atenção dos jogadores na frente dos outros, procuro conversar em particular, deixar as coisas em pratos limpos. E não tenho medo de debater a parte tática com jogador. Se um deles quiser questionar por que está saindo ou entrando no time, nós discutimos isso normalmente. 
CIDADÃO: Esse time do Fefecê já mostrou que tem condições de se classificar para a segunda fase. E depois, o que será necessário para conquistar o acesso?  
CHINA: É um conjunto de coisas. Tem jogador que ainda nem estreou direito. Veja o caso do Erivelto, um jogador que veio muito qualificado. O próprio Leandro Alves, que deve acertar esta semana, um jogador que ficou muito tempo parado, mas que já jogou em grandes clubes e que poderá dar uma ajuda ainda maior ao sistema ofensivo, que está animado. Tudo isso funcionará no ajuste da equipe para a próxima fase. Estamos tentando trazer mais um zagueiro e talvez mais um volante, porque só temos o Caíque e o Renan e nessa segunda fase joga-se de quarta e domingo. Se você perder um jogador numa sequência de dois jogos, de repente o atleta fica praticamente toda a fase de fora. Então, é preciso ter peças de reposição de qualidade e capacidade. E é preciso também ter um pouquinho de sorte. Todos os campeões precisam de estrela, tudo é um somatório de circunstâncias. Um avião não cai por uma única razão: são várias circunstâncias que aconteceram em conjunto e derrubaram a aeronave. Para uma equipe chegar ao acesso, também precisa haver a conjugação de várias circunstâncias. Nós temos deficiência, por exemplo, no departamento médico. Temos conversado com a diretoria, que se esforça para regularizar essa situação. Precisamos de eficiência na recuperação dos jogadores machucados. São coisas que, numa segunda fase, decidem.
CIDADÃO: Você acredita que a torcida vai apoiar o time no jogo com a Votuporanguense ou teme manifestações hostis, se as coisas não começarem bem?     
CHINA: A gente espera que a torcida compareça em grande número, porque ela é uma motivação a mais para o jogador. Também para a cidade é motivador ver que o estádio está cheio. Espero que a equipe faça uma boa partida, como fez contra o Tupã. Toda vez que nossa equipe tem uma responsabilidade maior, ela cresce. Então, com essa última vitória, creio que acabamos com aquele conceito de que o time só jogava bem fora de casa. Talvez os jogadores não estivessem à vontade com a torcida, até porque ela não conhecia os jogadores. Hoje, se o Domingos entra em campo, o torcedor já sabe que “é aquele que fez o gol de longe”, ou se é o Tiziu, o torcedor fala: “é aquele que perde gols, mas faz muitos, também”. Quer dizer, o torcedor já está criando uma identidade com o elenco do Fefecê. É importante que ela, a torcida, dê seu apoio ao time. Essa partida com o Votuporanguense tem todos os ingredientes para ser um grande jogo.