Está na moda falar sobre a crise dos paradigmas, dos modelos. Essa expressão surgiu no âmbito da Filosofia das ciências, mais especificamente, na epistemologia – teoria do conhecimento científico. A partir desse contexto original foi aplicada em outras áreas de atividade do conhecimento humano, por isso é encontrada nos vários espaços do saber. O que repercute nos vários campos do relacionamento humano é a situação de crise da cultura do ocidente e o que se encontra atrás, a crise da razão moderna. Os desafios do presente momento só serão respondidos – de forma original – aprofundando a questão que existe entre a simbiose – associação – histórica desse modelo civilizatório – a civilização da razão – que na verdade é o paradigma.
Existe uma diferença entre paradigma e mudança de época. Ao fazer essa distinção se permite compreender que o fim de uma época – ou como está em voga, fim de uma era – se da no contexto da crise da razão moderna e ocidental. É necessário buscar nos vários ramos do saber, inclusive a teologia, um suporte para a superação da crise do saber em que submergiu a cultura ocidental. Os diversos ramos do saber foram atingidos por essa crise, manifestando insegurança ou indeterminação. A crise se expressa da seguinte forma: O conhecimento do particular se expande e o homem e a sociedade não sabem o que fazer com essa realidade do conhecimento que está à disposição. O que se depreende dessa realidade é a crise de sentido, que está afetando todos os aspectos da vida humana e social.
As minorias e seus direitos não têm amparo na antiga ordem institucional e jurídica. A valorização subjetiva do que é o bem e a felicidade desemboca na busca de uma ética de consenso, no seu aspecto minimalista. A globalização desencadeou situações novas nos campos econômico, político e social, atingindo também o domínio da religião. O ponto em comum é a consciência que existe um novo no contexto atual em relação às outras épocas. Em razão da novidade existe carência de modelos ou soluções que possam ser respostas aos desafios lançados no presente. Diante dessa realidade que provoca indeterminação e insegurança em razão do novo no momento histórico atual, surge o conceito de “paradigma”, que tem como significado modelo ou exemplo a que se possa referir numa situação determinada.
O que dificulta o uso dos modelos ou exemplos é a complexidade ou complexificação da sociedade atual, que não permite o surgimento de um consenso, sem que haja um mínimo de aceitação ou relativa unanimidade da parte de uma comunidade com o objetivo de buscar as novas soluções para os problemas. Ao se tornar linguagem comum a expressão “novos paradigmas” acaba sendo usada de maneira incorreta, pos se transforma num sinônimo de temas ou problemas novos que as ciências terão que enfrentar. Para as ciências em geral, e para a Teologia em particular, trata-se de lidar com o desafio central, verdadeiro, as vicissitudes, as contingências, as fragilidades da razão moderna. O sentido que deve ser buscado para o termo paradigma deve ser uma visão englobante, no que se refere a razão moderna, forma de entender o ser humano na sua existência concreta, na totalidade de suas dimensões, nas opções que faz buscando valores e fins, o como se sente responsável pela história e na sua relação com o transcendente.
A ciência não pode eludir – evitar, esquivar, passar ao largo com astúcia – as questões centrais da específica situação histórica que está se desenrolando. Os problemas que se apresentam na atualidade, a presença da mulher na sociedade e sua afirmação, a questão da ecologia e os direitos das minorias, serem pensados numa perspectiva diferente do que tem sido pensado pela razão moderna.