O motor ultra-econômico do Deda

20 de Agosto de 2025

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O motor ultra-econômico do Deda
Coisa comum em pescarias é pescador contador de vantagem. Certa vez, chegamos ao Rio São Lourenço, lá no Mato Grosso, e havia outra turma alojada por lá.
 Logo fizemos camaradagem, era um pessoal do interior de São Paulo, não me lembro de que cidade. Gente boa, porém entre eles havia um desses tais sujeitos “gargantas”.
 A conversa começou pelas caminhonetes – a dele era melhor do que as nossas e até do que as dos seus companheiros. Andava mais, era mais econômica e tudo o mais.
 Daí, a prosa derivou para a tralha – e tudo na dele era melhor, mais eficiente e mais econômico.
 Coitado do contador de vantagens. Ele não sabia que, na nossa turma, estava o Deda, o ego mais rápido do Velho Oeste. Aliás, Deda não: “Professor Deda”, como ele se intitula. “Professor do quê?”, arrisquei perguntar certa vez. “De tudo, é óbvio”, respondeu, com cândida humildade.  
 Na primeira pausa que o papudo fez para respirar, Deda tomou a palavra e iniciou sua cantilena. “O senhor tem razão. É vantajoso ter equipamentos bons e econômicos. Eu mesmo tive um motorzinho rabeta de 3,5 hp que era uma maravilha”.
 Os pescadores começaram a se interessar pela prosa, enquanto nós já ríamos por antecipação. Não sabíamos o que sairia dali, mas já imaginávamos. 
 O Deda prosseguiu: “Uma vez, aqui mesmo neste lugar, enchi o tanque e saí com o rabeta para ir até o Coqueiro (o Coqueiro é um ribeirão que deságua no São Lourenço e fica bem distante da fazenda onde estávamos, algo como uma hora de barco para descer e hora e meia para subir). Na volta, quando faltavam uns 500 metros pra chegar aqui, o motor começou a ratear e parou”.
  - O que aconteceu?, perguntou alguém. “Procurei o que poderia haver de errado, porque a gasolina sempre deu para voltar! Foi quando vi que a torneirinha de combustível estava fechada. Foi só abrir que o motor pegou. Fui e voltei só com a gasolina do carburador!”
 O contador de vantagens ficou vermelho e perguntou: “Mas onde está esse motor?” “Ah, não tenho mais”, respondeu o Deda. “Troquei por um apartamento no Guarujá...”