“Mesmo sem verbas, fizemos uma grande festa”, diz Gutinho"

20 de Agosto de 2025

Compartilhe -

“Mesmo sem verbas, fizemos uma grande festa”, diz Gutinho"
 O presidente da comissão organizadora da Expô, GutinhoSisto, volta à coluna de entrevistas para fazer um balanço do que foi a festa deste ano. Feliz pelos resultados – recordes caíram e a festa se pagou – o presidente está inconformado com parte da mídia – um site publicou números do evento que ele considera no mínimo “estranhos” . Ele considerou a experiência desgastante e é reticente quanto a voltar a presidir a festa. Abaixo, a entrevista concedida com exclusividade a CIDADÃO.  
CIDADÃO: Você acha que houve algum erro na organização da 44ª Expô?
GUTINHO: Veja, se a festa começasse hoje, é evidente que nós teríamos uma bagagem melhor. Apanhamos um pouco no começo, porque a Exposição envolve muita gente trabalhando, e cada pessoa tende a pensar na sua parte, não no conjunto da obra. A comissão tem que se desdobrar para achar alternativas que solucionem os problemas. Do barraqueiro ao patrocinador, cada um quer soluções imediatas para os seus problemas. Então, creio que a gente administraria um pouco melhor algumas questões com a experiência acumulada nesses dias. Hoje, eu entendo que talvez pudesse ter mudado os shows das duas sextas-feiras.
CIDADÃO: Por quê?
GUTINHO: Não eram shows errados, mas estavam em datas erradas. Como a Paula Fernandes entrou na grade depois – ela entrou na quarta-feira – atrapalhou a quinta. Então, o certo seria Jorge & Mateus ter ido pra sexta. Mas é duro você fazer uma festa dessas sem dinheiro, as pessoas precisam entender isso. A prefeitura não pode mais canalizar recursos para a festa, existe lei nesse sentido. A prefeitura fez o que pode fazer: deixar o recinto em ordem, pagar o show do aniversário da cidade. O ônus da festa ficou para nós. Claro que sabíamos disso, mas isso não quer dizer que seja justo. É certo a gente entrar numa promoção sabendo que ela custaria, como custou, R$ 2,8 milhões, e sendo obrigadosa arcar com o eventual prejuízo e repassar o eventual lucro?
CIDADÃO: Você assumiu meio em caráter emergencial, a menos de 100 dias do início da festa. Você não é político. Por que aceitou o desafio?
GUTINHO: Aceitei porque, na minha visão, ninguém iria pegar a presidência para montar a festa em tão pouco tempo. O prefeito pediu nossa participação. Eu me reuni com meus amigos – sou o presidente, mas nós trabalhamos em conjunto. Há uma equipe de 28 pessoas onde todos são iguais, a hierarquia é só burocrática. Nós agimos em conjunto e ouvimos todas as opiniões. Antes de fechar com a Paula Fernandes, consultei os companheiros. Agora, depois do grande sucesso da Paula, é fácil falar que deveria contratar, sim, mas naquele momento, ela representava um custo adicional para a festa. Não é fácil tomar essas decisões. É perigoso. Se tivesse chovido num único dia, entre os dias-chaves, teria tudo ido por água abaixo. A população não entende esse risco. Olha, nas condições atuais è difícil arrumar algum candidato a assumir a festa...
CIDADÃO: Houve quem afirmasse que foi uma festa cara. Como você analisa isso?
GUTINHO: É preciso levar em conta que as permanentes foram vendidas, antes da festa, a R$ 70 para onze dias. Não é caro. Em Votuporanga, serão seis dias de festa por R$ 90. Em Jales, eram R$ 25 ou 30 por dia. Ora, se tivesse chovido, ninguém iria querer saber do prejuízo da comissão. Quanto aos preços dos barraqueiros, o povo tem que entender que o comerciante está lá há quinze dias montando sua barraca, preparando seus produtos, dormindo desconfortavelmente. Ele tem que ter lucro! Quem trabalha tem que ter lucro. Não ouvi um único elogio ao fato de termos feito quatro dias gratuitos! Teve um dia que foi pago pela prefeitura, mas os outros três foram pagos pela festa! Ninguém deu valor a esse detalhe.
CIDADÃO: Como você avalia a questão do “lucro estimado” da festa, de que falou matéria de um site?
GUTINHO: A Polícia Militar fez um cálculo, se não me engano de 273 mil pessoas. Só que as nossas catracas contam quem paga para entrar na festa. Crianças abaixo de 12 anos não pagam, e no dia do Luan Santana, por exemplo, tinha mais de 10 mil crianças. A gente tem apenas uma estimativa geral do público,mas temos o total exato de pagantes. Agora, fica essa discussão estranha e suspeita. No passado, nunca se questionou esse fato e nem cálculos foram feitos antes mesmo da prestação de contas. A verdade é que só se fala das coisas negativas.
CIDADÃO: Você trabalhou sem verbas, não é?
GUTINHO: Totalmente sem verbas. Aliás, no balancete não coloquei as despesas das minhas viagens em função da Expo – fui para São Paulo quatro ou cinco vezes, e tinha despesas com hotel, locação. Cada viagem dessas ficava mais de R$ 1 mil, e eu paguei do meu bolso. Também não joguei no balancete minhas despesas com telefone celular nem combustível. Tudo isso, para ter que ouvir essas besteiras que algumas pessoas ficam divulgando. Não sei se vale a pena.
CIDADÃO: Você disse que tinha medo de que ninguém assumisse a presidência da festa. Por que isso está acontecendo com a Expô?
GUTINHO: Em minha opinião, todo presidente que assume a festa de Fernandópolis acaba sendo “obrigado” a fazer ingressos baratos, apresentar os melhores shows do Brasil e ainda obter lucro. Só a cobertura da arena custa R$ 350 mil! Não é pouco. É a metade do que a gente arrecada nos camarotes. Alguém poderia dizer: “Então não põe a cobertura!”.  Ora, depois que se pôs uma vez, tem que pôr sempre. É igual carro: se você teve um com ar condicionado, não se acostuma mais com um modelo sem. Quando acaba a festa, vem uma avalanche de obrigações. Conseguir pagar a festa já é digno de se comemorar. As pessoas precisam entender isso: essa festa custa hoje R$ 2,8 milhões – pelo menos a deste ano custou, não sei as outras. Claro que nós aproveitamos o knowhowacumulado por outros presidentes e comissões, não poderíamos abrir mão dessas experiências. E é fundamental que se frise: de 2005 para cá, esta foi a primeira festa sem dinheiro do Ministério do Turismo. Mesmo assim, fizemos mais dias de graça do que os outros. Além do mais, estão interpretando de forma maldosa minhas palavras. Quando disse que fiz uma festa honesta, queria dizer que fiz um evento democrático, nivelando todas as pessoas. Tem algo mais justo e honesto do que isso?
CIDADÃO: Qual é a avaliação que você fez dos resultados artísticos e do agronegócio?
GUTINHO: Pode perguntar ao pessoal do Sindicato Rural: nunca lhes foi dado o que nós demos. Eles tiveram total autonomia para fazer o que quisessem. Entendo que a Exposição tem que ter esse brilho, mostrar a força do agronegócio. Este ano, tivemos o maior leilão de gado da história da Expô. Parece que não valorizam isso. Por que esses críticos não pegam a festa pra fazer? Fui ao leilão beneficente do Orfanato e dos Sonhadores, olhei as mesas e não vi nenhum deles. Aliás, não havia muita gente, mas o resultado foi financeiramente ótimo para essas entidades.
CIDADÃO: E o resultado financeiro da festa?
GUTINHO: Nossa festa, hoje (Nota da redação: a entrevista foi feita no dia 7) já está com 98% dos compromissos pagos. Isso, com recursos próprios, a festa foi paga pelo povo de Fernandópolis, que comprou ingressos, camarotes. Vamos pagar tudo, não ficaremos devendo um real para quem quer que seja. Acredito que dará inclusive algum lucro. Agora, vem gente especular que a festa deu R$ 5 milhões...Puxa, em 44 anos ela nunca deu mais do que R$ 100 mil de lucro, porque justamente na minha vez ela tem que dar R$ 5 milhões? Parece que a festa está dando mais trabalho agora que terminou, porque a fogueira de vaidades está mais acesa do que nunca. Muitos interesses, aparentemente, estão em jogo.
CIDADÃO: No último dia 1º, você disse que se o formato da festa não for alterado, sua associação não terá interesse de participar das licitações da Expo 2012. Você aindapensa assim?
GUTINHO: Volto a afirmar: desde 94, quando se profissionalizou a festa, o risco assumido pelos presidentes é muito grande. Todos os ex-presidentes desse período não tiveram metade do reconhecimento que mereciam. Ou será que pensam que não teve casos de presidentes que tiveram que por dinheiro do próprio bolso na festa? Dois ou três dias de chuva são caóticos, porque esse tipo de festa não se paga sem a bilheteria. Só que a população imagina que tudo o que ali está é público, que a prefeitura arca com todas as despesas, e não é assim. A prefeitura só faz até onde ela pode, agora, os R$ 2,8 milhões que custou a nossa, nós é que tivemos que correr atrás, senão o prejuízo seria nosso. Você sai muito desgastado de um evento assim. É por isso que eu disse que fica difícil conseguir alguém que assuma a presidência. No último sábado da festa, nós comemoramos quando os números mostraram que conseguiríamos pagar as despesas. Aí, mal ela acaba, vêm essas pessoas com essa matéria, que é um verdadeiro deboche, querendo arrastar nosso nome na lama. Vale a pena? Peça a opinião do Besteti(Nota da Redação: Sebastião Carlos Besteti, tesoureiro da comissão, que acompanhava a entrevista).
BESTETI:Como o “jurássico” da turma, já participei de muitas exposições, e pude perceber que a comissão deste ano, apesar de jovem, trabalhou duro e com seriedade. Tiro o chapéu para essa equipe, eles são muito bons. E, a respeito dos fofoqueiros de plantão que insinuaram esses números sobre o lucro da festa, quero dizer que se trata de gente que nem sabe por onde se começa um evento desse tamanho, nem como se monta uma equipe. Duvido que eles montem uma equipe desse nível. Finalmente, quero dizer que esta é minha última Exposição – a não ser que o Gutinho esteja no comando, porque se ele me convocar, não posso dizer “não”.
CIDADÃO: Quais foram os resultados de que você se orgulha?
GUTINHO: Tirar 95% dos carros do interior do recinto; conseguir o melhor ano para o agronegócio; quebrar o recorde do leilão de gado; bater o recorde de público numa quarta-feira, no show da Paula Fernandes; apresentar uma das melhores de julgamento do Estado; conseguimos, depois de 15 anos, resgatar a exposição de cavalos; rodeio nas onze noites, com três finais; montar um sistema de segurança com vigilância 24 horas, o que derrubou os índices de violência a quase zero. Enfim, vou parar por aqui. Não quero confetes. Dentro de 30 dias apresentaremos o balancete e vocês podem ter certeza de que não ficaremos devendo um real pra ninguém.