José Hamilton Ribeiro foi meu professor de técnica de redação em 1974. Ele é considerado “o maior repórter do século XX” pelos seus próprios colegas, devido à qualidade incomparável de suas matérias e pelo conjunto da obra. No livro que compilou as grandes reportagens da extinta revista Realidade, a maioria é do Zé Hamilton. Ele é paulista de Santa Rosa do Viterbo e fará 76 anos em agosto.
E o Zé era (ainda é) danado pra bolar umas pautas meio doidas. Apaixonado pelo Mato Grosso do Sul, ele inventou de fazer uma caçada de onça no Pantanal. Essa pauta, que ele produziu brilhantemente na Realidade, nos anos 60 ou 70, ele reproduziu para a TV, no Globo Rural, do qual é um dos repórteres.
A produção arrebanhou um grupo de mateiros, fazendeiros e até um zagaieiro (zagaia é uma espécie de lança com a qual se caçavam onças antigamente, coisa de cabra macho. Como esse sistema é muito antigo, é por isso que se diz “do tempo da zagaia”).
Depois de vários dias seguindo rastros no mato, os cachorros acuaram uma onça num galho de árvore. Os participantes da expedição estavam fortemente armados. O zagaieiro já estava velho e aposentado, e por isso a caçada seria pelo sistema de tiro de carabina, mesmo.
A essa altura, o expectador da Rede Globo que assistia ao Globo Rural estava se perguntando como é que a emissora deixava aquele velho maluco promover uma caçada de onça em plena época de preservação ambiental, de ecologia e do “politicamente correto”...
Era justamente isso que o Zé queria. Um dos mateiros chegou a perguntar: “Quem vai dar o tiro fatal?”. Aí o Zé respondeu: “Ninguém, Mariano. Nós só queríamos reproduzir uma caçada de onça como se fazia no passado, para mostrar às novas gerações. Mas essa onça será poupada”.
Aí a edição do programa mostrou um filme real, onde outra onça foi abatida a tiros no galho em que estava, caindo e sendo imediatamente estraçalhada pelos cães.
Corta de volta pra caçada do Zé Hamilton, onde todo mundo – homens e cães – começa a se retirar discretamente do local. Só ficou o cameraman, que, de uma distância segura, documentou a onça descendo da árvore e fugindo rumo à liberdade. Genial!