Quando o amor pela profissão fala mais alto

20 de Agosto de 2025

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Quando o amor pela profissão fala mais alto
Os cabos da Polícia Militar Hamilton Hagard Bernardo, Valdir Antonio Binati e o soldado Marcos Antonio Medalha, de Votuporanga, foram feridos durante um tiroteio no último dia 15, no bairro da Brasilândia em Fernandópolis. Na troca de tiros, um dos foragidos foi alvejado e morreu.
Duas semanas depois, os policiais já apresentam boa recuperação. Binati e Medalha já voltaram ao trabalho. O cabo Hagard deve retornar as atividades daqui alguns meses.
Na manhã da última quarta-feira, 27, Hagard recebeu em sua residência, a visita do colega Binati. Outros dois policiais também estiveram na casa de Hagard para levar a farda e os pertences que ele usava no dia do tiroteio.
Na ocasião, os cabos Hagard e Binati receberam a equipe de CIDADÃO e falaram sobre trabalho, segurança, medo e o prazer de estarem vivos.
CIDADÃO: Como de fato aconteceu a perseguição que resultou em troca de tiros entre a polícia e os foragidos?
HAGARD: Era para ser mais uma abordagem de rotina, tranquila. Nós avistamos dois rapazes em uma moto e ficamos desconfiados que pudesse haver algo de errado pelo modo que eles reagiram quando nos viram. Nessa hora estávamos perto da escola SESI e quando nos aproximamos, eles correram. Pedimos ajuda para outras viaturas e iniciamos a perseguição até a Praça da Brasilândia. Um deles chegou a entrar na igreja, durante uma vigília pascal, e sentou em um dos bancos ao lado de uma senhora. Quando ele saiu da igreja deu de cara comigo, mas ele estava em uma posição privilegiada. Eu não pude atirar ali porque corria o risco de ferir alguém. Foi quando ele atirou.
CIDADÃO: Vocês não estavam com coletes a prova de bala?
HAGARD: Essa é uma pergunta que muitas pessoas fizeram. Nós estávamos sim, o que aconteceu foi que a bala pegou na lateral, fora da proteção. Não tive muita sorte com isso (riso).
CIDADÃO: Você voltou ao trabalho essa semana , ficou algum receio ou medo de voltar às ruas?
BINATI: O receio maior é por parte da família. Minha esposa e meu filho ficaram assustados, mas é a profissão que eu escolhi e falta pouco para me aposentar. Eu voltei a trabalhar, mas por enquanto estou me ocupando com tarefas internas, longe das viaturas, mas pretendo voltar em breve.
CIDADÃO: Você foi atingido na boca. Teve alguma seqüela?
BINATI: Não, está tudo bem agora. Fui socorrido muito rápido também. Lembro-me do forte impacto que senti no rosto e do sangue que não parava de escorrer. Como estava em zona de risco precisei esperar um pouco para sair do local, mas meus companheiros me levaram rapidamente para o hospital.
CIDADÃO: Antes de trabalhar aqui, você trabalhou em São Paulo. Aos 42 anos de idade e depois de ter passado por muitas situações de risco, você imaginou que correria perigo em uma cidade como Fernandópolis?
BINATI: Eu realmente nunca pensei nisso. É claro que já passei por momentos difíceis, em que a gente pensa no que poderia acontecer, mas as coisas acontecem de uma maneira tão rápida, que quando a gente vê já foi. Não dá tempo de correr nem nada. Temos que levar em consideração também que nós pensamos no bem do próximo e quando enfrentamos uma situação como essa, precisamos pensar na segurança de quem está a nossa volta também, como foi o caso das pessoas que estavam na igreja.
CIDADÃO: Você, que trabalhou 18 anos na força tática antes de trabalhar no policiamento, acredita que a cidade esteja mais violenta?
HAGARD: A cidade mudou muito, cresceu, se desenvolveu. É comum aumentar as coisas boas e ruins. Mas, o mais preocupante é o grande consumo e venda de drogas. A droga gera violência, furto, roubo e outras coisas. A quantidade de armas circulando por ai também nos preocupa.
CIDADÃO: Daqui alguns meses você estará pronto para voltar ao trabalho. Quais os planos?
HAGARD: A vida continua. Quero voltar a fazer o mesmo de antes. Minha esposa e minhas filhas estão preocupadas, mas preciso continuar minha vida. Sempre gostei das ruas e pretendo voltar o quanto antes. A população precisa de nós.
CIDADÃO: De tudo que aconteceu, o que mais marcou vocês?
BINATI: O que ficou marcado em mim foi o carinho da comunidade em relação a pessoa e profissão do policial. Isso dá uma força muito grande para nós. Lembro também de uma enfermeira que cuidou de mim enquanto esperava para entrar no centro cirúrgico. Escorria muito sangue da minha boca e ela ficou o tempo todo limpando, com muito cuidado, como se eu fosse uma criança. Naquele momento de dor e preocupação a atenção daquela profissional foi essencial.
HAGARD: Foram quatro dias na UTI e três de internação no quarto. Esse período foi muito delicado. Minha família contou com o apoio de pessoas que nem nos conheciam pessoalmente. Recebemos orações e pensamentos positivos de muita gente. A minha esposa e a do Binati ficaram impressionadas com a quantidade de gente que foi até o hospital para prestar solidariedade. A atitude dessas pessoas vai ficar para sempre em minha memória. Nos contaram também que durante a entrega da homenagem do Policial Padrão, que aconteceu na Câmara dias atrás, fomos lembrados pelos colegas de trabalho.
CIDADÃO: Algum agradecimento especial?
BINATI: Queremos agradecer a nossa família, aos amigos, colegas de trabalho e ao corpo clinico da Santa Casa, ao médico Murad e os outros funcionários. Fomos muito bem atendidos. Quero agradecer ao policial Cássio Henrique Magri, que estava comigo na viatura e ajudou a me socorrer.
HAGARD: Os meus agradecimentos são como os do Binati. Além da minha família e dos amigos, quero agradecer também ao corpo clínico da Santa e os demais funcionários. Aos médicos Mauro e Francisco Albuquerque que salvaram minha vida também agradeço de coração. Não posso me esquecer do policial Edson Docusse, que esteve comigo o tempo todo. É tanta gente envolvida que fico até com receio de esquecer alguém. Quero agradecer também as pessoas que rezaram por nós. Muito Obrigado.